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Passagem de Dom Pedro II por Campo Largo deu nome ao Distrito de Nova Polônia

Passagem de Dom Pedro II por Campo Largo deu nome ao Distrito de Nova Polônia

O amor pelas raízes culturais é nítido em muitas famílias que se dedicam na valorização das tradições e em manter viva a história da colonização polonesa na Colônia Dom Pedro II, interior de Campo Largo. Aquela paz ao chegar na região, as belas paisagens, a vida simples, a comida boa e ainda potencializado pelo turismo rural, são grandes atrativos.

Para receber imigrantes europeus, na região foram instituídas 12 colônias pelo governo liderado por Adolpho Lamenha Lins (1875-1876) para colonizar os arredores de Curitiba. Entre elas, foi nomeado o distrito de Nova Polônia, em 1876, marcando o início de uma rica e diversificada tradição que se mantém até os dias atuais. Com habilidades na agricultura, carpintaria, ferreiros e novas técnicas agrícolas, o local prosperou e se transformou, com tradições passadas de geração em geração.

O nome mudou para Colônia Dom Pedro II depois da passagem do segundo e último Imperador do Brasil na região, em 1880, valorizando também a importância do local. As terras demarcadas iniciavam no Rio Passaúna até próximo a Campo Magro. As famílias que chegavam recebiam lotes de aproximadamente dois alqueires, materiais para o trabalho e sementes.

Segundo informações registradas pela historiadora Mafalda Ales Sikora, em cada núcleo designado era construída uma escola e uma capela. A primeira escola nesta colônia foi a das Irmãs, em 1908. As famílias ali frequentavam a Igreja na Colônia Orleans até que em 1933 foi instituída a 1ª Capela de Nossa Senhora da Anunciação. Em 1946 foi construída a Escola da Colônia Dom Pedro. A atual Igreja foi construída em 1980 em formato de navio, em homenagem aos imigrantes.

Desta colônia, os poloneses também foram para mais regiões, como Colônias Figueiredo e Rodrigues, Cercadinho, Campo Magro, Fazendinha, Miqueleto e outros. Pessoas de profunda fé religiosa também caracterizam-se pela produção de milho, trigo, soja, batata, feijão, cebola, hortaliças, agricultura orgânica, suinocultores, secadores de grãos, ferreiros, farinha de milho, feirantes e cerca de 20% são profissionais liberais.

Tradições

Algo muito valorizado pelos poloneses é a manutenção do grupo folclórico Zabawe Polskie, atualmente com 38 integrantes. Eles mantêm viva as tradições por meio de danças e músicas que ecoam os tempos passados. Entre os ritmos contagiantes e movimentos graciosos, as danças contam histórias e perpetuam a herança cultural.

As comidas típicas da região são uma celebração da culinária polonesa, trazendo à mesa uma variedade de sabores autênticos. Broa assada, pierogi, cuque, bigos feitos com costela de porco e repolho azedo, e o clus - um nhoque recheado, são apenas alguns exemplos das deliciosas iguarias presentes nos cardápios tradicionais. Carnes de porco e sopas feitas com cenoura, legumes e tomate completam essa experiência gastronômica única.

A fé também desempenha um papel significativo na tradição. A bênção dos alimentos realizada no final da quaresma, seguida pela partilha de refeições em comunhão, é um momento de profunda conexão espiritual.

Museu

Com muito carinho por toda a história dos poloneses, Mafalda abriu as portas do Centro Cultural e Histórico Polska, o qual coordena, para a reportagem da Folha de Campo Largo. Seus bisavós Andre Halerz e Antonia Biernaski vieram da Polônia com quatro filhos e deram início à história desta família. Ela é uma pesquisadora da história dos imigrantes e contou em detalhes sobre as vestimentas, móveis, decorações nos lustres, imagens santas, os enxovais bordados, utensílios de trabalho utilizados antigamente, entre tanta história valorizada no Museu.

Uma pessoa que ajuda no resgate e em manter vivas as tradições locais, Mafalda estudou e cresceu ali. Desde a infância, ela estava imersa nas atividades culturais e religiosas, desde as cruzadinhas até os grupos de escoteiros e filhas de Maria. Estudou com seu atual marido, Afonso, que compartilhava seu amor pelo teatro e encenações. Embora tenha se mudado para Campina do Siqueira aos 21 anos, ela manteve um forte vínculo com suas raízes na Colônia Dom Pedro, onde sempre está presente, envolvida com o Museu, os eventos e a cultura como um todo.

Valorização da batata

A celebração da Festa da Batata, iniciada em 1962, teve um grande destaque em 1997 e há 20 anos se mantém mesmo que com o cultivo quase extinto. A festa, que ocorre no segundo domingo de julho, é a valorização à cultura da batata e é marcada por uma missa com cantos em polonês, cerveja caseira e uma exposição de carroças antigas. A festa não apenas celebra a cultura local, mas também une a comunidade em uma celebração.

O legado das tradições de Nova Polônia também é fortalecido pelo apoio do consulado da Polônia em Curitiba. Cursos de polonês e o apoio ao museu local são exemplos de cooperação que enriquecem ainda mais a herança cultural.

Um local de memórias que permanecem vivas através dos séculos. De danças e comidas a costumes religiosos e laços familiares, cada aspecto contribui para a rica cultura que define essa comunidade. E enquanto o tempo avança, as tradições permanecem firmes, como uma ligação entre o passado e o presente.