Desde 2016, as águas do Rio Cambuí são monitoradas por voluntários campo-larguenses que participam do programa Observando os Rios, promovido pela ONG brasileira SOS Mata Atlântica
Desde 2016, as águas do Rio Cambuí são monitoradas por voluntários campo-larguenses que participam do programa Observando os Rios, promovido pela ONG brasileira SOS Mata Atlântica. As avaliações são enviadas desde o dia 26 de outubro de 2016 e são realizadas todos os meses, sempre em um ponto determinado pelo GPS, inscrito no programa.
A idealizadora do projeto na cidade foi a campo-larguense Carla Santana Coleto, que atua na Fundação Ângelo Cretã. Ela conta que ficou sabendo que haveria implantação do projeto em Curitiba e decidiu entrar em contato para ver se a Região Metropolitana também poderia participar. “Eles aceitaram e eu participei de um curso que visava orientar todo o processo de análise. Eles vieram até Campo Largo para localizar no sistema o ponto em que seriam realizadas as análises. Nós recebemos todos os kits para a realização das análises e é tudo muito didático.”
Em geral, o Rio Cambuí é considerado Regular, mas no mês de março, abril, julho e setembro de 2017, os níveis não foram satisfatórios, recebendo essas águas a classificação de Ruim.
“Tudo é muito relativo e algumas coisas interferem a análise, fatores externos, como a presença do Sol. O interessante é que você começa de fato a perceber o rio, analisa e olha com outros olhos. Sente a diferença em um mínimo de vazamento que possa aparecer”, diz Carla.
A voluntária ressalta ainda que é interessante como o rio vem tomando forma ao longo do seu trajeto. “A nascente dele está localizada na Planta FCA Motores de Campo Largo, dentro da reserva ambiental. A água é limpa e cristalina naquela região. A medida que o rio vem para o Centro, vai ficando sujo, não somente por causa de casas, que muitas vezes possuem o esgoto irregular e soltam no rio, mas também as chuvas levam dejetos, óleo para ele, o que acaba poluindo ainda mais”, explica Carla. “As pedras possuem um papel de extrema importância ao longo dele, justamente para fazer a limpeza. A medida que a água passa, o rio vai se autolimpando, fazendo com que tenhamos diferentes avaliações sobre a mesma água em pontos diferentes”, conclui.
Durante a avaliação são levadas em consideração os seguintes critérios: horário que está sendo feita, condição climática, temperatura do ambiente, temperatura e transparência da água, presença de espumas, lixo flutuante, cheiro, material sedimentável, presença de peixes; larvas e vermes vermelhos, transparentes ou escuros; coliformes totais, oxigênio dissolvido, demanda química de oxigênio, potencial hidrogeniônico, nitrogênio amoniacal e fosfatos.
Todo o processo é feito a partir de comparações feitas da coleta com as placas disponibilizadas pela ONG. O julgamento é bastante didático e as placas acompanham explicações simples, capazes de sanar dúvidas dos voluntários. Após todos esses dados coletados – embora alguns levem alguns dias para terem a análise concluída – é feita uma somatória de pontos, que levarão à nota final.
Escoteiros no comando
A partir deste sábado (24), o Grupo de Escoteiros Eco 189 Paraná tomará a frente do projeto. Uma das líderes do grupo, Luciana Rachinski Reinke, explica que os adultos do grupo passaram por um treinamento feito pela Carla para poderem aprender como é feita a análise. “Nós aprendemos como tudo é feito, o tempo que leva, como funcionam as comparações com as placas e os critérios. Depois desse aprendizado, estamos prontos para ensinar as crianças e adolescentes que irão participar do projeto. Preferimos, por questão de segurança e também por estarem iniciando a disciplina de Química, realizar esse projeto com adolescentes de 13 a 15 anos”, diz.
Luciana ressalta a importância de estudar com as crianças sobre um dos rios mais famosos de Campo Largo. “Nossa sede fica dentro do Parque Cambuí e mudamos para lá o nosso ponto de análise. O trabalho enriquece culturalmente e também faz com que eles realmente observem o rio, principalmente por esse ser um dos principais rios da cidade. Todos precisamos desse exercício, pois temos que enxergar ele com a importância que tem, sem vê-lo como um simples canal”, acrescenta Luciana.
Cheias
Há poucas semanas, o rio sofreu uma cheia e acabou acarretando prejuízos para moradores e empresas próximas. Questionada sobre o que poderia ter causado isso, Carla disse que há algum tempo foi percebido um número maior de sedimentos na água, o que pode ter ocasionado um banco de areia. “Com o banco de areia, o rio fica mais alto. A época do ano também favorece para a cheia, pois há muitas chuvas intensas”, declara.