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Saúde

Preservativo

01/12/2011

Jovens ignoram camisinha, ficam mais expostos ao HIV e preocupam governo

Preservativo

01/12/2011

Fonte: João Varella, do R7

- Nunca conheci uma pessoa com Aids. Nem amigo de amigo. É como se [a doença] não existisse. Passou a ser um mito. 

Preis ilustra um dos principais desafios do governo: lembrar para a população que a camisinha não é só um método anticoncepcional e que ainda é uma das formas mais eficazes de se evitar o vírus HIV. A Aids antes era vista como uma sentença de morte. Passou a ser vista como uma doença tratável. O governo admite que a doença está “banalizada” no imaginário popular e luta contra isso. Várias campanhas publicitárias começam nesta quinta-feira (1º), Dia Mundial de Luta Contra a Aids, a lembrar que a doença não pode ser subestimada. 

A administração da doença avançou, mas ainda não existe uma cura, como destaca o infectologista Ricardo Sobhie Diaz, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

- A doença perdeu alguns estigmas que ela tinha antes. As pessoas podem não morrer tanto como antes por causa da doença, mas isso não é motivo para as pessoas não se cuidarem. Mesmo com o remédio antirretroviral, as pessoas soropositivas envelhecem muito mais rápido. Existe um dano.

Imaginário

Outro fator que fez as pessoas deixarem de temer a Aids foi o esquecimento das discussões dessa doença. Preis afirma que a Aids nunca foi tema de conversação com a sua família. Preis lembra que o mais próximo de uma conversa sobre o tema foi uma vez que sua mãe disse “ó, use camisinha” há dez anos. Para ele, a Aids é quase um fruto de imaginação.

Quando Preis tinha dois anos, um ícone da música pop morria por causa da doença. No final do mês passado, completou-se 20 anos da morte do vocalista da banda Queen Freddie Mercury em decorrência da Aids. Os anos 80 e 90 foram marcados por várias mortes de artistas por causa da doença, como Cazuza e Renato Russo.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse nesta semana que a pasta avalia existir “uma geração jovem no país que não viveu a luta contra a Aids há vinte anos”.

Hoje a doença mais temida é o câncer - o ex-presidente Lula e o ator Reynaldo Gianecchini são dois casos recentes de famosos que lutam contra a doença. Esse temor também se reflete em dados. Na lista dos males não transmissíveis que mais matam os brasileiros, na segunda colocação aparece o câncer, responsável por 16% de todas as mortes.

Um estudo divulgado pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer) aponta que serão diagnosticados no ano que vem 518.510 novos casos de câncer em todo o país. Mas isso não significa que a Aids deva ser subestimada.

Balanço do Ministério da Saúde sobre a Aids aponta que o número de novos casos caiu de 2009 para 2010, de 35.979 em 2009 para 34.212 em 2010. Mesmo com números inferiores ao câncer, isso não significa que a Aids deva ser tratado com menos cuidado. Só no Estado de São Paulo, a doença mata nove pessoas por dia.

Esses são alguns dos dados que motivam o Ministério da Saúde a lutar contra a banalização da doença. Em entrevista ao R7, o diretor do departamento de DST e Aids do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, admitiu que o governo luta contra essa ideia. Nesse ano, o enfoque das campanhas de conscientização serão os jovens gays, grupo que estaria negligenciando os cuidados. Dados do Ministério da Saúde apontam que o contágio sexual de homens entre 15 e 24 anos que se declaram homossexuais subiu de 448 casos em 2009 (24,3% do total) para 514 em 2010 (26,9%).

O homossexual Leopoldo Ribeiro, publicitário de São Paulo, é um dos alvos do governo. Ele conta que "no calor do momento" nem se preocupa em usar camisinha.

– A última coisa que eu penso é isso [usar a camisinha]. Fico até um pouco [preocupado], mas, eu não sei, faço exames periodicamente.

De acordo com Greco, geralmente esse tipo de comportamento em relação à doença faz com que as pessoas não façam exames de HIV, o que deixa a doença mais letal.

Diagnóstico tardio

Estudo coordenado pelo pesquisador da USP (Universidade São Paulo) Alexandre Grangeiro publicado em janeiro deste ano mostra que 40% da mortalidade por Aids no Brasil está associada ao diagnóstico tardio. Uma pessoa que inicia o tratamento com a doença já em estágio desenvolvido tem um risco 49 vezes maior de morrer do que outra que começa o acompanhamento no período adequado.

A blogueira do site Cem Homens, a jornalista Letícia F. (ela não revela seu nome verdadeiro), de 32 anos, confirma que os homens estão refutando fazer o exame. Ela pode ser considerada uma autoridade no assunto, caso as histórias que divulga sejam verdadeiras. 

Em seu site, Letícia relata as suas experiências sexuais e discute o tema com seus leitores. Até o início do ano, a ideia de Letícia era fazer sexo com cem parceiros diferentes em um ano, mas a meta acabou sendo abandonada porque ela sentiu que as pessoas não estavam entendendo a proposta e a cobrança estava indo além da conta.

Com relações casuais assumidas, Letícia diz fazer o teste sempre que vai a um laboratório de análises clínicas.

– Ainda existe um estigma de que quem tem DST é uma pessoa que tem muitos parceiros. Eu nunca tive nenhuma DST.

Com uma quantidade mais modesta de parceiros, a também blogueira Lasciva, do site Lasciva Conta Tudo, aponta que alguns os homens têm problemas de usar a camisinha. Ela trabalha como relações públicas, tem 27 anos e afirma ter transado com 56 homens em sua vida. Segundo seu controle, 11 parceiros já tiveram problema ao menos uma vez com a camisinha.

– Muitos homens têm dificuldade de ficar ereto com camisinha.

Letícia F. diz que isso não é mais desculpa e dá uma dica.

– Antigamente as camisinhas tinham um gosto ruim, eram grossas. Hoje tem camisinha de todos os tipos e formatos, sem lubrificação. Tem camisinhas mais largas... O negócio é você ir testando mesmo.

A experiente Lasciva, porém, comete um deslize. Ela admite deixar de usar camisinha depois que começa uma relação monogâmica depois de três meses. Apesar de só mudar o status da relação depois de fazer exames, o comportamento não é o aconselhado por especialistas.

Ambas blogueiras confirmam que, apesar de escreverem sobre o assunto, os leitores tem baixo interesse pelo assunto preservativos e Aids.