Seja em dia de sol, ou em dia de chuva, moradores têm dificuldade em transitar pela estrada e acumulam prejuízos nos veículos
Uma região povoada por mais de cinco mil habitantes, mas que se sente esquecida, principalmente pela dificuldade do acesso à região. Assim vivem as pessoas que moram na região da Estrada do Cerne e que, há mais de 40 anos, reivindicam uma condição melhor para essa região, começando pela melhoria na estrada. Há pouco mais de três meses, para cobrarem seus direitos, fundaram o Movimento PR-090 Bateias/Abapan, que já conta com o apoio de mais de 2.300 pessoas e 600 veículos adesivados.
“Há muito tempo estamos tentando uma melhoria. Nosso movimento visa reivindicar um trabalho específico do Governo do Estado sobre a Estrada do Cerne. Nós estamos a 30 km de Curitiba e completamente abandonados. Se você transitar hoje entre Bateias e Abapan, verá o estado do abandono que estamos. Esse movimento é apolítico, da população interessada em mudar sua própria realidade e que veio para que possamos fazer primeiramente um trabalho emergencial junto ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-PR), para deixar a estrada transitável, mas no futuro que ela possa entrar em um projeto de asfaltamento, porque vários outros lugares já têm esse projeto, mas a Estrada do Cerne não foi contemplada”, explica Silvio Bertolini, um dos apoiadores do movimento.
Para dar início ao trabalho do movimento, foi criada uma comissão com composição de dez pessoas e um abaixo-assinado, onde foram coletadas 2.360 assinaturas, para dar credibilidade ao trabalho. Também foi lançado um abaixo-assinado online, que abrange as cidades de Campo Largo, Castro, Piraí do Sul, Sengés, Jaguaraíva, pois, segundo Silvio, essa seria uma obra que melhoraria o IDH da região, além de encurtar 52 km de distância para essas cidades chegarem à capital paranaense, fazendo ligação também entre o Norte Velho do estado até o porto de Paranaguá. O grupo está em processo de entrevistas com a Secretaria de Infraestrutura e o DER-PR.
O trecho reivindicado pelo grupo se refere a 56km de estrada não asfaltada, mas que, segundo eles acreditam, com um projeto estrutural seriam 53 km de rodovia asfaltada. A PR-090 tem 420km em toda a sua extensão, e, de acordo com Silvio, somente esse trecho ainda não recebeu asfaltamento.
“Essa estrada, historicamente, foi construída entre 1930 e 1945, sendo inaugurada pelo então governador do Paraná, Bento Munhoz da Rocha. As pontes grandes, de concreto, que ainda existem, foram construídas nesta época e ainda estão em bom estado. Porém, é preciso levar em consideração que à época era para passar caminhões que transportavam seis toneladas de carga, hoje passam caminhões carregando 90 toneladas. Ela foi feita para beneficiar o porto de Paranaguá, que cresceu em torno do ciclo do café, que passava por ali. Depois de 1964 ela foi abandonada porque surgiu a Rodovia do Café. Desde então começou a luta pela valorização desta área”, contextualiza Silvio.
Hoje não há agricultura na região, pois é muito difícil passarem por ali máquinas agrícolas, além de também ser difícil realizar o transporte desses alimentos durante a colheita. A intenção é que, com a melhoria da estrada, a região consiga maior visibilidade e também investimentos na área da agricultura. Na região, Silvio conta que prevalece hoje transporte de madeira.
A estrada dificulta o acesso de caminhão do Corpo de Bombeiros, ambulância, transporte público, transporte escolar, transporte de trabalhadores, além dos carros particulares, entre outros. A cada cinco ou seis meses passa a patrola do DER-PR, mas em poucos dias a estrada volta a ficar complicada.
Buracos eternos
Hoje, a estrada é de terra e bastante estreita por conta da vegetação, que tomou o espaço, e a população precisa conviver com o que eles chamam de “buracos eternos” (sic). “Eu moro na região há 32 anos e em todo esse tempo existem buracos que nunca são fechados. Podem passar máquinas, mas na primeira chuva ele se abre novamente. Temos também as ‘pedras fura-cárter’, que são pedras pontiagudas que não são arrancadas pelas máquinas e danificam muito os carros, inclusive furando pneus”, relata Silvio.
Os “bueiros fantasmas” também chamam atenção, são bueiros de pedra, muito bem feitos, porém sem nenhuma utilidade, segundo ele. Como a estrada acabou baixando o nível de instalação dos mesmos, eles acabaram se tornando “quebra-molas”, pois ficam expostos.
“Temos muitos acidentes, problemas mecânicos com muita frequência na região, justamente por causa desses problemas. É um grande perigo para quem não conhece a região ou precisa passar por ali à noite”, completa.
Em média, se o tempo estiver bom, com sol e a estrada estiver seca, o percurso de 56 km é feito em 1h40 minutos, pois é preciso usar uma velocidade bastante baixa. Se estiver chovendo, esse horário pode dobrar, “isso se não ficar atolado”, conforme conta.
A Folha entrou em contato com o DER-PR, mas até o fechamento desta edição não recebeu uma resposta.