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Saúde

Hantavirose

05/06/2012

Estudo avalia comportamento da hantavirose no Sul do Paraná

Hantavirose

05/06/2012

Fonte:AEN-PR

A preservação ambiental é um importante método preventivo contra a hantavirose, doença transmitida por roedores e que causa uma síndrome pulmonar em humanos. Esta é uma das conclusões de um estudo feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Secretaria da Saúde, no município de General Carneiro, região Sul do Paraná. O município passou por uma epidemia de hantavirose entre os anos de 1999 e 2006, totalizando 24 casos e oito mortes. Porém, após ações estratégicas da Secretaria da Saúde, a epidemia foi controlada e desde então o município não registra mais casos.

A região Sul do Estado tem características que contribuem para a reprodução de roedores silvestres, hospedeiros dos Hantavírus. O desequilíbrio ecológico, gerado após o desmatamento da mata virgem e o cultivo de pinus na região, beneficiou a reprodução desses animais. Sem predadores naturais e com alimento em abundância, a população de roedores cresceu, o que também aumentou o risco de contaminação dos trabalhadores madeireiros.

O estudo foi feito durante dois anos (dez/2009 a dez/2011), em seis áreas distintas do município. A divisão ocorreu a partir do grau de degradação da fauna e flora da região. Segundo o pesquisador da Fiocruz Bernardo Teixeira, as espécies predominantes variam de acordo com o micro-habitat. “Nem todas as espécies são portadoras de genótipos virais prejudiciais aos humanos. Por isso, o estudo identificou as espécies e os tipos de vírus mais frequentes em cada região e período do ano”, disse.

Cada variação genótipa do vírus tem nível de periculosidade específico. Acreditava-se que cada tipo do Hantavírus estava necessariamente associado a uma determinada espécie de roedor. Contudo, análises preliminares dos animais capturados mostram que a regra não se aplica à fauna paranaense. “No mesmo município pode haver vários tipos de vírus, o que explica a diferença de quadros clínicos de pacientes diagnosticados com Hantavírus”, disse Teixeira.

Os pesquisadores também avaliaram o comportamento dos animais e a prevalência de infecção em relação a cada período do ano. Constatou-se que machos apresentam maior índice de infecção e a principal forma de transmissão ocorre pela mordida entre os animais. Dos 1.202 roedores capturados, 26 estavam infectados.

O relatório final do estudo ainda não foi concluído, mas já aponta que a preservação ambiental é um importante método preventivo contra a hantavirose. O estudo também indica que a literatura científica sobre o comportamento da doença e dos hospedeiros ainda é bastante superficial e a hantavirose necessita de estudos mais específicos no campo da biologia e epidemiologia.

DOENÇA – A hantavirose é transmitida através da inalação de secreções de animais infectados. No início, a doença apresenta sintomas leves como febre, mialgias, cefaléia, dor lombar, dor abdominal e outros sintomas gastrointestinais. Quando a doença afeta o sistema cardiopulmonar, a pessoa pode se queixar de dispnéia, taquipnéia, taquicardia, tosse seca, hipotensão, edema pulmonar, e pode sofrer de insuficiência respiratória aguda e choque circulatório.

A sintomatologia é parecida com a da dengue, mas o tratamento é completamente diferente. “A hidratação que é recomendada para os casos de dengue pode agravar o quadro clínico de pacientes com hantavirose”, disse o superintendente de Vigilância em Saúde, Sezifredo Paz. Durante todo o ano, a secretaria capacita profissionais das unidades básicas de saúde para estar atentos a qualquer caso suspeito da doença.

A infecção ocorre geralmente na área rural e está associada a condições precárias de moradia, alimentação e trabalho, encontradas no campo. Os roedores são atraídos por restos de alimentos e outros resíduos orgânicos, por isso é preciso ter um cuidado maior com a higiene de currais, silos, paióis e outros locais de risco.

AÇÕES – Em 2002, após edição do Código Estadual de Saúde, a secretaria intensificou a fiscalização das moradias de trabalhadores rurais no Estado. “A medida conscientizou a indústria madeireira da importância de instalações adequadas para esses trabalhadores, com pisos elevados e ambientes higienizados, que dificultam o aparecimento de roedores”, afirmou a coordenadora estadual de Zoonoses e Intoxicações, Gisélia Rúbio.

As ações de vigilância continuam em todo o Estado. Com o apoio das regionais de Saúde, a equipe da divisão de Zoonoses e Intoxicações da Secretaria faz um trabalho de mapeamento das espécies existentes no Paraná. “Os técnicos vão a campo, verificam todos os potenciais locais onde infecção pode ter ocorrido e analisam a situação da área. A partir disso, é feito a captura de roedores e o envio do material para análise em laboratório”, explicou Gisélia.

A equipe também é responsável pela investigação de 100% dos casos suspeitos de hantavirose no Paraná. A confirmação pode ser feita por critérios clínicos epidemiológicos ou por exames laboratoriais a partir do sangue do paciente.

Os dois primeiros casos de hantavirose do Estado foram registrados em 1998, no município de Cruz Machado. De lá pra cá, a doença foi identificada em 50 municípios, sendo que foram 222 casos e 50 mortes. O Paraná, que esteve na primeira colocação do ranking de estados com o maior número de casos, agora ocupa a quarta colocação, atrás de Minas Gerais, Santa Catarina e Mato Grosso.