Quinta-feira às 21 de Novembro de 2024 às 10:37:26
Saúde

Aranhas-marrons saem dos esconderijos no Verão e é preciso ter cuidado com acidentes

Quanto mais cedo procurar um serviço médico, melhor. É importante realizar o acompanhamento a cada 12 horas nas primeiras 36 horas para avaliação do quadro e instituição do tratamento.

Aranhas-marrons saem dos esconderijos no Verão e é preciso ter cuidado com acidentes

No Paraná, segundo a Secretaria de Saúde do Estado, são registrados em média, todos os anos, 4,2 mil casos de picadas de aranhas-marrons. A maioria dos casos acontece nesta época do ano em que elas saem dos seus esconderijos em busca de alimento.

Com medidas aproximadas de quatro centímetros de diâmetro quando adultas, as aranhas-marrons, ou Loxosceles sp, para a Biologia não são consideradas agressivas e têm preferência por lugares quentes, escuros e secos. “No ambiente externo, vivem debaixo de cascas de árvores, em folhas secas, em buracos, em telhas e tijolos empilhados, muros velhos, paredes de galinheiro e outros. Dentro das casas, ficam atrás de quadros, armários, entre livros, caixas de papelão e outros materiais que não são muito remexidos. Importante lembrar que materiais de construção (como tijolos, telhas, lajotas, azulejos, madeiras) guardados também servem de abrigo para as aranhas”, conforme  traz o informativo do Governo do Paraná sobre as aranhas-marrons.

De acordo com o médico Carlos Hamilton Aguiar Rocha, Diretor Técnico da Secretaria Municipal de Saúde, a picada da aranha marrom é praticamente indolor, mas que deve ser acompanhada de perto pelos profissionais da saúde, em especial casos de crianças menores de 06 anos e idosos. “Quanto mais cedo procurar um serviço médico, melhor. É importante realizar o acompanhamento a cada 12 horas nas primeiras 36 horas para avaliação do quadro e instituição do tratamento.”

Uma leitora da Folha de Campo Largo enviou um relato do acidente com aranha-marrom que ela sofreu nesta semana. “No dia 12 fui picada por uma aranha marrom na cama enquanto dormia. Só percebi quando acordei no outro dia. Não fui imediatamente buscar o médico porque não aparecia sinal algum e deduzi que havia matado ela antes que me picasse. Porém, no outro dia apareceu o sinal das picadas nas duas pernas na altura do joelho, sendo que no centro uma mancha preta e em volta uma mancha bem avermelhada. Fui consultar e descobri que não deveria ter esperado e sim ter ido imediatamente porque o veneno dela já estava circulando no meu organismo, ainda mais que sou alérgica”, conta.

Os sintomas podem ser variados e progressivos. “Ao longo de algumas horas surge no local da picada com características de uma picada de inseto comum como inchaço, calor, queimação, vermelhidão, endurado, bolha serosa, ou lesões características, como equimoses (manchas arroxeadas), bolhas hemorrágicas, áreas pálidas com necrose tecidual. Alterações do estado geral são sinais de gravidade e podem somar-se ao quadro de pele, como edema de mãos e pés, tontura, mal-estar geral, palidez, náusea, vômito, febre, rash cutâneo, boca seca, oligúria (pouca urina), entre outros”, diz o médico.

Ainda segundo o Dr. Carlos Rocha, o veneno da aranha marrom, além dos efeitos locais que podem variar de leve inflamação a formas mais graves com necrose tecidual, ou a morte do tecido, danos efeitos sistêmicos e evoluir para anemia aguda, insuficiência renal, hemorragias e pode ser fatal. “O tratamento depende do estadiamento clínico, podendo ser usado quando indicados, analgésicos comuns, anti-histamínicos, corticoterapia e a soroterapia, este último como tratamento específico nos casos moderados a graves. A maioria das lesões cicatrizam em cinco a dez dias. Entretanto, quando há necrose tecidual, com formação de escara e evoluindo para úlceras, pode levar de um a dois meses para a cicatrização”, diz.

No caso da leitora, já havia passado muito tempo e já não adiantava mais tomar o soro. “A médica iniciou o tratamento imediatamente com injeção  e comprimidos antibióticos (corticoide), antialérgicos e anti-inflamatórios. O tratamento vai durar 15 dias e estou tomando cinco tipos de medicamentos diferentes. Faço compressas com gelo no local para aliviar a dor e diminuir o inchaço. Também passo pomada a base de corticoide para evitar que a ferida aumente, sei que ela pode necrosar por falta de cuidado. Além disso, tenho que ficar alerta com mudanças na urina, pois caso apresente traços de sangue, devo correr para o hospital”, relata.

Evite os acidentes
A recomendação dos profissionais, tanto de saúde como biólogos, é sempre sacudir roupas, calçados, cobertores e lençóis antes do uso, e também limitar o acesso do aracnídeo ao que a Secretaria de Saúde do Estado chama de “4 As”: “para se estabelecer em um ambiente, são necessárias algumas condições ideais, que são o acesso – por onde o animal entrou no ambiente (frestas, vãos, buracos), o abrigo – locais onde as aranhas podem se esconder (atrás de móveis, quadros, entulhos), o alimento – principalmente insetos - e por último a água”.

Tratamentos caseiros podem piorar a situação
A automedicação e também o uso de remédios caseiros, além de retardar a procura por orientação médica, pode alterar a  aparência da lesão, sua  evolução natural e levar a erro do diagnóstico. “Mais frequentemente podem também contribuir para complicações locais como infecções secundárias.  Vale ressaltar que a soroterapia, quando indicada, deve ser introduzida nas primeiras 24 horas e após 36 horas da picada  sua eficácia diminui. Portanto, qualquer retardo em buscar ajuda profissional deve ser evitada”, finaliza o médico.