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Opinião

Letras que despertam a sociedade

Letras que despertam a sociedade

Há algumas semanas, tem rodado pelas redes sociais um vídeo do vocalista Renato Russo falando sobre tradição, família e propriedade, o que na época ele chamou de polêmica desnecessária, visto que acreditava que o Brasil deveria ter tradições, que amava sua família e que queria adquirir mais propriedades. Um posicionamento interessante, visto suas letras extremamente revolucionárias, muito bem escritas, abordando temas considerados tabus na época, como suicídio - em Pais e Filhos - e corrupção - Que País É Este. Infelizmente, Renato partiu cedo, mas talvez suas músicas sejam uma maneira de despertar uma geração faltosa, quase adormecida pelas redes sociais.

Um dos maiores sucessos, a música Geração Coca-Cola, muito embora tenha sido escrita para jovens dos anos 1970 e 1980, poderia ser transportada para a nossa realidade com facilidade, de certa maneira. No início da música, canta-se:“Quando nascemos fomos programados/ a receber o que vocês/ nos empurraram com os enlatados/ dos USA de nove às seis”; na época que foi escrita, vivenciava a expansão acelerada da globalização, enquanto hoje, podemos dizer que já se nasce em meio a ela e ao consumismo exacerbado, independente da classe social que está. As produções culturais que crianças estão expostas hoje, há de se considerar que ultrapassam o período das “nove às seis”, citado na música, hoje com regras estabelecidas para a publicidade infantil, por exemplo, mas com mais exposição às telas cada vez mais cedo e com facilidade de acesso a conteúdos que não são tão edificantes.

Seguindo a letra da música, há uma constatação e um apelo nítidos: “desde pequenos nós comemos lixo/ industrial e comercial”, abordando essa imposição às crianças, reverberando uma possível reação nos dois versos seguintes, “contra” uma geração anterior, na esperança de mudar uma realidade. Importante lembrar que na época dessa música havia um movimento de resgate às raízes brasileiras, mas a reação não deve ser ignorada. A pergunta é se ela de fato aconteceu ou apenas ficou no desejo? O que podemos fazer hoje para transformar uma sociedade tão passiva em determinadas vertentes?

A letra também mostra que após 20 anos na escola seria fácil entender “todas as manhas do seu jogo sujo”, levando a teoria das questões governamentais e questionamento de situações pertinentes à sociedade, dando sequência ao verso “vamos fazer nosso dever de casa”, talvez apontando para uma geração mais promissora, disposta a transformar seu local de vivência, sendo capaz de derrubar grandes poderes.

Essa geração já cresceu e mais outras gerações já nasceram, cresceram ou estão crescendo. Não necessariamente somos a geração Coca-Cola, mas somos a geração com potencial para reivindicar o que nos é de direito. Seja de direita ou esquerda, nosso propósito é sair da passividade e cobrar providências para derrubar esquemas de corrupção que infelizmente há muito tempo assombram nosso país. Todos somos o futuro da nação, não vamos nos separar agora, seguimos avante!