31/05/2015
Todos os anos, no período de chuvas intensas, geralmente nos meses de janeiro/fevereiro e maio/junho, ocorrem alagamentos em pontos específicos da cidade. Os bairros mais atingidos são, sempre, os mesmos, regiões baixas do Itaqui e as margens do Rio Verde, na região do Cercadinho. Vez por outra há notícias de alagamento em outros bairros, Ferraria, Botiatuva, mas em geral, é o Itaqui e Cercadinho.
Na manhã da última quarta-feira (27), moradores da região do Itaboa, Itaqui e Cercadinho, procuraram a Reportagem da Folha para reclamar, mais uma vez, que estavam ilhados. A situação, uma repetição da mesma matéria feita todos os anos, duas, três vezes por ano. Um ou outro morador mais novo, mais revoltado, mas em geral são os mesmos, que não têm outra opção, senão resignar-se, esperar as águas baixarem, limpar tudo, trocar os móveis estragados e rezar para não chover mais.
Há alguns casos em que o morador está há mais de dez, 15 anos, e parece até já ter se acostumado com o problema, sempre na esperança de que esta será a última vez. Não será. Se chover novamente ele vai, invariavelmente, ter prejuízos, por vários motivos, e um deles é morar em área sujeita a alagamentos.
O problema tem, sim, uma determinante central, a falta de condições de moradia para a população mais carente. A questão não é do governo municipal, nem esse governante tem condições de, sozinho, dar uma solução. O problema é muito maior, mais abrangente. O cidadão brasileiro, que paga impostos exorbitantes e que deveria, no mínimo, ter direito à moradia digna, é empurrado para as periferias das cidades, para os fundos de vale, os leitos secundários dos rios. O resultado é, sempre, o mesmo, e quem acaba pagando é quem menos deve.
O morador desses locais se sente até mesmo culpado por estar vivendo naquele lugar. Como se ele estivesse infringindo alguma lei, alguma norma. Ele sabe que será vítima, novamente, da próxima chuva, mas fazer o quê? “Não tenho para onde ir, moço”, é um desabafo sempre ouvido das vítimas, nesses lugares, nestas ocasiões. A esfera municipal muito pouco pode fazer, para minimizar o problema, além do desassoreamento dos rios, que infelizmente, além de lama e terra, recebe toda a carga de poluentes da cidade, inclusive móveis e eletrodomésticos velhos, descartados às margens dos rios e muitas vezes até no leito, além de pneus e outros materiais descartados nas ruas e encostas. Muita coisa precisa mudar para que a população tenha uma melhor qualidade de vida.