O setor é considerado um sucesso e está autorizado a fazer transplante de fígado, rins, pâncreas-rim e pâncreas isolado.
30/11/2016
Inaugurada oficialmente no dia 1º de novembro de 2015, com a realização de um transplante de fígado, o setor de Transplantes de Órgãos do Hospital do Rocio comemorou seu primeiro ano com sucesso nas cirurgias realizadas. Com um total de 75 transplantes realizados, com sobrevida de 88%, o setor é considerado um sucesso.
O enfermeiro coordenador dos Transplantes, Antoninho Pereira, que trabalha há 17 anos na área e está desde a primeira cirurgia realizada no setor, explica que o hospital está autorizado a fazer transplante de fígado, rins, pâncreas-rim e pâncreas isolado. “As causa que levam ao transplante são várias. Para fígado envolvem problemas como vírus de hepatite, cirroses, nos rins incluem insuficiência renal crônica e indicação clínica, e no pâncreas englobam problemas variados.”
Ele explica que são feitos procedimentos como teste de compatibilidade com a família, no caso de necessidade de transplantar rim, mas isso depende da gravidade do caso. Se não for encontrado nenhum familiar compatível, o paciente vai para a fila de espera e aguarda até encontrar um doador falecido. “O hospital também é credenciado para fazer a captação dos órgãos e é responsável também pela notificação do órgão. A equipe do hospital onde há um receptor compatível é quem faz a coleta”, explica. “O nosso próximo objetivo é fazer o credenciamento para realizar transplantes de coração no setor”, conta o enfermeiro.
No total, já foram realizados 75 transplantes, no qual a maioria foi de rim, com 40 cirurgias, seguido de 30 de fígado. A sobrevida desses transplantes é de 88%, um valor considerado alto. Tanto o paciente como a sua família recebem dos profissionais do setor orientações sobre os cuidados com a alimentação e o comportamento pós-transplante. Os pacientes, logo que recebem alta, fazem consultas periódicas, com retorno inicial de uma vez por semana, evolui para 15 dias, depois para 30, seis meses até chegar às consultas anuais.
A equipe de profissionais que atua no setor é especializada e autorizada a trabalhar com transplantes. Entre as exigências feitas está a necessidade de, no mínimo, ter dois cirurgiões, um patologista e uma equipe multiprofissional, na qual engloba enfermerios, nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos.
Outra exigência atendida pelo hospital é o ambiente para o paciente pós-transplante. “É exigido um cuidado muito grande com o paciente que faz um transplante. Ele precisa ficar em ambiente isolado, longe de pessoas que estejam infectadas por algum tipo de vírus, bactéria ou fungo, e a equipe que vai dar a assistência deve usar luvas, máscaras e avental, para evitar ao máximo a possibilidade de ocorrer contaminação”, esclarece Antoninho.
O maior obstáculo
Segundo Antoninho, o maior obstáculo ainda é a liberação da doação de órgãos por parte da família. “Nós temos uma equipe preparada para dar a notícia da morte cerebral e também falar sobre a possiblidade de doar os órgãos. Quando a família continua resistindo, chamamos uma pessoa do grupo responsável pela conscientização da doação de órgãos. Ainda assim, há famílias que resistem à doação, o que acaba prejudicando outras pessoas que estão na fila de espera e também os próprios órgãos, que têm um tempo para que sejam transplantados”, explica.
Caso raro
O cabeleireiro Macário Aristimunna Nogueira, de 52 anos, passou por um transplante de fígado em junho deste ano, após retirar um câncer na calda do pâncreas, que acabou comprometendo o fígado. “Eu sou único no mundo. Eu sou o único que fez um transplante de fígado e um retransplante em menos de 24 horas e está vivo, segundo os médicos. Depois que eu entrei na fila de espera foram dois meses esperando até que o doador apareceu. Eu fiz a primeira cirurgia de madrugada e quando amanheceu apresentou problema, então eles tiraram aquele e colocaram outro no lugar. O primeiro era de um rapaz, com aproximadamente 19 anos, e o outro de uma mulher de 32 anos. É o que eu sei sobre eles”, conta.
Macário, que é de Jardins, no Mato Grosso do Sul, veio para cá porque só existem dois hospitais que podem realizar a cirurgia de transplante de fígado no país, um em São Paulo e outro aqui, no Paraná. “Fiz toda a cirurgia pelo SUS, e as consultas continuam a ser custeadas pelo governo. Aconteceu tudo perfeitamente. Fiquei 15 dias na UTI, sendo 12 deles em coma, quando fui para o quarto, em pouco tempo já fui liberado para ir embora. Ainda tenho algumas restrições, principalmente quanto à atividade física, mas estou levando uma vida normal”, afirma.
Seu Macário agora faz consultas mensais, que serão gradativas até passar para acompanhamento anual. Um dos grandes desejos dele é conhecer as famílias dos seus doadores, como uma forma de agradecer por ter autorizado a doação dos órgãos, porém essa hipótese é descartada pelo enfermeiro Antoninho. “Não podemos realizar esses encontros mais, pois tudo é feito de maneira extremamente sigilosa e também serve como proteção para o receptor, pois pode acontecer cobranças por parte da família do doador”, finaliza.