Segunda-feira às 09 de Setembro de 2024 às 10:52:42
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Vícios em jogos de aposta on-line podem levar a perdas financeiras e prejuízos emocionais e sociais

O que era para ser uma distração, pode se tornar um grande problema.

Vícios em jogos de aposta on-line podem levar a perdas financeiras e prejuízos emocionais e sociais

O que era para ser uma distração, pode se tornar um grande problema. Com cada vez mais adeptos, as apostas on-line, sejam elas ligadas a jogos – como do Tigrinho – ou os chamados bets, que são apostas feitas em relação aos resultados incertos de um evento, como o esporte, por exemplo, tem chamado a atenção dos brasileiros. Segundo informações apontadas pelo levantamento Raio X do Investidor Brasileiro, feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o Datafolha, 22,4 milhões de brasileiros, ou 14% da população, utiliza algum aplicativo de aposta online, onde, destes, 40% consideram como uma chance de ganhar dinheiro rápido em momentos de necessidade e 22% consideram as apostas online como um tipo de investimento.

Embora grande parte dos apostadores brasileiros (67%) se considere responsável na hora de jogar, o levantamento feito pelo Aposta Legal mostra que só 20% limitam um tempo diário para jogar e 42% definiram um orçamento destinado para apostas. Além disso, os sentimentos mais comuns retratados foram preocupação (64%), insegurança (62%) e ansiedade (60%), que estão presentes na hora de apostar.

“Alguns estudos têm concluído que o ambiente, o barulho, a música associada aos prêmios, os flashes das luzes, a intensidade das cores e as pessoas, exercem poderosos estímulos sobre os jogadores, sejam eles problemáticos ou não. O ambiente de um cassino pode contribuir para alterar o comportamento do jogador já que é suscetível de aumentar o estado de ansiedade e a perda de controlo do indivíduo. A esperança de ganhar é uma das mais fortes motivações comuns a qualquer tipo de jogador, o que significa para alguns jogadores o recurso a pistas, que eles próprios estabelecem, e que lhes indicam, segundo eles, o momento certo para jogar e para, eventualmente, aumentar a aposta”, alerta a psicóloga clínica Priscilla Kivia Chervinski (CRP 08/27521).

Assim, ela chama atenção para alguns comportamentos de risco para um possível vício e que devem ser verificados, como priorizar o jogo acima de outras atividades, podendo negligenciar outras áreas da vida, colocando a necessidade de jogar para se sentir bem, além de dificuldades nas emoções como um descontrole emocional, principalmente durante a jogatina, isolamento de eventos sociais, dores musculares por passar tempo jogando, pensar e falar sobre jogos, sentimentos de ansiedade por não estar jogando, omitir ou mentir sobre o jogo dizendo que não irá jogar ou que não gastou tanto e continuar jogando mesmo após perder dinheiro.

“Precisamos considerar os problemas financeiros, que podem gerar várias outras consequências como depressão, ansiedade, separação e suicídio, podendo até chegar a não se priorizar mais, tendo o jogo como algo mais importante. É preciso estar ciente que os vícios, independente de serem em jogos eletrônicos, de azar, álcool e drogas, causam várias consequências negativas. Os jogos de eletrônicos e de azar pode ser comparados a dependências químicas, onde incluímos o álcool e o tabaco. O fator que é comum entre eles é, antes de tudo, o seu potencial para produzir prazer ou aliviar as tensões emocionais, desencadeando os mesmos problemas emocionais”, pontua.
Questionada sobre a possibilidade de algum perfil de pessoa que possa desenvolver de maneira mais “fácil” o vício, a psicóloga explica que os indivíduos com um histórico de depressão ou uma dependência relativamente ao álcool, tabaco ou a outra substância, apresentariam um maior risco, ou vulnerabilidade, em se tornar jogadores patológicos. “Muitas pessoas passaram a ver nos jogos uma prática para extravasar, livrar-se das tensões do dia a dia, neste caso, é recomendado que a pessoa busque ter uma vida saudável, tendo hobbies e atividades físicas para lidar com as questões do estresse”, alerta.

Cuidado com o celular
Assim como os jogos, Priscilla explica que o celular também pode ser considerado uma forma de extravasar e apresentar risco de desenvolvimento de vício. “Como é considerado uma ferramenta do dia-a-dia, o celular pode contribuir mais ainda para esses vícios pela facilidade. É um desafio grande, pois o celular é uma ferramenta que faz parte da nossa vida, é reconhecer e buscar ajuda para também ter o controle do uso do celular também. Quem tem o transtorno, o recomendado é que fique longe do celular e de tudo que pode voltar ao vício”, orienta.

Papel das pessoas próximas e o tratamento
Bastante desafiador, Priscilla pontua que a pessoa viciada por se sentir perdida e sozinha, sem o apoio de familiares e amigos, que têm dificuldades para lidar com a sua compulsão. “Neste caso o importante é ter uma escuta sem julgamentos, observar os sinais da pessoa próxima, participar junto de atividades físicas ou hobbies. E orientação para que a pessoa busque ajuda”, acrescenta.
“Identificar a sua dificuldade e buscar ajuda de um profissional da saúde como psiquiatra e/ou psicólogo para identificação do grau do problema é o melhor tratamento. As consequências são inúmeras, do problema financeiro até um suicídio. O acompanhamento psicológico é importante durante qualquer tipo de transtorno, além de ajudar a manter a estabilidade emocional do paciente, a psicoterapia proporciona orientações que ajudam o paciente a evitar comportamentos e situações de risco”, finaliza.