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Francisco Chemin: do sorvete ao Casarão, muito trabalho e contribuições na construção da cidade

De descendência italiana, Francisco e dona Rosa Chemin trabalharam muito e trouxeram o sorvete para Campo Largo

Francisco Chemin: do sorvete ao Casarão, muito  trabalho e contribuições na construção da cidade

Adhayr Chemin é campo-larguense, nascida na região da Rondinha. Hoje com 97 anos, ela recebeu a Folha de Campo Largo em sua casa, para compartilhar inúmeras histórias e memórias da região central da cidade. Filha de um casal pioneiro na cidade, Francisco Chemin e Rosa Brolhani Chemin, descendentes de italianos, chegaram a morar em Curitiba, mas foi em Campo Largo que construíram uma grande família tradicional, junto dos filhos Miguel, Arlindo, Darcy, Adhayr, Ivete, Edy, Ary, Reny, Aglacy e Beverly. Sempre bastante atuantes na cidade, Francisco chegou a participar da construção da torre da Igreja São Sebastião e organizava procissões da Sexta-Feira Santa.


Dona Adhayr estudou o primário no Macedo Soares e tinha o sonho de ser professora. “Antigamente era difícil de sair estudar, era muito longe e meu pai só tinha uma carrocinha que levava frutas para vender em Curitiba. Faculdade só tinha na capital. Não consegui ser professora, mas terminei os estudos. Eu fui aluna da professora Odila Portugal Castagnoli e eu era uma boa aluna, tanto que ela falou com o meu pai para que eu continuasse os estudos”, relembra ela.

Venda de verduras de porta em porta
Francisco teve a oportunidade de comprar a sua própria casa, próximo ao que hoje é a Praça da Polônia, mais semelhante a uma chácara, na região central de Campo Largo. Com um extenso terreno, plantava de tudo, inclusive frutas, verduras e flores. Eram seus filhos quem saíam com cestas pela vizinhança para vender os produtos frescos. “De manhã cedo nós colhíamos todas  as verduras e preparávamos as cestas, inclusive lavava e fazia os macinhos. Depois saíamos vender de casa em casa. Meu pai dizia ‘vão vender que com esse dinheiro eu compro roupa para vocês’”, conta.

Às vezes, alguns clientes reconheciam o esforço das crianças e adolescentes na venda e decidiam dar um suco ou bolachas, como forma de agrado. Lembra que vendiam bem, sempre voltavam com as cestas vazias para casa.

Enquanto eles vendiam de porta em porta, seu Francisco ia até Curitiba vender frutas de carroça, saindo bem cedinho pela manhã. Conta ainda que o esforço do pai para manter a roça era muito grande, chegando em dias de chuva a tirar a roupa e trabalhar normalmente.

Primeiro sorvete de Campo Largo foi trazido por Francisco Chemin
Campo Largo ainda não conhecia sorvete na década de 1940, aproximadamente. A ideia, a máquina e os produtos foram trazidos por seu Francisco Chemin.

“Ele comprou uma máquina para fazer sorvete manual. Para fazer o sorvete, tirava a gente cedo da cama; três, quatro horas da manhã e falava para girar a manivela da maquininha. A gente ia revezando e não podia parar. Colocava o sorvete na carrocinha e meu pai e meus irmãos mais velhos iam nas capelas, esperavam as pessoas saírem da missa e vendiam. Todo mundo rodeava a carroça para comprar sorvete, porque era uma novidade”, relembra. Para fazer o sorvete na época, despejavam calda em um tubo de metal mergulhado no gelo e sal grosso. Com uma manivela, giravam o tubo, transformando a calda em sorvete.

Os sabores eram os mais tradicionais, como morango, chocolate, frutas. “A calda era leite, engrossada com amido de milho e o sabor do sorvete. Ia congelando e ficando pronto, bem cremoso. A gente tirava, colocava em um pote para não derreter. Um tempo depois surgiu uma sorveteria onde é a Pernambucana, em frente ao Hotel do Titio. O antigo dono procurou meu pai e falou que ele já tinha prática, tinha os filhos que o ajudava e que queria vender a sorveteria. Meu pai comprou e montou a sorveteria. Meus irmãos e eu cuidamos, tinha o bar, sorveteria e os carrinhos pelo Centro. Tinha o salão com as mesinhas e os casais iam lá para namorar e tomarem sorvete”, conta.

 

Casarão dos Chemin
Francisco Chemin era um homem com muita visão de futuro, bastante empreendedor e precavido, pois os valores que arrecadava com o trabalho, guardava para investimentos. O famoso Casarão dos Chemin é uma prova disso. Dona Adhayr conta que um dos melhores casarões da cidade foi adquirido pelo pai dela por 50 mil réis e pertencia anteriormente ao prefeito Coronel César Torres. Lembra que algumas pessoas diziam que ele “encontrou um tesouro” para comprar o imóvel, mas ele respondia que era para eles continuarem procurando, pois um dia encontrariam também – de maneira irônica, visto que tudo era fruto de um árduo trabalho.

Foi então que o casarão foi transformado em hotel, restaurante, bar e sorveteria. “Ele foi um homem à frente de seu tempo. Percebia e aproveitava todas as chances. Trabalhou como cozinheiro em casamentos. Decorava carros alegóricos para o Carnaval de rua. Como jardineiro, construiu duas praças. Fazia flores artificiais, grinaldas e buquês. Sempre muito animado. Foi um dos primeiros cidadãos a cruzar o Atlântico de navio rumo à Itália, em 1955. Descobriu a casa que seu pai e tios haviam deixado e encontrou parentes que por lá ficaram, mantendo contato com eles até quando morreram”, escreve Marilda Gadens Marchiori, filha de dona Adhayr no texto “Italianos trentinos na terra dos pinherais”.

Dentro do hotel, tanto Adhayr, como seus irmãos, tinham funções determinadas pelo pai. Para ela, coube o trabalho de restaurante e contabilidade. O hotel era famoso pela qualidade dos serviços prestados e chegou a receber importantes hóspedes, inclusive o ex-governador Bento Munhoz da Rocha Neto. Enquanto conversava com os hóspedes, fazia bordados para o enxoval.

Um fato interessante escrito por Marilda é que “durante a Segunda Guerra Mundial, ela (Adhayr) e os irmãos ficavam apreensivos porque Francisco gostava de falar italiano com os visitantes, o que era proibido na época, fato que fez com que esquecessem a língua”.