Testosterona: modismo, necessidade ou risco à saúde? Endocrinologista explica quando é indicado o uso e os problemas que podem surgir caso usada indevidamente.
03/08/2015
ESPECIAL DIA DOS PAIS
Estamos vivendo hoje um modismo relacionado ao uso de testosterona. Nos últimos anos, a prescrição médica e o uso dessa substância cresceu em mais de dez vezes (sem contar o uso “ilegal”). Mas até aonde isso se refere a uma necessidade real do organismo ou um problema no qual as consequências vão aparecer daqui alguns anos?
Para entender melhor essa questão, vamos primeiro esclarecer o que é a testosterona:
A testosterona é um hormônio produzido pelo organismo de homens (testículos) e mulheres (ovários e suprarrenais), em quantidades muito superiores nos homens, que têm funções globais, como aumento de massa muscular, diminuição de tecido adiposo, aumento de bem-estar, prevenção de osteoporose, aumento da libido e mudanças no comportamento. Com relação a este último, sua ação varia desde sentimentos de competitividade e sexualidade até agressividade e raiva. Porém, em doses elevadas na corrente sanguínea, promove uma série de riscos à saúde (os quais serão comentados abaixo) e mudanças importantes no comportamento.
A internet, com inúmeras fontes de informação questionáveis, está repleta de exaltações aos benefícios da reposição de testosterona. Seja como elixir da juventude, melhora da virilidade, da libido, da força, da estética, da disposição, entre tantos outros. Juntamente com isso, a indústria farmacêutica investe muito na divulgação de produtos contendo testosterona e na estimulação ao seu uso, por motivos obviamente financeiros.
É sabido que os níveis de testosterona diminuem com a idade, e isso é fisiológico, ou seja, natural. Com isso, algumas alterações físicas e comportamentais causadas por essa diminuição leva à diminuição da massa muscular, acúmulo de gordura corporal, fadiga, depressão e piora na esfera sexual. Como esses sintomas são indistinguíveis do próprio envelhecimento, é lógico pensar que podemos corrigi-lo por meio da administração de testosterona, assim como na reposição de hormônios femininos na menopausa.
Mas e os riscos?
Até o momento, se conhece bem alguns riscos relacionados ao uso em excesso deste hormônio, mas muitos ainda irão surgir com o tempo, já que estamos vivendo hoje uma “epidemia” de prescrição e uso. Dentre os riscos reais, podemos enumerar: problemas cardiovasculares (AVC, Infarto), ginecomastia (desenvolvimento de mamas em homens), acne, redução do colesterol HDL (o colesterol “bom”), estímulo ao crescimento de câncer de próstata e infertilidade.
Para homens de meia idade com sintomas psicológicos (falta de energia e tristeza), físicos (cansaço, fadiga e dificuldade de praticar exercícios) e piora na função sexual (falta de libido e disfunção erétil), é razoável que se dose os níveis de testosterona total. Na maioria dos laboratórios, os níveis normais variam de 300 ng/dL a 900 ng/dL. O diagnóstico não deve ser baseado num único exame e a interpretação dos resultados deve ser feita por médico especializado. Valores pouco abaixo do normal podem estar relacionados ao estresse, obesidade e até algumas doenças como o Diabetes. Portanto, antes de repor o hormônio é interessante fazer algumas modificações no estilo de vida, pois apenas com isso já podemos ter os níveis retornando aos valores normais.
Reposição fica limitada aos homens com diagnóstico laboratorial preciso e sinais e sintomas claros de baixa testosterona. Nesse caso, as doses devem ser baixas o suficiente para manter as concentrações na faixa intermediária da normalidade. Por outro lado, não se deve utilizar o hormônio se o motivo da indicação for por pura estética, medidas antienvelhecimento, melhora no rendimento esportivo ou melhora de libido e disposição. E não se engane com as fórmulas em gel ou bastão, pois o efeito final é o mesmo. A única diferença é que se repõe, nos casos indicados, de forma mais fisiológica com uso diário em doses menores. Questione o seu médico do porquê está sendo indicada a reposição e nunca use sem o consentimento dele. Os riscos relacionados a isso com certeza irão extrapolar os benefícios e, independente do culpado, quem sofrerá as consequências é o paciente.
Artigo assinado pelo Endocrinologista Dr. André Fuck CRM-PR 24137 | RQE 19155
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