O comitê se reúne a cada 15 dias e está na terceira reunião; a intenção é auxiliar no mapeamento da cidade e atualizar o plano Cidade Resiliente
Campo Largo entrou na sua terceira semana marcada por chuvas intensas. Ao longo dos temporais, cidadãos viram a água subir em vários pontos, que vão desde Botiatuva, Itaqui, Bateias, Jardim Social, região do Ferraria, entre outros, incluindo locais, que conforme o secretário de Ordem Pública – pasta a qual pertence à Defesa Civil – Samir Moussa, não haviam sido registrados até o momento, gerando o fator surpresa e necessitando de ações emergenciais.
Em conversa com a Folha de Campo Largo, Samir destacou o trabalho que vem sendo empenhado por um comitê formado por 100 pessoas, pertencentes ao governo municipal e totalmente voluntárias para este projeto, que recebem um treinamento voltado ao atendimento de situações que envolvem catástrofes climáticas, na ação de atualização do projeto Cidade Resiliente, em andamento em Campo Largo desde 2017.
“Nós já tínhamos uma cartilha com mapeamento de pontos de alagamento, áreas de risco e algumas instruções de como proceder nestas situações, porém estava desatualizado. Agora, com este comitê vamos conseguir estruturar o trabalho a ser desempenhado, para que saibamos cada detalhe dos passos que serão executados. Desde a retirada da família de uma área de risco até o telefone da pessoa responsável pelo local de abrigo do bairro que está sendo atendido. No momento da urgência, cada segundo conta, por isso, ter tudo à mão e, principalmente, saber como agir é essencial.”
As reuniões dos comitês acontecem a cada 15 dias, com a intenção de, além do preparo, criar uma sinergia de trabalho e conhecimento de cada região da cidade. Por isso, o grupo será dividido em 50 duplas, que irão se espalhar pela cidade para conhecer cada trecho e auxiliar no mapeamento. No futuro, será desenvolvido um grande treinamento com todos os integrantes do grupo simulando uma situação real.
Equipamentos que auxiliarão no controle exato das chuvas no município – pluviômetro – também serão adquiridos e instalados em quatro pontos estratégicos da cidade. “Há muito a ser feito, inclusive é preciso pensar em um orçamento que é destinado unicamente para o atendimento destas situações. Tudo dentro de uma estratégia, algo que temos estudado bastante e que cada vez mais tem sido debatido amplamente pelas instituições públicas”, diz.
Semana intensa de trabalho
O secretário pontua ainda que as semanas têm sido intensas, principalmente porque acabam surgindo muitos chamados em pontos diversos da cidade e há necessidade de cobrir emergências locais mais distantes. “É um trabalho delicado porque envolve a necessidade de agir com urgência e ao mesmo tempo ser empático com o cidadão. É um momento de vulnerabilidade, onde ele sente a casa instável, muitas vezes tem seus filhos e netos vivendo ali, sabe do risco que está correndo; em outros vê a água subindo e isso assusta muito. Chamam a gente quando veem a viatura da Defesa Civil passando na rua, choram bastante e isso comove quem está em atendimento. Ao mesmo tempo existem aqueles que são resistentes, não querem deixar a casa independente da circunstância. Neste momento também devemos estar preparados sobre como conversar com o morador”, ressalta.
Questionado sobre desalojamentos, Samir comenta que houve situações onde famílias foram retiradas de suas casas, porém, foram para casa de familiares. Não ocorreu necessidade de abrir ginásios ou levá-las a pousadas e hotéis como em outras cidades paranaenses.
“O que tem acontecido é a cheia do Rio Iguaçu – onde desembocam grande parte dos rios campo-larguenses, como Cambuí, Itaqui e Rio Verde – e ele não está dando conta de tanta água. Assim, consequentemente os rios transbordam. Para baixar o nível da água não é rápido, pode levar até 15 dias, contando com uma previsão do tempo favorável”, destaca.
Outro ponto abordado pelo secretário é sobre a responsabilidade de cada cidadão em construir uma cidade mais responsável ecologicamente. “Infelizmente, a tendência que os estudos nos mostram é que cada vez mais aconteçam mais desastres ambientais. Por isso, ressalto que nós, como poder público, faremos a nossa parte da melhor maneira possível, mas o cidadão também precisa abraçar a sua responsabilidade. Trabalhamos em muitas regiões desentupindo bueiros, por conta do lixo que não teve uma destinação correta. Há casos de poluição nos rios, moradias construídas de maneira irregular. Há muitas camadas para serem solucionadas, que vão do meio ambiente ao social”, completa.
Na intenção de solucionar, Samir comenta que embora existam entraves burocráticos, muitas vezes entre as próprias secretarias, a iniciativa é de união, para buscar soluções que possam trazer melhorias efetivas, contando inclusive com o apoio do Ministério Público.
El Niño
A cada início de estação, o Simepar faz uma previsão geral de como será os três meses próximos em relação ao tempo. Na publicação deste ano, o Simepar trouxe que o evento El Niño teria uma intensidade moderada a forte e estava em curso sobre o Oceano Pacífico Equatorial. O fenômeno climático provoca mudanças significativas no padrão de circulação do vento em várias regiões do mundo. O aumento da temperatura média e da umidade do ar gera condições propícias para chuvas.
O cenário indicava que chuvas volumosas e queda de granizo, associadas a ventanias, rajadas de ventos, raios e trovoadas, com risco de alagamentos, enxurradas e escorregamento de massa seriam frequentes.