Em canais destinados às crianças, os desenhos mostram atitudes de personagens famosos do mundo infantil que fogem da educação dada pelos pais. Entre as cenas são transmitidos furtos, roubos, até mesmo
Um grande número de “desenhos falsos” vêm sendo disponibilizados na plataforma Youtube com classificação livre. Em canais destinados às crianças, os desenhos mostram atitudes de personagens famosos do mundo infantil que fogem da educação dada pelos pais. Entre as cenas são transmitidos furtos, roubos, até mesmo assédio e cenas de morte, o que podem influenciar a criança ou deixá-la com medo.
Apesar da plataforma disponibilizar uma ferramenta específica para as crianças, o Youtube Kids, por esses desenhos estarem inseridos em canais infantis, muitas vezes eles passam pelo filtro e são reproduzidos normalmente. Entra em questão a importância dos pais estarem sempre atentos aos conteúdos acessados por eles. “Recomendo sempre redobrar a atenção, mesmo quando tudo parecer funcionar bem. Pare um pouco o que está fazendo e observe o desenho, peça para a criança mostrar o que assistiu no dia, pergunte sobre o comportamento dos personagens e reflitam juntos sobre o que é certo e errado”, é o que orienta a psicóloga Priscila Stocco Costa.
Apesar da violência ser um tema amplamente explorado por desenhos animados, desde os mais clássicos, hoje eles podem estar sendo apresentados de forma mais explícita. “Como a criança ainda não possui senso de análise crítica sobre o que assiste, então oriento que o adulto responsável converse com ela sobre os comportamentos dos personagens evitando que sejam reproduzidos os maus comportamentos.”
A psicóloga explica que os desenhos animados fazem parte da infância de qualquer criança e que prendem a atenção delas por serem atrativos e interativos devido às suas cores, sons e estilo dos personagens, por exemplo. Priscila segue dizendo que esses desenhos também fazem parte da construção da relação da criança com o mundo, pois ela ainda está desenvolvendo sua maneira de pensar e agir a partir de suas “fantasias”, que podem ser criadas a partir deste mundo lúdico.
Não é possível restringir o acesso total aos desenhos animados das crianças, mas em contrapartida é viável que os pais mantenham-se atentos ao que eles assistem, uma vez que as crianças devem ser monitoradas. A psicóloga reforça que esse limite imposto pelos pais, como os desenhos permitidos, devem ser parte das regras da casa.
Jogos violentos
Jogos violentos estão sempre sendo citados como precursores de atitudes violentas e inesperadas, como atentados de pessoas armadas que vão aos colégios, salas de cinema e boates para matar sem um motivo aparente. Mas, é preciso entender que é necessário avaliar todo o contexto em que o indivíduo vive, para discernir esta influência, conforme explica Priscila.
“Muitas pessoas possuem uma predisposição genética para desenvolver problemas emocionais ou comportamentais, mas é apenas uma probabilidade. Caso exista alta predisposição para agressividade, por exemplo, o comportamento poderá ser instigado ou reforçado por jogos agressivos, principalmente se o ambiente familiar também estiver inserido neste mesmo contexto. Se a atividade limita a rotina ou reforça um isolamento, se torna uma fuga dos problemas que não estão sendo tratados”, reforça.
Segundo a psicóloga não há uma idade específica apropriada para apresentar o universo digital às crianças, entretanto, é importante os pais terem atenção aos jogos e atividades disponibilizadas para elas. “É necessário ter muita cautela ao apresentar dispositivos eletrônicos, principalmente para crianças que já tenham coordenação motora para manusear um controle de vídeo-game. É necessário escolher jogos proporcionais à cada faixa etária e impor limite de tempo. Melhor ainda é a família jogar junto e com regras claras. Assim poderá se tornar uma atividade divertida e interativa”, descreve.
Spinner
Com a promessa de aliviar a ansiedade e diminuir o uso dos aparelhos celulares por parte das crianças, adolescentes e jovens, o brinquedo spinner acabou se tornando uma febre há pouco mais de dois meses. Entretanto, é importante saber que não há pesquisas que comprovem a sua eficácia ou então os efeitos fisiológicos causados.
“Toda brincadeira precisa de um objetivo traçado e deve-se tomar cuidado para não substituir uma dependência por outra. Um especialista pode ajudar a encontrar uma forma de inserir o brinquedo como ferramenta que pode contribuir para a concentração e sentimento de bem-estar. O que tenho percebido em alguns pacientes que usam spinner é uma influência para a competitividade e a socialização”, alerta Priscila.
Ao ar livre
Embora o universo digital seja muito atraente para crianças e adultos, para a psicóloga, nada substitui as atividades em família, que permitam uma maior integração e diálogo entre seus membros. “A criança não pode ser dependente do mundo digital. Sugiro que os pais levem a sério o planejamento de uma rotina saudável para os filhos e que fiquem atentos se nele estão inclusas atividades como esporte que gostem, atividades com a família, tempo ocioso, tempo adequado para o sono, regras e limites para suas demais ocupações”, finaliza.