01/03/2015
Estamos em uma carreta bitrem em alta velocidade, cujo motorista não sabe o que fazer para evitar o acidente, na curva que se aproxima. A carga-viva, que o pesado veículo transporta, parece pressentir que algo está errado, que o pior está para acontecer. Agitada, balança de um lado para o outro, tornando ainda mais difícil para o caminhoneiro manter a direção certa.
Os quilômetros vão deslizando rapidamente pelo retrovisor; os rodados espremidos sobre o asfalto, a carreta atravessa chuva leve, tempestade e seca, a cada trecho da estrada. Venta muito e o calor pega pesado, de vez em quando; fica insuportável respirar dentro da cabine.
Tudo parece ter dado errado nesta viagem, que deveria ser tranquila, a volta do primeiro frete, numa distância de quatro mil quilômetros. Vale lembrar que o caminhoneiro poderia ter deixado a viagem de volta para outro, mais experiente, que havia proposto uma revisão completa no veículo, antes de pegar a estrada. Mas não, não iria largar o poder de dirigir aquele gigante pelo estradão.
Para ele, parecia uma questão de vida ou morte, continuar ao volante. Tanto fez, até mentiu, e mentiu muito, para não perder o direito, o prazer de pegar a estrada mais uma vez, e agora está vendo a possibilidade do desastre iminente. Pensava que seria fácil, já conhecia a estrada. Era voltar, entregar a carga e ir para casa, o dever cumprido.
Ganhou o direito de dirigir, mas logo nos primeiros quilômetros da viagem, os erros acumulados nos quatro mil quilômetros de ida começaram a cobrar o seu preço. O combustível subiu, o dinheiro não deu nem para encher o tanque, talvez não dê para chegar ao fim da viagem. Também deverá faltar dinheiro para a alimentação, durante o percurso. A falta de manutenção, os gastos desnecessários e sem controle na primeira viagem, começaram a cobrar o preço. A carreta parece se desfazer, enquanto avança metro a metro.
Na estrada, bloqueios de caminhoneiros em protesto contra o aumento do Diesel, dos pedágios e o não reajuste dos valores do frete, dificultam ainda mais a viagem. Mas com a força do pesado veículo, ele conseguiu passar. “Talvez consiga chegar, mesmo com as dificuldades”, pensa enquanto luta para manter o caminhão na estrada. A curva fechada no horizonte, parece desafiadora. Não há muito o que fazer, senão cruzar os dedos e rezar para que a curva não seja o ponto final da viagem.