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Saúde

Doenças?

Comportamentos comuns muitas vezes são encarados como doença e, com diagnóstico errado, o tratamento pode causar dependência.

Doenças?

16/01/2015

Por Danielli Artigas de Oliveira

A maneira como vivemos, em um mundo onde tudo acontece cada vez mais rápido, as pessoas também buscam soluções mais rápidas para os problemas. Se está triste, pensa que está depressiva; se a internet está lenta, já se estressa; se precisa esperar mais de uma semana por um serviço, já fica impaciente; além de inúmeras situações, principalmente em relacionamentos, em que não se consegue aceitar uma negação. As pessoas têm, cada vez mais, dificuldade de suportar o sofrimento.
O psiquiatra Alessandro Rodrigo Mendes Marques explica que se for definido como doença tudo o que gera sofrimento, a sensibilidade é muito grande e 50% dos brasileiros seriam doentes. Se aplicar esse critério de forma mais restrita, em que o sofrimento atrapalha os relacionamentos na vida pessoal e profissional, já diminui para 30% e assim sucessivamente.  “O critério para doença mental tem que ser restrito para iniciar uso de medicação”, afirma Dr. Alessandro.
Há casos de pacientes que chegam ao consultório dele tomando quatro ou cinco remédios, sem necessidade. Dos casos que atende, cerca de 20 a 30% não precisam usar medicação, apenas são tratados com terapia. “Paciente precisa entender que em muitos casos precisa de terapia e não de medicação, a qual em alguns casos não é efetiva”.

Depressão
Segundo ele, a depressão, por exemplo, deve ser considerada doença quando extrapola o sofrimento, faz com que a pessoa mude o comportamento e hábitos, perde peso. “Ultrapassa os limites da tristeza e afeta o ciclo biológico. A pessoa sente culpa por tudo, não consegue se concentrar”, completa. Mas há muitos casos de banalização da depressão, em que a pessoa está passando por um momento difícil e já se diz depressiva, não encara isso como algo temporário e quer iniciar o uso de medicação. Além disso, casos leves de depressão e ansiedade podem ser tratados apenas com terapia.
O psiquiatra exemplifica uma situação em que uma mulher procura o acompanhamento médico dizendo estar depressiva porque está tendo problemas com o marido em casa. A dificuldade no relacionamento não precisa estar relacionada com a depressão, pode simplesmente o casal não estar se entendendo e o uso de medicação controlada não é o que irá resolver.

Rivotril
No Brasil são vendidas cerca de 20 milhões de caixas de clonazepam, o popular Rivotril, por ano. É questionável se realmente tudo isso é necessário, se diagnosticadas as doenças corretamente. Dr. Alessandro diz que já suspendeu o uso desse medicamento para muitos pacientes, que estavam tomando sem precisar ou de forma errada. Segundo ele, muitos médicos receitam esse medicamento de forma errada, sem conhecer realmente o problema do paciente. Mas, se usado para quem realmente precisa, da maneira correta, o medicamento apresenta excelentes resultados.
O psiquiatra explica que o médico precisa acompanhar o paciente e que o uso de Rivotril causa Síndrome de Abstinência se não souber parar de tomar, aos poucos, e isso faz com que a pessoa fique dependente do remédio.

Déficit de atenção
Há casos em que consideram a criança com déficit de atenção, mas na verdade ela pode ter dificuldade na aprendizagem sem que isso seja uma doença; ou a criança pode ser ansiosa e então precisará de outro tratamento; ou até mesmo pode apresentar outra doença ou problema dentro de sala de aula. Criança com déficit de atenção não consegue focar em nada, é muito agitada e começa a ter prejuízo social e escolar muito grande.
 “Não é um diagnóstico fácil de fazer. Se comprovado o déficit o tratamento é bastante efetivo e percebido muito rápido. Mas se diagnosticado errado, pode usar uma medicação desnecessária e ainda retardar o tratamento correto”, afirma, explicando que o diagnóstico deve ser baseado em uma avaliação neuropsicológica feita por psicólogo, bem detalhada, que tem duração de cinco horas aproximadamente.

Doenças
“Todos nós temos características que poderiam se encaixar em uma doença, mas que são características de personalidade, as quais precisam ser muito intensas para trazer prejuízos para a vida, incomodar as pessoas ao redor e serem analisada por um especialista”, diz Dr. Alessandro.
Ele comenta que uma pessoa pode ser muito desconfiada, mas não quer dizer que é paranoica. Pode ser muito organizada e metódica, mas não é por isso que precisa ser diagnosticada com Transtorno Obsessivo Compulsivo, a não ser que essas manias sejam além do limite. Ele cita o exemplo de um paciente que tinha comportamentos obsessivos que prejudicavam a sua vida, para tudo era muito metódico, até mesmo ter que enxaguar o corpo por três vezes no banho – nestes casos o tratamento pode ser lento, mas muda a vida da pessoa.
Dr. Alessandro atende na Clínica Tadeu Resnauer. Informações pelo telefone 3032-4012.

 

Foto: Divulgação