Quando ouço ou leio, sobre que nós professores somos vadios, percebo que neste país há um tremendo desrespeito com a nossa profissão. Por isso não podemos nos calar diante de tanto descaso.
Quando ouço ou leio, sobre que nós professores somos vadios, percebo que neste país há um tremendo desrespeito com a nossa profissão. Por isso não podemos nos calar diante de tanto descaso.
O que me impressiona, é que essas acusações ditas por centenas de pessoas, faz com que eu imagine que elas não têm consideração nem por aqueles professores que tiveram em toda sua vida escolar. Triste esquecimento. Até no meu grupo de watts li uma mensagem sobre nós professores dizendo que ensinamos inutilidades, que somos solidários ao Lula (eu, por exemplo, não sou), que ensinamos os nossos alunos a serem malandros quando paralisamos e ganhamos o dia. Porém, entre as muitas coisas que essas pessoas não sabem está que, ao fazer uma paralisação, ou você repõe ou é descontado, então acho que nunca ganhei dia na malandragem. Temos que cumprir calendário letivo, isto é lei. Nunca recebi vale refeição, sempre paguei meu cafezinho, nunca tive combustível disponível para abastecer meu carro, ao contrário de alguns cargos públicos que têm essas vantagens.
O que percebo é que os líderes desse país estão tentando calar a nossa voz. Com tantos discursos cheios de floreios, estão sim incutindo na opinião pública que nós somos uma cambada de vadios. Isso me revolta, porque trabalhei por mais de trinta anos em escola pública e sempre levei meu trabalho muito a sério. Sempre pontual, sem faltas e com a máxima dedicação, dobrando o padrão para que o salário fosse mais compensador, assim sacrificando a convivência familiar. Levei muito trabalho para casa, mesmo recebendo aquele salário inicial que muitos dos meus colegas diziam que era uma merreca e que os fizeram mudar de profissão. Eles foram ser advogados, administradores, contabilistas, enfim profissões que achavam serem mais tentadoras financeiramente. Ouvi e continuo ouvindo certas expressões como: “Ah, não quero ser professor: “ganha muito pouco” ou “Deus me livre ser professor, aguentar só desaforos”. Outros preferem que seus filhos façam qualquer outro curso superior, menos os de licenciatura, porque sabem que nesta profissão o retorno financeiro não é imediato. Se compararmos um salário inicial de um vereador que ultrapassa os R$ 6.000,00, sem contar com as verbas adicionais, com o salário inicial de um professor municipal que é de R$ 1.300,00 e de um professor estadual que é de R$ 1.500,00 e pensarmos no tanto de esforço envolvido, eu me pergunto: será que sou eu a preguiçosa? Quando o governo estadual anuncia que nossos salários estão bem acima da média nacional, finge esquecer que esse salário só chegou a esse patamar depois de mais de 15 anos de trabalho e de muitos cursos para atingi-lo. E aí nem cito um salário líquido de um deputado estadual que provavelmente ultrapassa umas 25 vezes mais que o do professor.
Quando saímos às ruas, é para conscientizar a sociedade, para que preste atenção a como estamos sendo tratados. Mostrar isso à população incomoda muita gente, por isso o desrespeito a uma profissão tão honrada. E esse desrespeito está se tornando mais e mais comum. Isso se justifica, porque nós nos tornamos uma ameaça: cabeças pensantes, ideologias, etc. Fico indignada quando algumas pessoas acham que somos petistas ou de esquerda. Eu não sou, não tenho partido, sou uma cidadã brasileira. Não sou da esquerda. Odeio as pessoas que usaram da ingenuidade e confiança dos milhares de votos dos brasileiros para levarem vantagens financeiras, deixando de aplicarem em infraestrutura, em segurança, saúde e educação e que, com a maior cara de pau, se dão de inocentes, transformando esse país numa verdadeira bagunça, uma terra sem lei. Imaginem vocês se os bilhões de dólares roubados dos nossos cofres públicos fossem aplicados nesses três setores primordiais para nossa população? Eu provavelmente nunca teria saído às ruas fazer qualquer protesto. Teria a escola dos meus sonhos – meus alunos sabem quais são. Também não sou da direita, porque sabemos que as maracutaias vêm de todos os lados. Quando fico sabendo pela imprensa que os acordos políticos continuam existindo para se manterem no poder e não em benefício do cidadão, não tenho mais a esperança de um país melhor e lamento não mais por mim, que já vivi mais de meio século, mas pelo futuro dos jovens e das crianças.
Não acredito que isso vai mudar, já estamos acostumados com o discurso. O discurso é sempre lindo, mas a realidade é bem diferente. Milhões de reais para fundo partidário retirados dos nossos cofres públicos! Imaginem quantas creches ou quaisquer outras benfeitorias poderiam beneficiar nossa população com esse dinheiro? Salários fora da nossa realidade para quem trabalhou em campanha eleitoral e hoje tem um cargo indicado por político, isso a nível municipal, estadual e federal. E aí dizem que nós professores somos vadios e reclamamos de barriga cheia. Estudei muito, fiz concurso e batalhei muitos anos para atingir, hoje, um salário digno, que não é nem a metade de um salário inicial de um diretor ou secretário municipal. Imaginem se fôssemos citar a nível estadual e federal? E aí eu e meus colegas de profissão somos tratados com tamanha desvalorização... Justamente isso é o que os nossos governantes querem. E, pelo que as pessoas têm dito, parecem que estão atingindo seus objetivos. Sobra mais para pagarem seus amigos de campanha. Tudo em nome da “democracia”.
Professora Sandra Campesi Bertoja. Professora de Geografia da Secretaria Estadual de Educação.