11-05-2011
Crise nos partidos antecipa corrida eleitoral de 2012 e até de 2014
11-05-2011
A presidente Dilma Rousseff mal esquentou sua cadeira no Palácio do Planalto e os partidos políticos já traçam seus planos para as corridas eleitorais de 2012 e 2014. Para alguns especialistas, a antecipação exagerada do assunto não passa de um sintoma de uma das maiores crises partidárias desde a redemocratização do Brasil, em 1985.
Já de olho na próxima campanha presidencial, o senador tucano Aécio Neves (MG) começou o mês tentando ganhar o apoio do novíssimo PSD. Criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, para se livrar do DEM - abalado pela queda do governador do Distrito Federal, em 2010, e pela terceira derrota presidencial para o PT - o novo partido já foi chamado por Aécio de "partido sem identidade", mas hoje ele pede para "conversar e manter vínculos" com os líderes da nova legenda.
Aécio também vem aproveitando o abalo no PSDB (que só em março perdeu seis vereadores na capital paulista) para se aliar ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a fim de barrar a ida de José Serra à presidência do partido e, principalmente, impedir que ele tente mais uma vez se candidatar à Presidência da República em 2014.
O cientista político da UnB (Universidade de Brasília) Ricardo Caldas acha que Aécio não pode mesmo perder tempo, independentemente da situação de seu partido.
- Ele não pode correr o risco de ser preterido pela quarta vez. Ele não vai correr esse risco. A pergunta é se essa candidatura vai acontecer pelo PSDB ou não. Uma das alternativas é fazer como o [hoje senador] Fernando Collor de Mello, que na eleição presidencial de 1989 criou seu próprio partido.
Caldas dá seu palpite sobre essa "rearrumação partidária":
- A oposição não sabe mais fazer oposição. O DEM perdeu sua pouca identidade e não tem mais como sobreviver enquanto partido. Falta moral para fazer oposição moderada ou radical. A solução foi que uma parte do partido foi para o PSD e o que sobrou deve ir para o PSDB.
Alckmin e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chegaram a admitir em um debate a possível fusão de PSDB, DEM e PPS (também da oposição), assunto desmentido mais tarde por líderes do DEM.
A cientista política da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) Maria do Socorro lembra que a "fragmentação dos partidos de oposição só fortalece as legendas governistas".
PT e PMDB aproveitam a confusão
Os dois principais deles, PT e PMDB, aproveitam a confusão na cozinha rival para arrumar a mesa para as eleições municipais de 2012. No final de abril, o PT reuniu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prefeitos e deputados da sigla em um Spa na Grande São Paulo para traçar as primeiras estratégias para a campanha eleitoral do ano que vem.
Enquanto isso, o PMDB deu um duro golpe no aliado petista PSB ao tirar duas de suas estrelas emergentes: o deputado federal Gabriel Chalita e o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf. O primeiro é cotado para candidato à Prefeitura de São Paulo e o segundo ao governo estadual.
Para a cientista política, a confusão nos rivais torna tão confortável a vida do PT que o partido se deu ao luxo de trazer de volta o mensaleiro Delúbio Soares e fazer do deputado estadual Rui Falcão (SP) seu novo presidente. Muita gente no PT torceu o nariz para a escolha porque Falcão é aliado político do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), acusado pela Procuradoria-Geral da República de ter sido o "operador do mensalão", o maior escândalo político do governo Lula.- O PT está em uma situação tão favorável que se sente à vontade para abrir uma janela para que esses quadros que foram criticados antes voltem com força agora. Quem é contrário não consegue voz por ser minoria.
Ela diz que o fato de o DEM e o PSDB estarem oito anos fora do governo federal aumenta a crise, mas ela cita dois motivos mais fortes: a ausência de um projeto político com ideias que atraiam o interesse dos eleitores e o fim das brigas internas pelo controle das legendas. A ânsia prematura por voltar ao Palácio do Planalto, diz ela, vai precisar esperar pela reestruturação dos partidos.
- São conflitos internos entre gente que quer sair das siglas e gente que quer tomar o poder dentro delas em detrimento de verdadeiros líderes que possam unir diferentes políticos em torno de um programa realmente novo, esse sim com poder de levá-las de volta ao poder.
Fonte: R7 Notícias