Com diagnóstico e tratamentos terapêuticos adequados, a criança autista pode apresentar um ótimo desenvolvimento
No próximo dia 02 de abril será comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, que visa debater na sociedade a importância da inclusão de pessoas autistas e também do reconhecimento de sintomas do transtorno, a fim de conseguir o diagnóstico mais cedo. A data tem tanta importância, que recentemente o mês de abril recebeu a cor azul, que simboliza o autismo e o mês inteiro é dedicado a ele.
A psicóloga Erica Vanessa, especializada em Transtorno do Espectro Autista e com currículo voltado para aprimoramento nesta área, explica que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do desenvolvimento, com causas múltiplas, de origem neurobiológica com início precoce. “Ele afeta significativamente as habilidades sociais e de comunicação, além de comportamentos estereotipados, ou seja repetitivos e com fixações. A maior ocorrência é em indivíduos do sexo masculino, cerca de uma a cada cinco pessoas no espectro são do sexo feminino. São vários os sintomas e nem sempre a criança irá manifestar todo o conjunto.”
Entre os sintomas descritos pela especialista estão a falta do contato visual, não apontar para mostrar o que quer e ao invés disso, levar a mão/braço do adulto para pegar o objeto que deseja, não sorrir ou imitar expressões faciais ou brincadeiras dos pais, enfileirar objetos (em alguns casos ela cita que podem ser usados padrões para isso, como cores ou tamanhos), não responde ao nome ou a chamados, podendo parecer surda em algumas situações; balançam as mãos ou braços em movimentos rápidos e repetidos ou o tronco em movimento ritmado, ausência ou atraso na fala, dificuldade em mudar de rotina e preferir objetos do que a presença de pessoas, parecer não se importar em estar ou não acompanhada, mostrar tendência ao isolamento.
“Ao notar qualquer déficit no desenvolvimento da criança, os pais devem o quanto antes buscar por uma avaliação, seja do neurologista, neuropediatra, pediatra, psicólogo ou neuropsicólogo para que estes profissionais possam auxiliar e, se a criança se enquadrar no transtorno, esta família possa ser logo direcionada para buscar os tratamentos adequados. É importantíssimo que este diagnóstico seja feito o quanto antes para que a família não perca tempo, pois quanto antes os tratamentos começam, melhores os resultados do processo terapêutico”, diz.
Entre os tratamentos existentes destinados às pessoas autistas, os que possuem maior respaldo pela comunidade científica, segundo Erica, é a Análise do Comportamento Aplicada, (do inglês, ABA), que estuda o comportamento humano e como método terapêutico visa buscar o ensino de habilidades sociais, acadêmicas, de comunicação, da vida diária, de afetividade, cognição, psicomotor e interesses, criando estratégias de trabalho que promovam o melhor desenvolvimento e qualidade de vida do indivíduo. Os profissionais de Psicologia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional são indispensáveis para o desenvolvimento saudável das habilidades da criança no TEA.
Diagnóstico na fase adulta?
Isso existe e, segundo a psicóloga, é muito comum. “Muitas pessoas com autismo leve podem passar a vida toda sem saber, já que em algumas situações o próprio individuo aprende a desenvolver métodos para lidar com suas dificuldades. Estas podem ser pessoas qualificadas como tímidas, sistemáticas e até estranhas em algumas situações. São sujeitos com maior dificuldade em se relacionar, em entender sutilezas, piadas, intenções ocultas. Às vezes falam ou se interessam pelos mesmos assuntos, podem mostrar dificuldade em olhar nos olhos em uma conversa. Podem ser pessoas fechadas demais ou ingênuas em certas ocasiões. Seguem padrões e rotinas, se dão bem em empregos mais voltados à lógica e Matemática e em certos casos não buscam tanto por contato social”, explica.
O autista na sociedade
A especialista explica que no autismo a socialização é uma das grandes dificuldades, às vezes por não ter interesse da parte do autista, mas em grande maioria por ele não saber como fazer e não por não querer. Porém, segundo ela, com os treinos e o auxílio da equipe terapêutica, estas crianças podem aprender a desenvolver habilidades de interação, inclusive se mostrando bastante afetuosos.
Segundo ela, existem vários perfis de indivíduos com TEA e isso se mostra na escola também. “Em cada caso precisamos avaliar quais as dificuldades, quais as potencialidades e as melhores estratégias de intervenção. Às vezes não é necessário adaptar o currículo escolar, em outras sim. Em alguns casos necessitamos de um profissional de apoio na escola, em outros casos apenas orientar a equipe escolar já é suficiente. Eu sempre indico a inclusão em escola regular e há casos de excelente adaptação em Campo Largo mesmo”, revela.
Infelizmente, alguns rótulos são colocados nas pessoas que são diagnosticada com TEA. “Para aqueles que não têm em casa alguém no espectro, o respeito e gentileza são primordiais. Eles são indivíduos encantadores, que muitas vezes só precisam de um pouco de paciência, de seus diretos respeitados, de suas vagas em escolas garantidas, de um apoio à mãe com o filho que pode estar em uma crise, ao invés de puni-la com olhares de cobrança e julgamento. Ensinem seus filhos e filhas a respeitar e tratar a todos com educação, sejam autistas ou não”, enfatiza.