Segunda-feira às 25 de Novembro de 2024 às 04:54:20
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Um ano da mobilização histórica dos trabalhadores de Campo Largo

Um ano da mobilização histórica dos trabalhadores de Campo Largo

[CONTEÚDO ENVIADO POR SINDIMOVEC]

O dia 28 de abril de 2017 foi histórico para Cam­po Largo. Nesta data, no centro da cidade, metalúrgicos, professores, servidores públicos, advogados, religiosos, estudantes, secundaristas e políticos ocupa­ram as ruas para a livre manifesta­ção. Houve distribuição de material informativo sobre as reformas do governo federal, além de cole­tar assinatura contra a reforma da previdência. A ação reuniu aproxi­madamente duas mil pessoas, um recorde para a cidade.

No mesmo dia, pelo Brasil, aproximadamente 40 milhões de trabalhadores paralisaram as ati­vidades. No Paraná, cerca de 200 mil. Um estudo da Fundação Ge­túlio Vargas concluiu que as men­ções a greve geral superou, nas redes sociais, as manifestações pró-impeachment em 2015 e 2016. O dia da Greve Geral foi considera­do o maior da história. Com a uni­ficação de centenas de entidades sindicais e movimentos sociais, to­dos contrários às propostas de re­forma da Previdência Social (PEC 287) e Trabalhista (PL 6787/2016).

Mas a questão é: após um ano, o que mudou? “De lá pra cá a Reforma Trabalhista foi aprovada. A Reforma da Previdência ainda é uma dúvida. Porém, se fizermos um resgate, o que o movimento sindical previu, aconteceu. Hoje te­mos a precarização do trabalho e a informalidade aumentando”, ex­plica Adriano Carlesso, presidente do Sindimovec.

Brasil pós Reforma Trabalhista

De acordo com o Departa­mento Intersindical de Estatísti­ca e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 2017 os indicadores do mercado de trabalho brasilei­ro apresentaram melhora. Porém, mesmo que a taxa de desocu­pação tenha caído quase 2 pon­tos percentuais, entre o primeiro e o último trimestre, terminou o ano em 11,8%, o que não signifi­ca avanço. Os números apenas re­tornam ao mesmo nível do final de 2016 (12,0%) – dados da Pesqui­sa Nacional por Amostra de Domi­cílios (Pnad Contínua), do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatísti­ca (IBGE).

Mas qual é o custo, na qua­lidade de vida do brasileiro, para que alguns números sejam apre­sentados como “positivos”? A reali­dade é que o número de ocupados passou de 90,3 milhões de traba­lhadores, no final de 2016, para 92,1 milhões, no fim de 2017. Ou seja, 1,8 milhão de pessoas con­seguiram ocupação, aumentando o número de trabalhadores infor­mais ou que trabalham por conta própria (foram criadas 2,6 milhões de vagas informais). Os emprega­dores somaram 263 mil.

De qualquer forma, o que es­tava desenhado e foi insistente­mente avisado pelas entidades de classe é que o emprego formal, aquele trabalho regularizado e am­parado pela legislação trabalhis­ta, teve redução de quase 982 mil ocupações entre o final de 2016 e o ano de 2017. Para o Dieese, a precarização do trabalho aumen­tou em quase todos os segmentos (exceto no setor agrícola, que re­gistrou redução do emprego formal e do informal). Os dados mostram que houve piora na educação, saú­de, serviços sociais e também na administração pública.

Nas áreas onde a formaliza­ção é maior, o número de traba­lhadores informais aumentou em 322 mil pessoas (serviços sociais) e em 191 mil (administração pú­blica), enquanto as ocupações formais tiveram, em ambos os se­tores, redução de 257 mil vagas.

Na indústria, a taxa de forma­lização, que era de 66,7%, no fi­nal de 2016, caiu para 63,6%, com aumento de 473 mil pessoas ocu­padas informalmente ou por conta própria e o fechamento de 20 mil empregos formais. O movimento se repetiu na construção, no co­mércio e em praticamente todos os segmentos de serviços.

