Foi após uma viagem a Moçambique, na África, que o campo-larguense Ademir Grein Gualberto sentiu sua verdadeira missão na Terra, qual seria seu objetivo de vida
Sentir um “vazio”, a sensação de não se encontrar na vida, de não entender seus propósitos. Não é algo tão incomum e aconteceu com o campo-larguense Ademir Grein Gualberto, o qual teve a felicidade de ainda jovem entender o caminho que tinha que seguir. Foi após uma viagem a Moçambique, na África, que ele sentiu sua verdadeira missão na Terra, qual seria seu objetivo de vida.
Ser voluntário é mais do que dedicar o tempo em prol de uma ação, vai muito além. Envolve uma verdadeira entrega, de amor, de carinho, de respeito pelo próximo. A recompensa é saber que fez a diferença na vida de outras pessoas. “O vazio que eu sentia, sem saber qual era meu papel no mundo, foi preenchido”, declara ele, que já envolveu nos últimos anos cerca de cem pessoas no projeto Moçambique, da ONG que foi um dos fundadores, a Fraternidade da Capulana.
Ademir conta que tem em Moçambique como uma família também, muitos amigos e consegue ter influências positivas para conquistar mudanças que fazem a diferença localmente. Diz se identificar com as pessoas de lá e sente uma diferença ao fazer uma ação social aqui e lá. “Aqui no Brasil tem significado, mas lá você vê que salva uma vida. Aqui melhora condição de alguém temporariamente, mas lá é mais profundo”, explica ele sobre focar o trabalho voluntário na África.
Ao conviver com aquela realidade completamente diferente, em que até mesmo já viu criança pegando rato para comer, começou a ver a vida de uma forma diferente e tem aprendido muito. A primeira ida à África foi por turismo em 2011 e começou a observar a miséria extrema. Quando voltou ao Brasil, sentia que não se encaixava mais no contexto daqui, porque tudo questionava. Até que resolveu deixar tudo e ir atrás de um padre de quem sabia o endereço, para procurar trabalho em um orfanato na África. Pelo caminho foi pegando carona, conseguiu alguns trabalhos e passou a influenciar positivamente a realidade de lá. Diz ser respeitado por ser de fora e até dá palestras.
Lá consegue viver com muito pouco e aqui no Brasil passa esses ensinamentos a seus alunos e crianças que fazem parte do grupo de escoteiros. Estimula com que valorizem tudo o que têm. Comenta que os africanos conhecem muito de política de outros locais, falam também outras línguas, mas infelizmente têm poucas oportunidades. Inicialmente tinha a ideia de tornar o orfanato em que atua em uma referência de qualidade, mas consegue ir além do ensino, que é agregar com um olhar mais humano. De 30 crianças, seis são bancadas por “padrinhos” de Campo Largo e Curitiba, para que consigam estudar em colégio particular de lá.
Agora que vê que as crianças estão com uma realidade melhor, quer ampliar o projeto, atendendo ainda mais a comunidade. Tem realizado bazares para arrecadar fundos para estas ações. Até mesmo seu casamento fez voluntário, em que as pessoas pagavam o custo do jantar e o presente pediu que fosse em dinheiro para usar lá no projeto.
Ganharam lá um terreno para construir uma escola e a sede da ONG Fraternidade da Capulana. O objetivo é fazer casas de superadobe, conforme já relatado em matéria da Folha, as quais irão beneficiar também as famílias vítimas de ciclone. Quem quiser contribuir com essa causa pode entrar em contato pelos telefones (41) 99899-7735 ou 3032-7735.
Segundo dados da última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2018, o voluntariado é praticado por mais de sete milhões de brasileiros, correspondendo a 4,3% da população, com mais de 14 anos. Um número ainda muito pequeno diante de tanta necessidade.