Um dos primeiros aprendizados em Jornalismo é que não cobrimos mortes por suicídio.
Um dos primeiros aprendizados em Jornalismo é que não cobrimos mortes por suicídio. É como um acordo seguido por manuais de redação, onde 100% dos jornais, sejam eles mídia impressa, televisão, rádio e mais recentemente a internet, costumam seguir, e também uma espécie de proteção à sociedade, já que a retratação de um caso de forma “romantizada”, com detalhes, ou espetaculosa, podem levar outras pessoas que tenham doenças mentais, somados a pensamentos suicídas, a também tirarem sua própria vida. Um meio de preservar a família daquela pessoa, sua dor e sua intimidade. Quando existe a necessidade de noticiar um fato deste - extremamente raros - temos praticamente um “protocolo” a ser seguido.
Èmile Durkheim, sociólogo francês, escreveu o livro “O Suicídio - Estudo de sociologia”, no qual traz, de forma resumida, que o suicídio é um ato individual, mas que reflete toda uma sociedade e impacta sobre ela, também referenciando a situação em que noticiar essas situações poderiam desencadear novas.
O mês de setembro é diferente para nós, jornalistas e veículos de comunicação. Nos coloca a necessidade de falarmos sobre um assunto, que por muito tempo, sempre foi tratado como um tabu. Desta vez, nossa obrigação é alertar a população que esse é um problema que atinge milhares de brasileiros e que medidas precisam ser tomadas, principalmente no que diz respeito à prevenção desta incidência tão alta - 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos no mundo, e é a quarta causa de morte entre os jovens no Brasil - e mostrar que há pessoas que estão sempre prontas para ajudar, especialistas, tanto dentro da Saúde Pública como privada. Está certo que não somente no mês de setembro acontecem estes casos, mas continuamente estamos abordando temas de saúde mental, nunca as negligenciamos.
Muitas pessoas podem questionar o porquê então os jornais noticiam casos de homicídio, há programas específicos com essa linha editorial e muitas vezes trazem até mesmo simulações. São coisas diferentes. As matérias policiais servem como uma denúncia, um alerta à população sobre o ambiente social que está inserida, aumentando o cuidado com a própria segurança em relação a outro. O suicídio tem motivos bem mais individuais, barreiras que não podem ser quebradas. O compromisso do profissional de jornalismo é sempre com temas de relevância, o famoso interesse público, que às vezes acaba esbarrando com o interesse do público. Somos porta-vozes da sociedade, e também exercemos a função de criadores de opinião - seja ela favorável ou contrária - e também de educar, alertar o leitor.
Essa é a nossa função frente a uma temática ainda sensível, mas importante e abrangente, sendo a ponte para que quem precise de ajuda a encontre.