27/04/2012
Um projeto que testou medidas simples e baratas para atender pessoas com infarto em hospitais do SUS aumentou o uso de tratamentos corretos e reduziu em 20% as mortes pela doença.
O programa Bridge (Brazilian Intervention to Increase Evidence Usage in Practice), desenvolvido pelo HCor (Hospital do Coração) em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa Clínica, definiu e testou maneiras de aumentar o seguimento, por parte de médicos e enfermeiros, das recomendações de tratamento para o infarto.
Os resultados do projeto foram apresentados em março na sessão principal do congresso do American College of Cardiology, em Chicago, nos EUA. No mesmo dia, a pesquisa foi publicada no “Journal of the American Medical Association”.
O objetivo era fazer com que a equipe médica prescrevesse todos os remédios que devem ser dados nas primeiras 24 horas após o infarto.
Hiato
“Em um mundo perfeito, todo paciente que chega com infarto no hospital deve receber uma série de remédios, como aspirina e anticoagulantes. Mas há hiatos entre a diretriz e a prática”, afirma Otávio Berwanger, diretor do projeto e do Instituto de Pesquisas do HCor.
Segundo ele, a taxa de pacientes que recebem todas as terapias necessárias era de 49% nos hospitais observados. Com o projeto, essa fatia aumentou para 67,9%.
“Não é que os médicos não conheçam as diretrizes ou sejam mal-intencionados. Também não é por falta de medicamentos. Mas a emergência pode estar lotada e isso torna muito fácil deixar passar algum procedimento.”
A equipe do projeto acompanhou 34 hospitais do SUS e 1.150 pacientes (com média de 62 anos) por oito meses.
Os hospitais foram divididos em dois grupos: 17 foram só observados, para ver como tratavam a doença e, nos outros 17, houve treinamento para usar o programa.
Passo a passo
O primeiro passo do programa é identificar e atender rapidamente os pacientes com sintomas de infarto.
Depois, cada um é classificado de acordo com a gravidade. E, com um “check list” nas mãos, o médico indica os remédios necessários para cada uma das classes.
Uma enfermeira foi treinada como gerente de casos para ver se todos os procedimentos foram seguidos.
Berwanger compara essa checagem com a que ocorre em um avião: “Os comissários avisam que as poltronas precisam voltar à posição original no pouso, mas alguém verifica se isso foi feito por todos os passageiros”.
Renato Lopes, que dirigiu o estudo com Berwanger e é professor-adjunto de cardiologia da Universidade Duke (EUA), diz que, apesar da queda da mortalidade e de novos infartos em um período de 30 dias, o estudo não foi desenhado para ver esse tipo de desfecho clínico nem tem poder estatístico para isso devido ao número de pacientes.
“Mas os resultados apontaram o sucesso da adesão aos tratamentos”, afirma.
Além disso, como dizem os autores no estudo, medir a melhora do atendimento de infarto envolve outros indicadores que não foram englobados, como avaliação da função ventricular, aconselhamento para parar de fumar e encaminhamento para reabilitação cardíaca.
O projeto Bridge faz parte do Proad (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde) do Ministério da Saúde, uma parceria do governo com hospitais privados considerados de excelência.
Segundo Helvécio Magalhães, secretário de Atenção à Saúde do ministério, o conceito do Bridge deverá ser adaptado pelo SUS.
“O estudo mostrou que precisamos reforçar o treinamento de pessoal e monitorar a adesão aos tratamentos. Só ter o protocolo e os remédios não quer dizer que a equipe médica aderiu.” Magalhães disse que o mesmo deve ser feito para tratar derrame e traumas.