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Organizar orçamento e iniciar reserva de emergência são essenciais para 2024, aponta consultor financeiro

Com preços de produtos cada vez mais altos, a saída é priorizar compras e manter um orçamento compatível com a renda familiar. Especialista aconselha sobre como sair das dívidas

Organizar orçamento e iniciar reserva de emergência são essenciais para 2024, aponta consultor financeiro

Embora os índices e conteúdos relacionados à economia brasileira atual mostrem que o país tem uma expectativa pela redução da inflação para 2024, os consumidores sentem que os produtos estão mais caros, principalmente nas idas aos mercados, por exemplo.

“Por mais que a inflação tenha caído e o dólar esteja consideravelmente mais estável, o que vemos na prática é um cenário diferente e estamos gastando mais com itens básicos do cotidiano. Com esses itens mais caros, se torna mais difícil realizar sonhos e investir em outras frentes. Nós tivemos um semestre marcado por menos gastos, quando analisamos o final de 2023, e se a população não consome, a economia não gira. Não vemos também um governo preocupado em reduzir gastos e uma máquina pública muito grande, o que nos leva à criação de mais taxas e impostos, travando ainda mais o bom andamento da economia”, explica Antônio Carlos Gomes Junior, consultor financeiro, em entrevista à Folha.

Em contrapartida, programas como o Desenrola, voltados para auxiliar endividados, está sendo um ponto positivo para dar um alívio nas contas. “Diria que, embora grande parte dos economistas vejam um crescimento de até 2% na economia, não acredito que passará de 1,5% pelo grande número de fatores e até de movimentações logísticas envolvidas, por isso o ano tende a ser menos tranquilo, com mais cautela quando o assunto é contrair novas dívidas”, reforça.

Antônio comenta que independente da faixa salarial, percebe nos próprios atendimentos diários que muitas pessoas estão buscando meios para aumentar a receita mensal. “Quem ganha um salário mínimo se vê em uma condição ainda mais complicada, porque muitas vezes já opta por cortes e busca o que chamamos de nível de sobrevivência e é algo difícil. Por isso, há exemplos de pessoas que buscam um complemento de renda, fazendo outras atividades, trabalhando com revenda de produtos e com a internet, que é uma ótima saída, apesar de levar um tempo para ter um retorno significativo. Diversificar as fontes de renda é hoje a melhor saída independente da faixa salarial que a pessoa tenha”, orienta.

Outro ponto que leva à necessidade desta diversificação de renda é a pesquisa divulgada pelo Dieese ainda no final de 2023. Em dezembro de 2023, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 6.439,62 ou 4,88 vezes o mínimo de R$ 1.320,00. Em dezembro de 2022, ficou em R$ 6.647,63, ou 5,48 vezes o piso em vigor, que equivalia a R$ 1.212,00.

Saindo do sufoco
Entrar o ano endividado é uma preocupação do trabalhador, independente da faixa de renda. Uma pesquisa conduzida pelo Instituto Locomotiva e MFM Tecnologia, divulgada em dezembro de 2023, mostrou que oito em cada dez famílias brasileiras estão endividadas e um terço têm dívidas em atraso. Os índices, que haviam piorado significativamente durante a pandemia da covid-19, já recuaram, mas ainda são elevados, segundo o relatório, divulgado pela Agência Brasil.

Um dos maiores fatores de inadimplência é o cartão de crédito, que foi a fonte de 60% dos débitos em aberto neste ano, porcentagem que superou a de 2022, de 56%. Deixar de liquidar dívidas junto a bancos e financeiras e empréstimos e financiamentos também tem sido um desafio para grande parte dos brasileiros, cerca de 43%, proporção que subiu em relação ao ano passado, quando era de 40%. Também acumulam dívidas do cheque especial (19%); de contas de serviços básicos, como luz, gás e água (17%); de impostos, como IPVA e IPTU (15%); de celular (14%); e compras feitas em lojas de departamento (12%).

Contas pendentes de assinaturas de internet e TV a cabo respondem por 10% e são seguidas na lista pelas ligadas a planos de saúde (6%); mercado (5%); mensalidades em escolas (4%); taxas de condomínio (4%); fabricantes de produtos que a pessoa revende (3%); lojas de materiais esportivos (1%); e outros (2%).

Mas diante de contas e juros que não param de acumular, como agir? Antônio explica que o primeiro passo é equilibrar o orçamento mensal, não ultrapassando o valor do salário e outras rendas possíveis. “É preciso ‘parar de cavar o buraco’, gastar mais do que ganha. É bastante desafiador, porque muitas pessoas se sentem perdidas e não sabem nem por onde começar. Comece pelas contas do dia a dia, analisando como equilibrar o orçamento, verificando onde você está gastando demais e quais sacrifícios podem ser feitos. Quando o orçamento familiar é equilibrado, a pessoa já está à frente de mais de 60% da população endividada. É a partir dessa organização primordial que iremos enxergar um respiro”, aconselha.

Com o orçamento organizado, a próxima etapa é reorganizar os fluxos e iniciar as renegociações, mas sem comprometer o orçamento inteiro e já aproveitar para iniciar a construção de uma reserva de emergência. “É preocupante e triste ver pessoas se comprometendo ao ponto de ficarem sem nada de dinheiro, nem para situações básicas que todos estamos sujeitos. É preciso ter uma reserva de dinheiro para uma situação de emergência, um familiar pode ficar doente, o carro ou a casa ter alguma avaria e muitos não têm para onde recorrer. Precisamos antever as situações”, aconselha.

Muitas vezes, buscar outras fontes de renda além do salário seja a melhor saída para quitar as dívidas de maneira mais rápida e eficiente, explica.
Aos poucos, quitando as dívidas e reorganizando o orçamento familiar, é preciso se reeducar. “Não podemos comprar por impulso, as compras devem ser feitas com planejamento não de apenas um mês, mas olhar um pouco mais distante. Talvez poupar por algum tempo e dar uma boa entrada ou então pagar à vista com desconto. O que não podemos é agir com imaturidade diante de limites que, usados de maneira irresponsável, nos farão perder linhas de crédito por conta do endividamento no futuro”, completa.
Assim, resumidamente, o conselho de Antônio é equilibrar, reorganizar o fluxo e fazer reserva de emergência.

Pensando no futuro
Passado o momento de tribulação ou se já se encontra em um momento de estabilidade, é hora de projetar o futuro. “Preparar o futuro é primordial para um momento em que talvez você já não tenha mais o mesmo vigor para o trabalho, por isso, buscar um profissional de confiança e que oriente a melhor opção de investimentos, previdência privada e planejamento da compra da casa própria, carro e até mesmo a viagem dos sonhos – que é algo com o que a juventude tem se preocupado muito – possa ser a melhor saída. Para finalizar, sugiro que as pessoas comecem a estudar mais economia, orçamento e aprendam mais sobre o dinheiro, porque é primordial para a nossa vida cotidiana”, conclui.