Domingo às 18 de Maio de 2025 às 09:46:19
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Maio Laranja reforça combate à exposição precoce de crianças à sexualidade

Maio Laranja reforça combate à exposição precoce de crianças à sexualidade

Maio recebe a cor laranja para sensibilizar a população sobre a necessidade do combate à violência sexual contra crianças e adolescentes. Manter um ambiente seguro no meio digital também é uma forma eficaz de prevenção ao abuso e ao acesso a conteúdo impróprio. Segundo dados divulgados pela Agência Brasil, em abril deste ano, o país ocupa a quinta posição em um ranking de 51 países com o maior número de denúncias de abuso sexual infantil pela internet. Das mais de 50 mil páginas denunciadas no Brasil, 10.823 foram repassadas às autoridades de diversos países, por envolverem vítimas de outras nacionalidades. No cálculo, também foram incluídas páginas associadas a crimes que aparentemente não ocorreram em território brasileiro.
A Folha conversou com Kaio Juliano Suonski Barbosa, psicólogo clínico e neuropsicopedagogo, que explicou quais são os principais riscos para o desenvolvimento emocional de crianças e adolescentes quando há exposição a conteúdos inapropriados ou de cunho sexual. “Isso pode afetar profundamente o desenvolvimento emocional de crianças e adolescentes. Entre os principais riscos estão a erotização precoce, a distorção da percepção do próprio corpo, dificuldades para estabelecer limites e relações afetivas saudáveis, além do aumento da ansiedade, culpa e confusão. Situações como acesso à pornografia, conteúdos sexualizados em redes sociais, músicas com letras explícitas, games com cenas eróticas ou até mesmo conversas adultas inadequadas para a idade são exemplos de exposições inapropriadas.”
Por isso, ele frisa que a conversa sobre segurança digital e os conteúdos que devem ser acessados já deve ser iniciada por volta dos 4 ou 5 anos, com orientações simples sobre o corpo, privacidade e respeito. “À medida que a criança cresce, o diálogo pode ser ampliado, sempre com linguagem acessível e respeitando seu nível de compreensão. Aos 8 ou 9 anos, já é possível discutir sobre o que é um conteúdo impróprio e por que é importante navegar com responsabilidade. Na adolescência, a abordagem deve ser mais direta, incluindo temas como pornografia, aliciamento e limites saudáveis online”, enfatiza.
Assim, o controle parental passa a ser entendido como cuidado, e não como vigilância excessiva. Ele ressalta que é necessário que os pais ou responsáveis mantenham um diálogo constante, no qual seja possível explicar os motivos das limitações, utilizar ferramentas de controle de forma transparente e, principalmente, construir uma relação de confiança. “Quando a criança e o adolescente compreendem que a intenção dos pais é protegê-los, e não restringi-los por desconfiança, o controle se torna mais natural.”


Contato precoce com conteúdo explícito
Questionado sobre a possibilidade de observar características que indiquem que uma criança ou adolescente já esteja tendo contato com conteúdos explícitos e inadequados para a idade, o psicólogo aponta mudanças bruscas de comportamento, medo ou vergonha ao usar dispositivos, isolamento, uso de termos ou expressões inadequadas à faixa etária, curiosidade exagerada sobre temas sexuais ou até mesmo alterações no sono e no apetite. Nestes casos, ele ressalta que é fundamental observar esses sinais com atenção e acolher a criança, sem julgamentos.
“Crianças podem começar a se comparar com padrões irreais, internalizar vergonha, insegurança ou até acreditar que precisam se comportar de formas que não compreendem. Esses impactos não desaparecem com o tempo e, muitas vezes, refletem na vida adulta por meio de dificuldades afetivas, autoestima fragilizada e problemas nos relacionamentos. Porém, é possível reverter ou minimizar os danos, especialmente quando há um ambiente acolhedor e suporte profissional. A psicoterapia é uma ferramenta essencial nesse processo, pois ajuda a criança ou adolescente a ressignificar a experiência. O papel da família é crucial, tanto ao escutar, validar sentimentos e reconstruir um espaço seguro e de confiança”, pontua.
A criação desse ambiente seguro, segundo o neuropsicopedagogo, significa estar disponível, escutar sem reações agressivas e evitar julgamentos. “As crianças precisam saber que podem contar com os pais em qualquer situação. Se os pais descobrirem uma exposição, o ideal é conversar com calma, tentar entender o contexto, explicar os riscos e, se necessário, buscar ajuda especializada. Reagir com punição ou vergonha pode afastar ainda mais a criança do diálogo e reforçar o silêncio. A escuta ativa, o cuidado contínuo e a abertura para conversas difíceis são os pilares da prevenção. Proteger nossas crianças começa com a informação, mas se concretiza na prática diária do afeto e do respeito”, finaliza.