Um corredor marcado por muitas histórias, início de profissões e construções de famílias. O Colégio Sagrada Família é uma das instituições mais tradicionais de Campo Largo, afinal são mais de 98 anos de histórias. Em entrevista à Folha, a diretora Irmã Lucia Staron contou como tudo começou.
“Nossa história é lembrada pela fundação no dia 15 de janeiro de 1925. Vieram aqui três Irmãs ou quatro, pois tem uma Irmã que aparece na história aqui e na mesma data na colônia Dom Pedro - Ir. Ursula Przydrozna, Ir. Wadislava Bodnar, Ir. Alexandra Zielinski e Ir. Anastácia Pawlowski. Elas chegaram até aqui para trabalhar com as crianças na área da Educação, além de serem as responsáveis pela catequese na igreja.” Esse ato era algo comum na Congregação das Irmãs, no qual o objetivo era atender os filhos dos imigrantes poloneses. No entanto, o colégio se mostrou diferente, na primeira lista de alunos é possível observar sobrenomes de origem polonesa, italiana e portuguesa. Era só procurar que conseguia vaga.
A Irmã conta que de início a escola foi particular, porém mesmo assim a questão financeira da época era muito difícil para o colégio e foi um desafio para as Irmãs iniciarem e persistirem no trabalho. “O colégio foi particular entre 1925 até 1957, os pais que podiam pagavam uma mensalidade e quem não podia havia uma troca. Os pais levavam o que tinham, como por exemplo arroz e feijão, pelo estudo do filho.”
Com o tempo, a estrutura econômica do colégio estava se tornando inviável, considerando o salário dos professores e colaboradores. Foi nessa época que o Estado do Paraná, em 1957, viu a necessidade de aumentar as escolas do município, então foi criado um convênio, passando a se chamar Colégio Estadual Sagrada Família.
Convivência com a comunidade
Mesmo com todos os desafios, a escola se manteve muito próxima da comunidade, antes mesmo de se tornar um colégio estadual, foi criado um ginásio e até mesmo um internato dentro para auxiliar várias crianças que haviam sido abandonadas: “Ele tornou-se um internato que era da Assistência Social de Curitiba. Desde o início otimizamos para utilizar ao máximo a estrutura do prédio. Por ser grande, conseguimos acolher as crianças da assistência social e dar uma nova oportunidade para crianças que foram abandonadas. As Irmãs nesse processo tiveram uma presença, cuidando e auxiliando essas crianças”.
Essa é uma parte da história que deixou muitas marcas na escola, tanto para a população como para o colégio: “De vez em quando aparecem pessoas aqui, idosas que querem ver a escola. Uma advogada do Rio de Janeiro, que veio visitar, chegou a chorar e dizia assim: ‘Antes eu sofri tanto, até na rua fiquei, quando cheguei as Irmãs me acolheram e saí daqui já com o ginásio e eu fui para frente no estudo’. São pessoas que conseguiram crescer na vida, acolhemos em um momento de dificuldade, mas utilizaram o estudo para ir para frente”.
O colégio é um dos mais tradicionais da cidade. Já atendeu bisavós, avós, pais e filhos. Por isso, até hoje sempre tenta manter uma comunicação entre colégio e a família. “Quando se tem uma proximidade entre escola e família, o estudante se sente acolhido, pois sabe que está no meio de pessoas que querem seu bem. Além de fazer com que ele leve mais a sério os estudos”.
Segundo a diretora, esse é um método que tem dado certo, principalmente com estudantes que não gostam de estudar e precisam de um incentivo e uma cobrança maior. Para a comunidade isso ajuda muito, pois segundo a Irmã criam-se laços que ajudam a construir história: “Existem famílias que já estão na quarta geração estudando aqui no colégio. E a gente escuta: ‘eu quero estudar ali, onde meu avô estudou’, então essa é uma relação muito boa que a gente tem com a comunidade de Campo Largo”.
Irmã Dolores
Para falar da história do Colégio Estadual Sagrada Família é necessário relembrar de umas das personalidades mais marcantes da história, a Irmã Dolores. “Nós trabalhamos juntas em 2004 no Sagrada Família, ela era a diretora geral e eu a diretora auxiliar. A partir de 2005 quando eu assumi a direção geral do Sagrada Família, a Irmã Dolores fez questão de continuar aqui em Campo Largo, não aceitou as propostas que a congregação tinha para ela, pois o amor da vida dela sempre foi Campo Largo. Depois ela continuou no Anchieta por mais 10 anos”, detalha a Irmã Lucia. A Irmã relembra de alguns momentos das duas juntas: “A Irmã Dolores sempre me contava boas histórias, mas às vezes encontrávamos algum ex-aluno e ela falava: ‘esse foi malandro’”.
Em 2018, a equipe da Folha de Campo Largo teve a honra de entrevistar a Irmã Dolores, algumas falas delas que ela contou sobre quando assumiu a direção: “até que foi tranquilo, naquela época as pessoas eram diferentes do que são agora, você falava e elas acatavam no mesmo momento”. Atualmente a Irmã Dolores mora em Curitiba, em 2018 nossa equipe a entrevistou e vale acessar o site da Folha de Campo Largo pelo QR Code.