Este foi um Dia do Trabalhador atípico. Poucas comemorações, muitas lágrimas e principalmente divisões entre classes. Um incêndio em um prédio abandonado acabou por marcar a data deste ano e roubou a cena dos jornais do dia. Por outro lado, quando se falava no trabalhador, traziam também protestos em várias capitais.
Ver o presidente da República tão repudiado e vaiado nos faz refletir sobre a grave crise que estamos passando pelo país. O trabalhador brasileiro sofre; e como sofre. Todos os dias, milhões de pessoas acordam muito cedo, pegam o transporte público – que não é de boa qualidade, apertado, com horários complicados, com assédio às mulheres, furtos e tantos outros problemas que vemos todos os dias. Trabalha o dia todo, o mês todo, o ano todo, mas nunca tem dinheiro para nada.
Não possui casa própria, o carro nunca é novo e está sempre financiado – quando é roubado não possui seguro, precisa parcelar tudo em mais de 20 vezes – com juros absurdos. Quando quer fazer uma faculdade ou um curso, precisa deixar o lazer de lado. Se conseguir, entra em uma Federal ou consegue uma bolsa, mas trabalha o dia todo, porque só a mensalidade é gratuita, todo o resto precisa ser pago. Se não é o aluno, é o pai, a mãe, um amigo, um parente... Alguém precisa trabalhar para manter.
Em resumo, não vê os filhos crescerem, pois passam o dia todo na creche ou em programas assistencialistas que são desenvolvidos para que essas crianças, que pouco tempo têm com os seus pais, não se percam no caminho errado.
Tudo é muito difícil para o brasileiro. Um povo que trabalha até o Dia do Trabalhador para pagar impostos – já que são cinco meses inteiros dedicados a isso – precisaria ser tratado com o mínimo de respeito pelos seus governantes.
É plausível entender toda a indignação dos trabalhadores quando um político se coloca em meio ao povo. Eles podem ter sofrido algum dia, mas hoje já não passam mais pelas dificuldades que vemos todos os dias. Andam bem vestidos, consultam com os melhores médicos, não enfrentam o transporte público e seus filhos, netos e bisnetos frequentam boas escolas, com direito a cursos de idiomas e especializações. Percebe a indignação?
O problema é quando essa massa de trabalhadores decide defender uma pessoa, que possui todos esses benefícios, mas ainda se diz “do povo”. Não, nenhum deles é digno da sua preocupação ou protesto, caro trabalhador. Eles tiram sem dó vários direitos seus, quantas verbas já foram parar em seus bolsos, malas, cuecas, meias... Não deixe se iludir por palavras vãs.
Talvez não seja a política que vá mudar o cenário brasileiro, mas sim a atitude dos próprios. A velha frase que a união faz a diferença é muito verdadeira e atual. Enquanto não unir, o verde, o amarelo e todas as outras cores, não é possível montar o “arco-íris”. Não pretendemos viver em um mar de rosas, pois isso é impossível, mas viver com a dignidade que temos direito é o mínimo que podemos exigir.