Aumento no número de brasileiros que se declaram vegetarianos e veganos chama atenção para o estilo de vida. Nutricionista diz que é possível ser saudável com essa escolha
Levantamento feito neste ano mostrou que 14% da população brasileira se considera vegetariana.
Movidos pela busca da alimentação saudável, da saúde e também do amor aos animais, o número de vegetarianos no Brasil cresceu 75% de 2012 a 2018, algo considerado bastante expressivo. O levantamento foi feito pelo Ibope Inteligência, ainda neste ano, e publicado pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). De acordo com a SVB, o número de vegetarianos no Brasil supera os números da população da Austrália e Nova Zelândia juntos, batendo os 30 milhões.
Muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre o que é ser vegetariano, outros acreditam que seguir essa dieta é perigoso, questionando se o vegetariano está consumindo as vitaminas diárias. A nutricionista Cristiane Bonato explica que é perfeitamente possível ser vegetariano de uma forma saudável. “Primeiramente, devemos deixar claro que o vegetarianismo é uma forma menos radical, que consome alimentos apenas de origem vegetal, onde temos o que seria uma subdivisão, os ovolactovegetarianos, que continuam consumindo derivados de leite, ovos, mel, entre outros alimentos. É perfeitamente possível possuir uma alimentação saudável, fazendo adequação de nutrientes com o que encontramos na natureza. Existem até mesmo atletas que possuem essa ideologia, que não afeta seu rendimento, pois mantêm uma alimentação balanceada”, diz.
Entretanto, a nutricionista ressalta que nem todos os alimentos vegetarianos ou veganos são de fato saudáveis. Hoje há disponível no mercado um grande número de alimentos cárneos e láctos com versões vegetarianas ou veganas, como nuggets, presuntos, salgados em geral, salsichas, sorvetes, entre outros. Um exemplo clássico de comida vegetariana e vegana são as batatas fritas, que não levam produtos de origem animal, mas não são saudáveis.
Segundo Cristiane, isso aponta também para a necessidade do cuidado com a alimentação, mesmo que a pessoa deixe de ter esse tipo de hábito alimentar. “Não é o fato de não comer carne que faz com que a pessoa descuide da alimentação, assim como deixar de consumir que transformará aquela pessoa em saudável. Exames bioquímicos são necessários para avaliar as vitaminas, minerais e outros componentes sanguíneos para todos”, ressalta.
Porém, a nutricionista ressalta que se tornar vegetariano ou vegano pode envolver muitas questões sociais. “Não é todo mundo que aceita essa tomada de decisão como algo positivo ou saudável, o que pode deixar as coisas um pouco difíceis”, diz.
Dieta sem carne
Tudo depende da vontade da pessoa em se tornar vegetariano ou vegano. Essa tomada de decisão pode acontecer aos poucos ou repentinamente, mas é importante buscar ajuda profissional. “O nutricionista é um instrumento de auxílio para o paciente nesse processo. Ele pode desejar amanhã parar de comer carne ou consumir derivados de animais, assim como também pode cortar aos poucos do cardápio. A consulta com o nutricionista se torna importante justamente para garantir que todos os nutrientes estão sendo consumidos, para manter a saúde”, orienta.
Além disso, essa dieta pode ser possível também para crianças. “Existem várias crianças que são vegetarianas. Elas precisam ser acompanhadas pelo médico pediatra ou por um nutricionista e sempre estar atentos aos índices de vitaminas e minerais. A alimentação das crianças, como um todo, deve ser balanceada e muito variada, pois assim ela crescerá com saúde. Tenho paciente vegetariana, com filha pequena vegetariana, que nunca comeu carne e é extremamente saudável”, diz.
Se mudar de ideia
A nutricionista diz que se não se adaptar a essa dieta, o paciente pode voltar a consumir carnes e alimentos derivados de origem animal sem maiores problemas. De acordo com ela, deixar de consumir um alimento não faz com que alguém se torne intolerante ou alérgico a ele.
Muito além da alimentação: veganismo é estilo de vida
Um estilo de vida com propósito bem claro: o respeito a todos os seres vivos. Assim poderia ser definido o estilo de vida de um vegano. Em geral, pessoas que são adeptas a essa filosofia de vida não consomem quaisquer alimentos de origem animal, testados em animais ou que sejam feitos dele (como peles e seda, por exemplo).
De acordo com o SVB, criador do Selo Vegano, pelo menos 480 produtos, de 45 marcas diferentes, já receberam a certificação, em sua maioria ligados ao ramo alimentício, porém com algumas representações em produtos de higiene e cosméticos. A estimativa é que esse mercado cresça até 40% ao ano. No Brasil, estima-se que pelo menos sete milhões de pessoas sejam veganas.