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Saúde

Pesquisa questiona exigência de jejum para medir colesterol

Pesquisa questiona exigência de jejum para medir colesterol

23/11/2012

A exigência de doze horas de jejum antes de um exame de colesterol é desnecessária para a maioria da população, segundo um novo estudo publicado ontem na revista “Archives of Internal Medicine”. O longo período sem comer é recomendado para evitar que os alimentos ingeridos pouco antes do teste possam influenciar os resultados, especialmente os dos triglicérides, cujos valores também podem mudar após a ingestão de álcool.

Essa medida das gorduras no sangue é usada pela maioria dos laboratórios para calcular o nível de LDL (colesterol “ruim”) na circulação.

Mas a equipe da Universidade de Calgary, no Canadá, ao analisar dados de 210 mil pessoas submetidas a testes de colesterol após períodos em jejum (de 1 a 16 horas), mostrou que a discrepância causada pela alimentação é pequena demais para manter a velha recomendação.
Para as medidas de colesterol total e colesterol “bom” (HDL), a diferença máxima de resultados foi de 2%. Para LDL, até 10% e, para triglicérides, até 20%.

Segundo o cardiologista Antonio Gabriele Laurinavicius, da unidade de check-up do hospital Albert Einstein, a diferença pequena entre os resultados se deve ao fato de que a maior parte do colesterol é produzida pelo próprio corpo. “O fígado fabrica boa parte do colesterol, e essa produção é constante, pouco muda com a alimentação.” Os triglicérides mudam mais porque são absorvidos no intestino após as refeições.

Outro ponto a favor de abolir o jejum é a praticidade para o paciente, que muitas vezes acaba adiando os testes quando não consegue cumprir as exigências. Para os autores do estudo, acabar com esse problema seria muito melhor do que ter a medida mais precisa possível do colesterol feita em jejum.
“O jejum cria dificuldades logísticas. A maior parte das coletas é feita de manhã, o que superlota os laboratórios, cria transtornos nos horários de trabalho dos pacientes e tudo isso gera custos, horas perdidas em filas”, afirma Laurinavicius. De acordo com Raul Santos, chefe da unidade de lípides do Incor (Instituto do Coração do HC da USP), especialistas americanos defendem o uso do colesterol total e do HDL (que não variam segundo o jejum) para medir o risco cardíaco, dispensando os triglicérides.
“O uso do ‘não HDL’ [colesterol total subtraído do colesterol ‘bom’] é mais barato, e as medidas são precisas.” Para o patologista Nairo Sumita, assessor médico do Grupo Fleury de laboratórios, ainda faltam evidências científicas que justifiquem uma mudança quanto ao jejum agora, mas a tendência é reduzir as exigências para aumentar a adesão dos pacientes aos testes.

Laurinavicius, do Einstein, lembra que, com mais pesquisas, os requisitos podem mudar, mas quem faz teste de glicemia junto com o colesterol vai continuar a ter de seguir o período de jejum.