17/05/2014
Expulso do campo, por falta de uma política séria, dos governos, o trabalhador migrou para as cidades, em busca de um lugar ao Sol. Isso lá pelos idos de 1970, quando as máquinas começaram a dominar os campos e já não havia mais lugar para a mão-de-obra quase escrava, que impulsionava a economia rural. Pobres, a maioria analfabeta, homens, mulheres e crianças acabaram nas periferias de grandes cidades, sobrevivendo às custas da ajuda de igrejas e outras entidades sociais. Dos governos, muito pouco, quase nada. Uma cesta-básica aqui, outra alí, vieram os bolsa, isso, bolsa aquilo, o Bolsa Escola e, por fim, o Bolsa Família.
Os pobres marginalizados da sociedade, continuaram tentando um lugar na sociedade capitalista. Porque, mesmo marginalizados, tinham a esperança de melhores dias. O tempo passou, gerações e gerações continuaram em busca desse novo amanhã, que não chega nunca para quem não consegue estudar, ter uma profissão. Alguns conseguiram, mas a grande maioria continua, até hoje, dependendo da ajuda dos governos, das igrejas e das entidades sociais.
Campo Largo é um município onde a existência de favelas é muito pequena, se comparada a outras cidades da Região Metropolitana de Curitiba. Mas tem. Dezenas de famílias sobrevivem nas vielas de estradas e em fundos de vale, sem as mínimas condições de habitação, saúde e saneamento. Sem recursos, jamais conseguirão sair desse circulo vicioso, sem ajuda. Um grupo dessas pessoas, há mais de 20 anos se espreme em toscas cabanas, na margem da PR-423, entre as duas pistas da BR-277, no Itaqui. São famílias que se adaptaram às condições ruins de habitação, ausência de saneamento básico. Água, só de mina; luz, só de “gato”. Muita gente sabe, mas nada faz, são como os “dalits” da India, invisíveis, intocáveis. Pois bem, eles existem, são cidadãos e precisam do apoio da sociedade e dos governos. Hoje, isolados devido às obras do contorno de Campo Largo, mudança da pista da BR-277, vivem situação de penúria, um verdadeiro inferno. São cerca de 75 famílias, mais de 300 pessoas que não têm quem as defenda, não têm para onde ir. A comunidade, conhecida como Vila Tripa, é carente de tudo. A área foi ocupada porque, “sem dono”, ninguém reivindicou, na época, e eles foram ficando. Afinal morar perto da cidade, sem pagar aluguel, é a única opção para aquelas pessoas, de continuar vivendo, ou melhor, sobrevivendo. Mas as obras do Contorno, as ”descobriram”, e Campo Largo precisa acolhê-los, como cidadãos. Falta apenas quem decida que eles têm esse direito e que nós, como sociedade, temos esse dever.