14/06/2014
Campo Largo estava bem no meio do caminho, do “rio” que “desabou” do céu, no último final de semana, e atingiu metade do Estado do Paraná. Precipitação com esta intensidade não era verificada na região desde 1983, ano das últimas grandes enchentes. Nesses 31 anos, a cada temporada de chuvas, Campo Largo sempre teve um ou outro ano com maior intensidade de precipitação, alguns estragos em locais mais baixos, quedas de árvores, desabamento de encostas e outros problemas, mas a intensidade das chuvas desse início de mês foi catastrófica.
Em dois dias de chuvas, sexta-feira e sábado, choveu mais do que era esperado para o mês inteiro. Os índices apontam para mais de 300 milímetros a precipitação acumulada em poucas horas. O fenômeno fez com que os rios transbordassem e inundassem dezenas de residências em vários bairros. Os moradores contam histórias de surpresa, como o metalúrgico que saiu de casa às sete da manhã, para trabalhar, e, por volta das dez horas, recebeu um telefonema da esposa, informando que a casa estava sendo alagada. Ele correu e, ao chegar, encontrou a mulher e os filhos na quadra de cima. Da casa ele conseguiu ver apenas o telhado.
Situações como esta se repetiram principalmente no Itaqui, Ferraria, Cercadinho e Bateias, nas partes mais baixas, nas margens dos rios. São áreas conhecidas como de risco, não só pela Defesa Civil, mas também pelos moradores. Esses locais jamais deveriam ser habitados. Quando muito poderiam ser utilizados como áreas de lazer, para a população, com campos de futebol e quadras esportivas que, alagadas, trariam poucos prejuízos e poderiam ser reparadas sem grandes custos. A ocupação dessas áreas com residências, por sua vez, expõe a população aos riscos de prejuízos materiais e até de morte, como foi registrado em outros municípios.
É extremamente arriscado morar nas margens dos rios, todos sabem. Mas parece existir uma certa tolerância da população e do poder público, com o problema, principalmente porque às vezes passam-se alguns anos até que ocorra uma grande enchente. Aí todo mundo se lembra que é preciso fazer alguma coisa. É preciso, sim, mas esta necessidade não pode ser esquecida amanhã, quando o Sol voltar a brilhar. Campo Largo, como os demais municípios atingidos pelas chuvas da última semana, e os outros municípios onde não choveu tanto, têm que tomar uma posição intransigente, de retirada das famílais das áreas de risco. São centenas, milhares, mas é preciso que se dê início a um processo de realocação destas famílias, para que amanhã não tenhamos que lamentar uma tragédia.