Segunda-feira às 25 de Novembro de 2024 às 11:56:28
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Quantos gritos cabem no silêncio?

O bullying pode trazer consequências permanentes na vida de uma pessoa. Além de situações vexatórias, também podem acontecer intimidações e agressões dentro e fora dos colégios. As

Quantos gritos cabem no silêncio?

Na última sexta-feira (11) foi comemorado o Dia do Estudante e no sábado (12) era o Dia Internacional da Juventude. Para conectar esses dois temas, a Folha de Campo Largo decidiu ir até dois colégios em Campo Largo para saber como eles ajudam e combatem um dos maiores dilemas da juventude contemporânea, o bullying.

Um palavra da língua inglesa, mas que traz com a tradução um significado forte, a violência psicológica e física sofridas, independente da idade, mas geralmente ligada às “amizades” do colégio e à adolescência.

CESPSP

O Colégio Estadual São Pedro e São Paulo, localizado no bairro Ferrari, é um grande combatente do bullying e traz diversas atividades lúdicas para ensinar e fazer com que os alunos reflitam sobre essas ações. “Conviver socialmente é um grande desafio para a maioria das pessoas, especialmente em idade escolar. É importante trabalhar a habilidade social dos alunos, ajudá-los a lidar com suas emoções, serem empáticos e aprenderem a entender o lado do outro também”, diz Lorena Maria Laskoski, pedagoga do período da tarde do colégio.

Segundo ela, de maneira geral no Ensino Fundamental, no sexto e sétimo ano há dificuldade dos alunos fazerem amizades e alguns que acabam ficando mais isolados e recebem apelidos vexatórios. No oitavo e nono anos acabam acontecendo casos de agressão e intimidação.

O diretor do colégio, Ramiro Oliveira Junior, contou um pouco sobre os projetos que são feitos no São Pedro e São Paulo adotando a temática. “Como modo de prevenção à prática do bullying nós estamos participando de um projeto na equipe multidisciplinar, promovido pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná (SEED), que consiste em uma tabulação dentro da sala de aula. O próprio aluno diz quem acha que é o personagem agredido, o agressor, a partir de histórias apresentadas para eles. O trabalho é feito em grupos, escolhidos pela professora, para uma maior integração, mesclando-os”, conta.

O projeto que mais chama atenção no colégio está à vista de todos aqueles que entram nesse estabelecimento de ensino. Trata-se das pinturas no chão e nas paredes feitas com as turmas dos oitavos anos, manhã e tarde, ministrados pela professora de Arte Daniela Leandro. “Quem entra e olha se depara com uma ‘cena de crime’. Digo cena de crime pois o bullying é  exatamente isso, um crime, que acaba ajudando a destruir a autoconfiança, autoestima. É algo impactante, mas que ao mesmo tempo leva os alunos a uma reflexão”, completa o diretor.

Os alunos do CESPSP contam ainda com uma caixinha, que fica na secretaria do colégio, para contar por meio de bilhetes casos que eles presenciaram e viveram, para que então os profissionais tomem providências. “O bullying só acontece se há plateia, dificilmente eles fazem isso se ninguém estiver olhando. Para resolver a questão, na maioria das vezes, eu apenas intermedio a conversa entre o aluno agredido e o agressor. Em caso de reincidência, chamo os pais”, conta a pedagoga Lorena.

CESF

Outro colégio que também trabalha no combate ao bullying e adota a caixinha é o Colégio Estadual Sagrada Família, no Centro. A caixa fica exposta na janela da cozinha, bem acessível a todos. Toda semana ou a cada 15 dias, a diretora do colégio, Irmã Lucia Staron, recolhe os bilhetes depositados para ler com atenção. “É um método de confiança. Eles sabem que podem escrever tudo o que veem. Somente eu tenho a chave da caixa e divido histórias preocupantes com as pedagogas do colégio”, diz Irmã Lucia. “Em geral, como providência eu chamo os alunos e converso com eles. Caso a situação se repita, eu os chamo novamente para uma reunião, mas dessa vez acompanhado dos pais, onde se faz uma ata, explicando para os pais quais as implicações dessa atitude”, completa.

O Sagrada Família tem hoje em torno de 2.500 alunos, somando o Anchieta e o CESF. Medidas preventivas são essenciais para um bom andamento da instituição. “Nós tivemos algumas palestras, em que todos os alunos participaram e gostaram bastante. Nessas palestras, antes de sair de férias, foram abordados a importância de combater o bullying, quais os tipos, pois essa exclusão não acontece somente dentro dos muros do colégio, o que fazer se sofrer ou ver alguém sofrendo o bullying”, finaliza a diretora.

Papel da família

Ambos os colégios falaram da importância do papel da família. Cabe a ela também, reconhecer as situações que os filhos ficam apáticos, não querem mais ir para a escola, assustam-se com facilidade e, em casos mais sérios, a automutilação. Com um trabalho entre família e escola os impactos são menores.

Crime

Em 2013, uma comissão aprovou a inclusão do crime de bullying no Código Penal (Decreto-lei 2.848/40). Na descrição o crime consiste em intimidar, constranger, ofender, castigar,  submeter, ridicularizar ou expor alguém, entre pares, a sofrimento físico ou moral, de forma reiterada. O projeto prevê punição também a intimidação que ocorre fora do ambiente escolar. A pena prevista é de detenção de um a três anos e multa. Se o crime ocorrer em ambiente escolar, a pena será aumentada em 50%.