23-04-2011
Os micróbios que vivem em nosso organismo podem ser, no futuro, o principal ingrediente de uma pasta de dentes que ajudará a prevenir cáries, ou de comprimidos para diminuir o colesterol, segundo um estudo publicado pela revista americana "Science".Os probióticos, como são denominados os alimentos, bebidas e suplementos dietéticos que contêm micróbios vivos procedentes do corpo humano, ajudarão em um futuro a diagnosticar e tratar doenças, e os complexos a base de bactérias serão objeto de receita em consultas médicas de todo o mundo.
É o prognóstico que fazem o cientista da Universidade de Stanford (Califórnia) J.L. Sonnenburg, e o da Universidade da Califórnia, M.A. Fischbach.
O estudo, intitulado "Saúde comunitária: oportunidades terapêuticas no microbioma humano", prevê um futuro no qual os probióticos serão desenvolvidos e modificados pelas companhias farmacêuticas e biotecnológicas e regulados pelo Escritório de Alimentos e Remédios (FDA) dos EUA.
Os autores do texto convidam a comunidade científica dar sequência ao estudo das propriedades beneficentes dos micróbios vivos para a flora intestinal, que atualmente é o objeto da maioria dos produtos com esses organismos, protagonizados pelos iogurtes que permitem a sobrevivência das bactérias.
"O conceito (dos probióticos) pode ser aplicado também a outras comunidades microbianas do corpo humano", indicam os pesquisadores.
"Os cremes para a pele e pastas de dentes do futuro poderão conter organismos vivos ou probióticos que ajudem a tratar a dermatite atópica e prevenir cáries dentais", acrescentam. Segundo Sonnenburg e Fischbach, os micróbios vivos não só ajudarão a tratar as disfunções e doenças, mas também a preveni-las.
"Os componentes microbianos dos sedimentos, a urina, o cuspe e as mucosidades atendem às duas virtudes de uma mostra diagnóstica: são fáceis de obter e sustentam uma quantidade de informação molecular relevante para as doenças", afirma o estudo.
Apesar de sua popularidade crescente, os produtos probióticos não foram até agora estudados com rigor e, nos EUA, não estão regulados pela FDA.
Embora pareçam ter um potencial claro como agentes terapêuticos, existem desafios no momento de estabelecer padrões claros que permitam uma pesquisa mais aprofundada, segundo adverte o estudo.
As influências "antinaturais" sobre o organismo, como o consumo de antibióticos ou a administração de vacinas, modificam e transformam a estrutura microbiana, que pode variar de pessoa para pessoa e de país para país.
"As diferenças marcadas entre os micróbios fecais de uma criança de Burkina Fasso e das crianças do norte da Itália dão uma ideia dos problemas de definir uma linha de base para a microbiota", aponta o estudo.
Isso transforma às comunidades microbianas dos humanos em um "alvo móvel", que impõe um desafio considerável no momento de definir o que é "normal" ou "saudável", concluem os autores.