Paciente acordado, com o crânio aberto, enquanto está sendo realizada uma cirurgia bastante complexa para retirada de tumor no cérebro. Essa pode se tornar uma realidade no Hospital do Rocio para reduzir os riscos da cirurgia em
Paciente acordado, com o crânio aberto, enquanto está sendo realizada uma cirurgia bastante complexa para retirada de tumor no cérebro. Essa pode se tornar uma realidade no Hospital do Rocio para reduzir os riscos da cirurgia em casos de tumores que estão em áreas que controlam a fala, a visão e movimentos do corpo. Quem auxilia o paciente a ter menos sequelas é o próprio paciente.
Hoje o Rocio é referência no Brasil em Neurocirurgia, com atendimento de mais de 1.500 pacientes ao mês. O neurocirurgião Dr. Samir Ale Bark, chefe do setor no Hospital do Rocio, quer implantar técnicas avançadas de Medicina, novos tratamentos de saúde que agregam no resultado para o paciente. Para isso, convidou o neurocirurgião Dr. Gustavo Rassier Isolan para dar uma palestra à equipe do Rocio na segunda-feira (08) e possivelmente para em breve treinar os médicos desta especialidade. A mesma aula foi dada em New Orleans, nos Estados Unidos, e será ministrada na Turquia.
No Brasil, apenas quatro ou cinco médicos operam em regiões nobres na cabeça com o paciente acordado. Na rede pública de saúde, segundo o Dr. Samir, ainda não há conhecimento de algum profissional com esta conduta.
Dr. Gustavo possui 15 anos de experiência e explanou sua visão pessoal de como deve ser a formação do neurocirurgião. Ele é professor permanente da pós-graduação em Cirurgia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e diretor científico do Centro Avançado de Neurologia e Neurolocirurgia – Ceanne. O especialista frisou na importância do conhecimento profundo de anatomia e de saber quando usar a tecnologia como monitorização neurofisiológica intraoperatória a favor. Mostrou a necessidade de estrutura do Hospital e do trabalho multidisciplinar.
Segundo ele, em cirurgia no cérebro um cirurgião trabalha com poucos milímetros entre os nervos e artérias e se não conhece a anatomia acaba causando lesão no paciente. “Podemos ter diferentes abordagens e muitas vezes nem tirar todo o tumor e sim dar condições de vida para o paciente”, explica Dr. Gustavo. Para conseguir bons resultados, estimula o treinamento em laboratório, estudo de casos, abordagens cirúrgicas e técnicas de imagem.
A palestra marcou o primeiro dia da 3ª Semana de Enfermagem (de 08 a 12 de maio) e 2ª Semana Interna de Prevenção de Acidente de Trabalho, com coordenação da chefe de Enfermagem, Lídia Maria Ferreira.
Além da anatomia
Somente o conhecimento da anatomia não é suficiente, é preciso ir além, usando a Neurofisiologia Intraoperatória com o paciente acordado. De 900 pacientes operados com tumor no cérebro pelo Dr. Gustavo e equipe, 45 estavam acordados na cirurgia. Historicamente, na literatura neurocirúrgica, pacientes ficam com sequelas após cirurgias de tumor, mas nas realizadas com essa nova conduta nenhum sofreu algum déficit.
Ele comenta que, além destes números, também foram contraindicadas muitas cirurgias. “O mais importante é não agregar déficit para o paciente e ele sair sem sequela”, ressalta. Um dos exemplos é uma jovem de apenas 24 anos e que sofria com crises epiléticas, mas que com essa cirurgia conseguiu se curar e ficou sem nenhuma sequela, saiu conversando normalmente.
Essa nova conduta é vista como uma arte na Neurocirurgia moderna. É o paciente que diz onde o médico está. O especialista explica que o paciente precisa falar durante a cirurgia e é estimulado a dizer cores, objetos, fazer cálculos, entre outros. Se o paciente para de falar já se sabe que não pode prosseguir, pois começaria a mexer em uma área que deixaria sequelas no paciente. O procedimento é feito também com estímulo elétrico até nas fibras mais profundas, para que se consiga ressecar todo o tumor.