O “ser mulher” passou por vários significados ao longo dos anos. Em 1942, Mário Lago e Ataulfo Alves lançavam a música “Ai! Que saudades da Amélia”, que trazia a figura de uma mulher típica à epoca: passiva, cuidava do parceiro e atendia às suas expectativas.
Ser Amélia se tornou sinônimo de dedicar sua vida à casa e aos cuidados com os filhos e maridos. Não trabalhava fora e fazia de tudo para agradar.
Existem Amélias, sim, mas que essas sejam mulheres que desejam de fato serem Amélias. Que elas possam escolher levar essa vida, sem ser obrigada ou rotulada por “não ser a mulher de verdade”.
Mulheres de hoje estão traduzidas em muitas letras brasileiras, à exemplo “Maria, Maria”, escrita por Milton Nascimento, ainda em 1978. Nessa letra ele descreve uma mulher que “tem fé na vida”, que não desiste de seus objetivos, que faz valer seus direitos, seus sonhos, suas vontades. Que luta com raça e que é forte. Essa se aproxima ainda mais das mulheres de hoje.
Apesar das muitas leis que protegem as mulheres, infelizmente, os índices de violência contra elas ainda são muito altos. Em 2015, foram registrados um estupro a cada 11 minutos, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O pior é saber que a estimativa é que apenas 10% dos casos sejam relatados e registrados pela Polícia, o que significa que essa estatística seria ainda pior.
Em 2013, 13 mulheres foram mortas em função do seu gênero, o chamado feminicídio. O mais triste é que 30% foram mortas pelos seus parceiros ou ex, de acordo com o Mapa da Violência.
Entre muitas outras músicas que poderiam ser citadas aqui, preferimos colocar a letra de “Maria da Vila Matilde”, composta por Elza Soares em 2015. Poucos sabem, mas a própria cantora foi vítima de violência doméstica, sofrida pelos próprios parceiros com quem se relacionou, algo que ela revelou apenas em entrevista no lançamento da canção.
Na música diz “Cadê meu celular, vou ligar para o 180”. Essa é a atitude que esperamos de qualquer mulher que sofre de violência ou daquelas que sabem que há alguém que sofre.
É preciso, mais do que nunca, união entre as mulheres, que elas aprendam a cuidar delas mesmas e das outras. É preciso sim lutar pela igualdade, pois ela ainda não é praticada de forma integral em todo o país. É preciso dar apoio e parar de culpar as vítimas pelos milhares de crimes que acontecem todos os dias, nas ruas, nos ônibus, nos espaços públicos, nas escolas e universidades, nas empresas, nas repartições públicas...
Assim como dizia a letra escrita por Rita Lee, escrita em 1993, independente de como ela é, qual personalidade ela tem, ou o que ela exerce “toda mulher quer ser amada, toda mulher quer ser feliz” e merece ser respeitada.