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Opinião

A Esperança é mesmo a última que morre

A Esperança é mesmo a última que morre

21/09/2013

O brasileiro ainda tinha esperança. Mesmo os mais incrédulos, lá no fundo do coração, ainda guardavam uma ínfima porção dela. A chama tênue que quase não se enxergava mais, jogada em um canto escuro, coberta por resíduos de quase tudo, estava lá, esquecida, abandonada. Desnutrida, já quase sem cor, sem coragem de falar, de se mexer, de se alimentar, passava os dias pensando na possibilidade, ainda que remota, de um dia voltar a viver e encher o coração dos brasileiros. Pensava, sempre, que ela deveria ser a última a morrer: “Se eu morrer, será o fim, não haverá mais esperança”.

Ela vivia só de lembranças dos áureos tempos de Ouro, do Café, da Cana de Açúcar, da industrialização, da construção de Brasília, das grandes obras da época militar, estradas, ferrovias, hidrelétricas, do orgulho das conquistas esportivas, do petróleo, da guerra contra a inflação, do Plano Real, do Bolsa Escola do FHC que virou Bolsa Família no Lulismo. Lembrava do “90 milhões em ação”, hoje somos mais de 200 milhões.

Ela, a Esperança, cresceu na esperança de, com um governo popular, tudo mudaria para melhor, haveria mais justiça, mais escolas, tratariam melhor a saúde do povo, haveria mais segurança, o Brasil passaria a ser um País líder no mundo. Pensava nessas e em tantas outras obras e ações que nos levariam a ser melhor porque, afinal, o Brasil era o País do Futuro. Ela nem sabia, mas o País tinha petróleo em grande quantidade, na camada Pré-Sal, tinha tudo para dar certo.

O futuro chegou e a Esperança descobriu que, infelizmente, o futuro está ainda muito distante, e parece cada vez mais inalcançável. Que ainda não temos condições de nos orgulharmos das nossas estradas, porque não as temos; dos nossos portos, porque eles estão obsoletos; dos nossos aeroportos, porque eles estão incapacitados para operar; dos nossos políticos, porque eles encontraram um jeitinho de nos enganar.

Viu, a Esperança, os corruputos tomarem conta do País, ficarem ricos da noite para o dia, ditarem regras e impedirem a justiça de ser feita. Ela sentiu vergonha de ser brasileira, mas ficou calada, apesar de sofrer todo o tipo de humilhação.

Nos últimos dias da sua vida, a Esperança ainda tentou uma reação, reunindo as últimas forças que ainda restavam. Foi para as ruas, gritou o mais forte que pode, mas não adiantou. Já não tinha mais armas para lutar, forças para reagir e continuar. Mas ela ainda tinha uma última esperança que, na quarta-feira (18), deu o seu último suspiro, e morreu.