A partir desta quarta-feira (24), os usuários do transporte coletivo nas linhas urbanas de Campo Largo tiveram que pagar R$ 1 a mais para embarcar. O aumento do valor da passagem foi anunciado ainda na segunda-feira (22), gerando bastante indignação e questionamentos dos campo-larguenses, que buscaram principalmente as redes sociais da Folha para registrarem suas opiniões.
Entre os argumentos apresentados por eles está a qualidade dos veículos, o grande espaçamento entre horários do itinerário, falta de horários à noite e aos finais de semana, com linhas que não circulam aos sábados e domingos.
O novo valor para linhas urbanas e Ferraria é de R$ 5,95; titulares de Cartão Cidadão passaram a pagar R$ 5,80 e estudantes irão pagar R$ 2,95. As linhas do interior não sofreram reajuste, mantendo-se o valor de R$ 8,75.
“Pego ônibus todos os dias pra ir trabalhar. Esses dias o Moradias Bom Jesus não conseguiu chegar até o terminal porque estragou. As pessoas foram a pé e no mesmo dia o ônibus Rivabem e Itaqui de Cima estragaram no ponto. A gente saindo do trabalho, louco para ir para casa, com chuva. O povo ficou esperando ônibus e não mandaram, só veio no próximo horário e falam em subir a passagem”, escreveu uma leitora.
“Ainda se fossem ônibus e horários bons, para que todos pudessem usar com conforto, mas não, todos os dias os ônibus lotados, onde a gente não consegue nem se mexer. Sacanagem demais isso”, escreve mais uma leitora. “Se sobe a passagem, teriam que colocar mais horário de ônibus. A gente só tem ônibus para chegar ao trabalho, para voltar tem que usar outra linha. Eles acham que a gente não precisa de ônibus no sábado para trabalhar, um absurdo esses poucos horários do São Caetano”, completa mais um leitor.
“Por que não fazem integração? Quando morava em Campo Largo, precisava pagar quatro passagens diárias para trabalhar em Curitiba. Acho isso um absurdo”, questiona a leitora. A Folha procurou a Prefeitura e a empresa Transpiedade para conversar sobre o assunto, as quais se manifestaram por nota.
Aumento em cinco meses
Um dos questionamentos apresentados pelos usuários é o aumento anunciado após cinco meses do último reajuste realizado. Até o dia 08 de agosto de 2023, os usuários pagavam R$ 4,25 nas linhas urbanas – R$ 4,15 no Cartão Cidadão, quando foi anunciado que a partir do dia 09 do mês a passagem passaria ao valor de R$ 4,95 para pagamento em dinheiro e R$ 4,80 no Cartão Cidadão, reajustando também o valor da passagem do interior.
À época, a justificativa apresentada para o aumento de 16% seria “como fonte oficial entre o serviço público e a empresa prestadora do mesmo, a Administração Municipal divulgou em Decreto Municipal - nº 251, de 04 de agosto de 2023, as novas normativas considerando a variação dos componentes que refletem no custo do Sistema Municipal Urbano de Transporte Coletivo e a aplicação do Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) para correção de preços vigentes, correspondente à variação acumulada do período de junho de 2021 a maio de 2023, de 16,1287%”.
Em nota enviada à Folha de Campo Largo, a Transpiedade justifica que “a tarifa de equilíbrio do sistema segue defasada desde o advento da pandemia, em março de 2020, portanto há mais de três anos. Diversos insumos tiveram seu aumento de forma significativa ao longo desses anos e ainda, a demanda transportada hoje representa 80% do que era antes da pandemia. Sem subsídios e auxílios públicos, o custo total é arcado exclusivamente pelos passageiros pagantes. Nesse caso, os passageiros equivalentes representam menos de 85% dos passageiros, ou seja, a cada 100 pessoas transportadas, somente 85 pagam a conta, por isso da pressão dos custos da tarifa”.
