Engenheira agrônoma ensina de maneira simples passo a passo de como cultivar uma horta de produtos orgânicos
Seja para manter a alimentação saudável ou para aqueles que querem a praticidade de ter temperos e saladas do quintal direto para a mesa, cultivar uma horta – especialmente de alimentos orgânicos, ou seja, sem agrotóxicos – parece ser um desafio, mas que acaba unindo toda a família.
E para começar 2019 com o pé direito na alimentação saudável, a Folha conversou com a engenheira agrônoma, Débora Gabardo Rigoni, que deu vários conselhos de como ter sucesso no cultivo de alimentos naturais. “Hoje em dia ter uma horta em casa não é apenas uma forma de economizar, é ter facilidade para preparar a refeição com produtos de qualidade e orgânicos. As hortaliças são fontes de vitaminas e sais minerais que ajudam a regular e manter o bom funcionamento do organismo. É aprender a cuidar de plantas, fazer exercício físico e mental, além de proporcionar alegria, prazer e saúde”.
O primeiro passo é escolher um bom lugar para que a horta seja plantada. “O local escolhido deve receber a luz direta do sol por no mínimo cinco horas diárias, não esteja sujeito a encharcamento ou alagamentos e ter água de boa qualidade para irrigação. Se o espaço é limitado, como por exemplo em um apartamento ou em casa com pequenos jardins, a resposta são os cultivos em pequenos espaços ou em vasos. Embora nem todas as plantas possam ser cultivadas assim, muitas podem, e muito bem”.
Entre os exemplos de plantas que podem ser cultivadas em casa, a engenheira traz várias opções, entre elas as folhosas como alface, escarola, rúcula, os temperos como orégano, manjericão, salsinha e cebolinha, frutas como tomate e morangos.
Para quem pretende fazer o plantio em vasos, a engenheira recomenda que é importante levar em consideração o desenvolvimento das plantas, cujo vaso utilizado deve sempre acompanhar o porte das plantas que estão nele.
Preparando a terra, plantando e misturando
Depois de escolhido o lugar que será feito o cultivo, o próximo passo é a avaliação e preparação da terra que irá receber as mudas e as sementes. “A cor pode interferir no crescimento das plantas. Em geral os solos mais escuros têm maior quantidade de matérias orgânicas, o que os deixa mais férteis e com maior quantidade de nutrientes disponíveis para a planta, do que os solos claros que tem ausência ou menor quantidade de matérias orgânicas”, explica.
Para garantir que as plantas recebam todos os nutrientes necessários para crescerem de forma saudável, é importante realizar a preparação desse solo. “O solo deve ser encarado como um organismo vivo, que interage com a vegetação em todas as fases de seu ciclo de vida. Este deve ter características importantes: leveza, boa drenagem e ser rico em matéria orgânica. A mistura básica indicada para o plantio é de uma parte de terra comum de jardim, uma de terra vegetal (rica em matéria orgânica) e uma de areia, as proporções desses componentes variam conforme o tipo de solo que tem em casa. Hoje existe para venda o composto orgânico natural pronto para o plantio”, recomenda.
Débora diz que algumas plantas crescem fortalecidas quando são plantadas juntas, em contra-partida, outras precisam ser mantidas longes uma das outras. “Existem vários fatores para que duas plantas convivam com harmonia. Uma espécie alta, por exemplo, é uma bela companhia para aquela que não pode receber sol direto, pois a protege com sua sombra. Há também os casos dos vegetais que atraem insetos predadores das pragas que afetam outras plantas e, assim, ajudam a evitar ataques. Temperos e hortaliças com as mesmas necessidades de luminosidade, água e época de plantio também podem ser consideradas plantas companheiras”, recomenda.
Entretanto, a engenheira explica que existem plantas que ao serem cultivadas juntas tem seu desenvolvimento prejudicado. “Espécies da mesma família e que competem por nutrientes; ou duas plantas suscetíveis a uma determinada praga: quando uma delas é atacada, acaba favorecendo a infestação da outra”, alerta, por isso vale fazer uma pesquisa ou até mesmo perguntar nas floriculturas quais espécies podem ser cultivadas juntas.
Para quem pretende plantar nessa época, entre os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, a engenheira recomenda alface, berinjela, cebolinha, pepino, pimentão, pimenta, tomate, entre outros e lembra que as plantas devem ser regadas diariamente nas horas mais frescas do dia, de preferência pela manhã, com exceção dias de chuva.
Muda x semente
Há pessoas que estão mais propensas a comprarem mudas prontas, somente replantá-las em sua horta, assim como há aquelas que preferem cultivar desde a semente, o que segundo a engenheira é muito particular. “Lógico que os métodos têm seu lado bom e ruim, a maneira mais efetiva para escolher qual deles escolher é o tempo disponível que você vai ter para o plantio que deseja”, diz.
Caso prefira plantar sementes, Débora recomenda que sejam usadas sementes de qualidade e novas (verificar data de validade), que estejam embaladas em envelopes apropriados, ficando atento a qual época é a ideal para realizar o plantio - inverno e verão. “Durante a germinação e primeiros estágios de desenvolvimento, a planta exige cuidado quase que constante. Controle do recebimento de água e luz, não deixar que a terra seque, cuidar para que ela não fique molhada demais”, alerta.
Já as mudas são formadas em sementeiras, e segundo ela podem ser em canteiros ou em bandejas (isopor ou plástico), que contém um substrato. “Quem faz essa compra da muda em casas agrícolas já prontas para o plantio, deve ficar atento se são mudas de qualidade e de vigor”, orienta.
Controlando as pragas
Para cultivar uma horta de produtos orgânicos, um dos principais fundamentos é não utilizar agrotóxicos. Para que o controle de pragas seja feito da forma mais eficaz possível, há plantas que auxiliam na horta, repelindo os insetos, como alecrim, erva-doce, arruda, citronela, hortelã, manjericão.
“Existe ainda os inseticida caseiros, como a calda de fumo – contra pulgões, lagartas pequenas, ácaros, cochonilhas e mosca branca –, calda de arruda – contra pulgões, lagartas pequenas, ácaros, cochonilhas e mosca branca e percevejos –, calda de alho, pimenta e sabão – repelente de várias pragas – e as cascas de ovos de galinhas – repele que insetos coloquem seus ovos”, finaliza.