Dia 28 de abril de 2017 é uma data histórica para a classe trabalhadora de Campo Largo. Foi quando mais de duas mil pessoas saíram de suas casas e ocuparam as ruas do centro
Naquele fim de abril o centro de Campo Largo foi tomado por diversas categorias que protestavam contra as reformas do governo Michel Temer. A agenda política brasileira já dava sinais, desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, de que desconstruiria os direitos conquistados com muita luta pela classe trabalhadora.
Sabendo da importância do momento histórico, uma Greve Geral foi convocada pelas organizações sindicais por todo o Brasil. Em Campo Largo, as escolas e o transporte público pararam suas atividades, além da Metalsa, montadora multinacional mexicana instalada na cidade.
Naquele período não havia protocolo de segurança contra a propagação do coronavírus, por isso aproximadamente duas mil pessoas, um recorde para a cidade, puderam se aglomerar na Praça do Museu. Houve distribuição de material informativo, coleta de assinatura contra a reforma da previdência, megafone, caminhão de som, caminhada pelo centro e muito protesto.
No mesmo dia, pelo Brasil, aproximadamente 40 milhões de trabalhadores paralisaram atividades. No Paraná, cerca de 200 mil. A Greve Geral de 2017 é considerada a maior da história, com a unificação de centenas de entidades sindicais e movimentos sociais.
Mas a questão é: após esses anos, com aprovação da Reforma Trabalhista por Temer e da Reforma da Previdência por Bolsonaro, melhorou a vida dos brasileiros?
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campo Largo (Sindimovec), Adriano Carlesso, a situação atual é a maior prova de que os trabalhadores estavam certos na paralização geral: “mesmo os que não entenderam a nossa luta na época, estão sofrendo com as reformas das quais lutávamos contra”.
Carlesso explica que está muito claro que a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência pioraram a vida do brasileiro: “quem ganhava mais, continua a ganhar mais. Quem já ganhava pouco, sequer está conseguindo comprar carne para o churrasco do final da semana”.
Os sindicatos avisaram
As entidades de classe incansavelmente apontaram os itens das reformas que eram prejudiciais à classe trabalhadora. Mesmo assim, a Reforma Trabalhista foi aprovada no governo Michel Temer, em 2017, com pretexto de melhoria nas relações de trabalho, atualização da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e geração de emprego. Foram alterados mais de uma centena de dispositivos da legislação.
De acordo com o advogado e professor de Prática Jurídica Trabalhista e Direito Sindical na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Lunard Nicoladeli, “o que é preciso dizer é que essa reforma retirou o estado das relações de trabalho entre patrão e empregado e afastou os sindicatos da interlocução da classe trabalhadora”.
Nos últimos anos a narrativa de defesa das alterações na legislação trabalhista mostrou-se mentirosa, já que a economia piorou. “A precarização dos postos de trabalho reduziu a renda da famílias brasileiras. Isso impactou e impacta no comércio, que perde força, porque as pessoas não têm recursos e nem salários”, completa Sandro Lunard.
Hoje o país tem mais de 14 milhões de desempregados, crescimento anual de 19,8%, com taxa de informalidade de 39,7%, o que representa 34,118 milhões de trabalhadores, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) em março deste ano.
Reforma da Previdência e pandemia
A Reforma foi sancionada por Bolsonaro em 2019 e mudou, por exemplo, a idade mínima para aposentadoria de mulheres, que passou de 60 para 62 anos, e alterou regras específicas para trabalhadores rurais, policiais e professores.
Mas, trazendo para 2021, uma questão diretamente ligada à Covid-19 é o corte pela metade da pensão por morte, um dos pontos modificados na nova legislação. Todos os órfãos e as viúvas da pandemia são prejudicados pela mudança aprovada pelo Governo Federal.
São quase 400 mil óbitos pelo novo coronavírus no país e a redução na pensão para dependentes, determinada em 50% do valor do benefício ao qual a pessoa falecida teria direito caso se aposentasse, deixa a situação das vítimas da pandemia ainda pior.
Para o presidente do Sindimovec, a Reforma da Previdência acabou com o sonho de uma aposentadoria digna. “O recado que fica é: enquanto povo, precisamos aprender o conceito de luta de classe, nos localizarmos no sistema e entendermos que não há como exigir a queda do preço do litro do leite e continuar votando no dono da vaca”, conclui Adriano Carlesso.
O protesto histórico em Campo Largo foi promovido pelo Sindimovec, Sindicato dos Servidores Públicos da Administração Direta (SSPAD), Sindicato do Magistério Municipal (SMMCL), Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Porcelana (Sinpolocal), Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Cerâmica do Piso de Campo Largo e São Mateus (Sindipiso) e Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cal Cimento e Gesso de Rio Branco do Sul (Simencal).