05/04/2012
Espada versus escudo, lança versus armadura: a mesma regra básica da antiga história militar vale para o duelo entre micróbios e o sistema de defesa do organismo.
Uma enorme equipe de pesquisadores descobriu um “escudo” que permite a camundongos e seres humanos se protegerem do vírus da gripe, notadamente da sua versão letal, como a da epidemia mundial de 2009/2010.
Foram 31 “pesquisadores” que realizaram o estudo publicado na revista científica “Nature”, mas dois deles eram conjuntos de cientistas com dezenas de pessoas cada um. Esse bando foi necessário para produzir os detalhados experimentos que mostram como a proteína IFITM3 atua de modo a ser um “escudo” antivírus ideal.
Os camundongos sem a proteína tiveram mais problemas inflamatórios e maior replicação do vírus da gripe A.
O mesmo foi descoberto em seres humanos sofrendo com a doença, cuja severidade foi claramente vinculada ao tipo de proteína IFITM presente no organismo.
Já se sabia que proteínas do tipo IFITM eram capazes de afetar a duplicação de vários tipos de vírus patogênicos (causadores de doenças) em estudos in vitro.
Agora, a equipe coordenada por Paul Kellam, do Wellcome Trust Sanger Institute, Reino Unido, demonstrou que a falta da proteína é capaz de fazer com que uma infecção suave se torne algo muito mais grave em animais.
“A IFITM3 é essencial para defender o hospedeiro contra o vírus da gripe. Camundongos que não têm a IFITM3 apresentam pneumonia viral fulminante quando inoculados com um vírus da gripe normalmente benigno, espelhando a destruição infligida pelo vírus da gripe espanhola de 1918”, escreveram os autores do estudo.
E, em seres humanos, os resultados foram semelhantes. A equipe analisou o gene ligado à produção dessa proteína em pacientes hospitalizados com o vírus da pandemia (epidemia global) de 2009, o H1N1, ou em infectados por gripe sazonal. E descobriu que os doentes tinham mais abundantemente uma forma da proteína com menor atividade antiviral.
“Este trabalho é ultrainteressante. Os interferons [como a IFITM3] são uma classe de proteínas que a gente já usa para tratar infecções por vírus, como o da hepatite C”, diz Esper Kallas, da Faculdade de Medicina da USP.
“Mas o caso é diferente dos antivirais comuns, pois usa uma defesa natural do hospedeiro”, diz Kallas, que ressalva que o estudo precisa ser complementado com mais pesquisas com pessoas.
Os pesquisadores concluíram que a proteína IFITM3 é capaz de impedir que o vírus se ligue com a célula ou afeta a reprodução do parasita.
“Esse fator inato de resistência é ainda mais importante durante encontros com um novo vírus de pandemia, quando as defesas dos hospedeiros são menos eficazes. Pessoas com baixo nível de IFITM3 podem ser mais vulneráveis à disseminação do vírus”, concluiu a equipe.