A Prefeitura, por sua vez, justificou em nota que a “Transportadora Piedade (Transpiedade), concessionária do Sistema Municipal Urbano de Transporte Coletivo de Campo Largo, apresenta à Administração Municipal o custo da tarifa média no valor de R$7,25. Este valor foi encontrado com a inserção de custos por meio da metodologia de cálculo firmada em contrato GEIPOT (manual para avaliar o custo dos serviços e estimar o valor das tarifas dos ônibus urbanos)”, e segue explicando que após o pedido de revisão da tarifa pela empresa concessionária em dezembro do ano passado, “contabilistas e economistas do município analisaram os valores levando em consideração a atualização do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e considerando também que as tarifas permaneceram constantes pelo período de dois anos (2021/2022 e 2022/2023)”, quando chegaram ao valor de R$ 6,12.
“Dessa forma, foi proposto à empresa concessionária a fixação da tarifa da passagem no valor de R$ 5,95 para as linhas urbanas e Ferraria, ou seja, abaixo da atualização inflacionária, e mantendo-se o valor de R$ 8,75 para as linhas do interior”, acrescenta frisando que a empresa tem contrato firmado desde 2003 com a Prefeitura de Campo Largo e que não há subsídios do Governo Estadual e Federal para custeio do transporte coletivo na cidade.
Integração
Um dos questionamentos apresentados pelos usuários do transporte coletivo foi a possibilidade de integração entre as linhas urbanas municipais e intermunicipais. Hoje a passagem Terminal Urbano de Campo Largo/Terminal Campina do Siqueira, por exemplo, está R$ 5,50 em dinheiro e R$ 4,75 no Cartão Metrocard. Questionada, a Transpiedade diz que “essa decisão não cabe à operadora e sim ao ente público, desde o município de Campo Largo, quanto o Estado do Paraná e a Prefeitura de Curitiba. Vale lembrar que menos de 30% dos passageiros seguem para Curitiba usando o sistema metropolitano, a grande maioria dos passageiros fica em Campo Largo”.
A Folha conversou ainda com a Agência de Assuntos Metropolitanos do Paraná - Amep, que explicou que cada município deverá neste ano lançar a sua própria licitação, como já acontece em Campo Largo desde 2003. Questionados sobre a possibilidade de pagamento de tarifa única, a Amep explicou que isso fica a critério de cada município, que realiza subsídio mensal para que o usuário não precise pagar pela integração. “Um exemplo é Araucária, que tem um sistema próprio e a integração custeada pelo Município. A Prefeitura repassa cerca de um milhão de reais por mês para que o usuário não precise pagar a integração.”
Melhorias
Levados os questionamentos dos usuários apresentados ao jornal por parte da população, especialmente relacionados ao grande espaçamento de horários em algumas linhas, mesmo em dias úteis e o encerramento de linhas após a pandemia, além da falta de horários noturnos ou aos finais de semana, a Transpiedade diz que a programação operacional segue padrões de engenharia de transporte, onde “leva-se em consideração pesquisas em campo, dados dos passageiros, oferta de viagens e lugares disponíveis no tipo de veículos empregados e linha de desejo dos usuários. Utilizando essas informações e também softwares modernos de engenharia de transporte, monta-se a programação horária e oferta de viagens. Excessos e ociosidades geram custos para o sistema que afetam o valor da tarifa de forma significativa”, pontuam.
Ressaltam ainda que, em virtude de obras em andamento no município podem ocasionar “impactos relevantes nos componentes eletrônicos dos carros, gerando impedimento da sua condução, pois afetam a segurança da viagem”. “Além desse problemas, temos os problemas mecânicos, onde por exemplo, a empresa oferece diversos veículos com suspensão a ar para maior conforto. Entretanto, estamos com alto índice de perda de bolsas de ar por conta dos resíduos das obras onde estão furando a suspensão. Infelizmente, enquanto tiver diversos problemas logísticos, seja de ordem de obras ou relacionados ao trânsito frequente em Campo Largo, a qualidade da operação fica comprometida. Mesmo com as dificuldades a empresa cumpre mais de 99% das viagens programadas”, finalizam.