Até no setor de informação, comunicação e atividades finan­ceiras, no qual a taxa de formali­zação é relativamente alta (64,2%, no último trimestre de 2017), o nú­mero de trabalhadores informais e por conta própria cresceu mais (quase 328 mil) do que o de for­mais (60 mil pessoas). Já entre os operadores de instalação e máqui­nas, a taxa de formalização caiu de 61,0% para 58,5%, entre o final de 2016 e 2017.

Também em ocupações como vendedores do comércio e mer­cados houve aumento de 1,7 mi­lhão de informais e redução de 333 mil empregados formais. Tam­bém entre os mais qualificados, assim como operários, se am­pliou em 542 mil os postos de tra­balho informais e uma queda de 374 mil formais. “Já é possível afir­mar, de uma maneira geral, que as mudanças na legislação trazidas pela Reforma Trabalhista pioraram as relações de trabalho no país”, completa Carlesso, presidente do Sindimovec.

De lá pra cá

No dia 28 de abril de 2017 fa­zia sol em Campo Largo. Clima pro­pício para uma boa caminhada. E foi assim que aconteceu. Antes, mais de duas mil pessoas fizeram uma breve oração pedindo união entre os trabalhadores, depois per­correram a Rua Domingos Cordei­ro, Rua Centenário, Rua Barão do Rio Branco e retornaram à Praça do Museu. As atividades continua­ram com a abertura do microfone, no caminhão de som, aos cidadãos.

Uma das características do ato foram as diferentes gerações que participaram dos protestos. Havia muitos estudantes, secun­daristas, skatistas, etc. Todos na luta em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras. O importante é que tanto o Sindimovec quanto as outras entidades de classe prova­ram ser agentes transformadores da sociedade.

Atualmente, por exemplo, o Sindicato dos Metalúrgicos de Campo Largo está no Conselho Municipal do Trabalho, assim como no Conselho Estadual do Traba­lho, tendo o dirigente Adriano Car­lesso como presidente, além de participar do Comude (Conse­lho Municipal de Desenvolvimen­to Econômico) e do Conselho da Mulher. Assim como as atividades sindicais clássicas, como a defesa dos trabalhadores metalúrgicos da Caterpillar, Fiat e Metalsa.

Para o Sindimovec, como es­creveu o professor Marcio Poch­mann, do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Traba­lho, da Universidade Estadual de Campinas, “o Brasil segue conde­nado a repetir no presente o que se conheceu somente no passado distante: o atraso do subdesenvol­vimento e a exclusão avassalado­ra de muitos”.

Para finalizar, fica a mensa­gem do Papa Francisco, na “Mis­sa de São Pedro e São Paulo”, no dia 28 de junho de 2017, quando endereçou sua fala aos delegados da Confederação Italiana Sindical dos Trabalhadores (CISL): “não há uma boa sociedade sem um bom sindicato e não há um sindicato bom que não esteja dentro das pe­riferias com objetivo de transfor­mar o modelo econômico”.

Francisco continuou afirman­do que a profecia é a vocação mais verdadeira do sindicato, é a “ex­pressão do perfil profético da so­ciedade”. Ele também alertou que nas sociedades capitalistas avan­çadas, o sindicato corre o risco de perder esta natureza profética e se tornar demasiado semelhante às instituições e aos poderes.

Portanto, se você perguntar onde está o Sindicato dos Meta­lúrgicos de Campo Largo no atual contexto político e econômico bra­sileiro, não esqueça: está na luta, como sempre, por melhoras para a sociedade. “O capitalismo do nos­so tempo não compreende o va­lor do sindicato, porque esqueceu a natureza social da economia. Este é um dos maiores pecados” – Papa Francisco.

Consindi

O protesto no centro de Campo Largo foi promovido pelo Consindi, que é composto por Sin­dimovec, Sindicato dos Servidores Públicos da Administração Direta (SSPAD), Sindicato do Magistério Municipal (SMMCL), Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Por­celana (Sinpolocal), Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Ce­râmica do Piso de Campo Largo e São Mateus (Sindipiso) e Sindica­to dos Trabalhadores nas Indús­trias de Cal Cimento e Gesso de Rio Branco do Sul (Simencal). As entidades são filiadas a Nova Cen­tral Sindical de Trabalhadores do Estado do Paraná (NCST).