Sexta-feira às 22 de Novembro de 2024 às 11:13:30
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Falecimento de jovem que lutou contra um câncer de mama comove a internet

Falecimento de jovem que lutou contra um câncer de mama comove a internet

De maneira simples e sincera, Eduarda Ramos de Oliveira, moradora de Campo Largo, marcou a vida de milhares de seguidores que se dedicavam em acompanhá-la no aplicativo TikTok. A jovem de apenas 24 anos lutava contra um raro câncer de mama, diagnosticado em 22 de maio de 2022 e compartilhava um pouco da sua rotina com 88 mil seguidores. Em seus vídeos postados na plataforma, Duda, como era conhecida, chegou a ter mais de três milhões de visualizações, além de comentários a incentivando durante o tratamento.

Grande apreciadora de cafés da tarde em família, Duda tinha um filho de apenas 05 anos, um namorado, uma grande conexão de amor e carinho entre seus amigos e família, proximidade com a mãe, Graciela Ramos, e muitos sonhos e planos pela frente, que infelizmente foram interrompidos no último dia 05 de agosto, quando Duda faleceu, em casa.

A Folha conversou com a sua mãe, Graciela, que relembrou um pouco de como era a filha. “Ela teve uma infância comum, saudável. Era muito apaixonada por animais e sempre voltava com um filhotinho de cachorro em casa. Sonhava em ser veterinária, chegou a cursar, mas acabou parando a faculdade. Ela era uma pessoa muito doce, com personalidade forte, que sabia o que queria. Muito amiga de todos. Fico admirada como as pessoas se encantaram com ela por meio dos vídeos que ela postava, mesmo com um pouquinho sobre ela, já se afeiçoaram. Isso prova que ela realmente era uma pessoa muito boa, muito nobre.”

Como tudo começou

A mãe relembra que Eduarda tinha muitas dores nas costas e tratava com medicamentos e sessões de fisioterapia. “Em 2022 começou a piorar muito as dores que ela sentia. Realizou exames e foi constatado o início de uma hérnia de disco, mas mesmo com o tratamento, tudo parecia piorar e tinha vezes que ela não conseguia andar e os médicos não conseguiam entender como isso era possível, pois ela estava em tratamento e levava tudo certinho”, relembra.

Já no começo do ano, um caroço apareceu no peito, que ela sentia uma ardência ao tocar, e um pouco de secreção saía do seio. Ela chegou a consultar com mastologista, fez ultrassom e foi dito que poderia ser um cisto fibroso, sendo descartada a possibilidade de câncer ou outra doença mais grave, conforme relata a mãe. Cerca de quatro meses depois, outro caroço apareceu em Duda, esse com mais sensibilidade ao toque e o agendamento com outro médico foi realizado, porém ainda demoraria um mês.

“Neste meio tempo ela começou a ter muita dor na coluna, tanto que ela precisava deitar no trabalho dela. Levamos ela a vários tipos de tratamento, mas nada fazia amenizar a dor. Até que um dia ela sofreu um amortecimento em todo o lado esquerdo. O médico acreditou que poderia ser por conta do problema de ansiedade somatizado pela dor, a medicou e liberou. Na consulta com o ortopedista, dias depois, ele disse que esse sintoma não tinha ligação com o problema na lombar e que a encaminharia para o neurologista”, relembra.

O neurologista pediu exames para tomografia, com suspeita de início de AVC, também por conta dos vários medicamentos que ela estava tomando. No exame foi constatada uma lesão secundária na calota craniana, que precisou de mais exames para chegar a um diagnóstico.

Duda foi internada e no dia seguinte veio a notícia. “Quando os médicos chegaram no quarto ela só dizia que não queria morrer, que tinha um filho, uma casa e que iria casar. Eles pediram para que ela se acalmasse e perguntaram se ela tinha alguma alteração na mama e disseram que tudo indicaria que ela estivesse com câncer de mama. Ela chegou a perguntar sobre a cabeça e eles usaram a palavra ‘infecção’. Ela ficou um pouco mais aliviada, achou que poderia fazer a cirurgia para retirada. Eu fui atrás do médico e ele me explicou que a ‘infecção’ na verdade já eram metástases”, diz.

Iniciaram então os exames complementares para saber qual era o subtipo de câncer. “Eu sempre indo atrás dos médicos para saber o que estava acontecendo. Lembro que a oncologista foi bem clara comigo, porque eu não estava entendendo o que acontecia. Ela me olhou e falou que a minha filha estava com um câncer raro, agressivo e que evoluía rápido. ‘Uma loteria ao contrário’ e que não teria cura. As costas, os seios, os ossos dela estavam todos tomados pela doença e agora estava na cabeça”, retrata.

“Naquele momento eu perdi o chão, pedi para o meu genro subir e fui para a Lagoa, gritei, questionei, chorei muito com a notícia que eu recebi”, completa.

Tratamentos

A médica disse para a mãe que caso ela respondesse bem ao tratamento, poderia sobreviver por mais tempo. “Porém, quando começou o tratamento a gente não recebia uma notícia boa. Foi um ano e três meses de avanço da doença. Eu sempre acabava filtrando as informações para ela, porque ela era muito ansiosa e sabia quando eu conversava com os médicos. Ela se apegava à ideia de conviver com a doença, como acontece com muitas pessoas em cuidados paliativos”, conta.

“Um câncer muito agressivo tem chances de proliferação de 20%; a Duda tinha 60%, era três vezes maior. Meu coração ficava apertado, mas eu nunca falei para ela que as chances de sobrevivências eram baixas. Eu mantinha nela a esperança e isso fez com que ela vivesse por mais tempo conosco. A equipe fez o possível, começou tratamentos de imunoterapia para tentar parar o avanço da doença, mas não deu certo. Tentávamos criar um ambiente menos sofridos para ela”, diz.

Conversas que ficarão para sempre

A mãe foi uma das pessoas que mais passou tempo com Duda, o que permitiu que elas tivessem longas conversas, muitas vezes marcadas pelo tom de tristeza, porém essenciais. Desejos, sonhos e sobre como seria após a partida de Duda foram revelados. “Não era fácil fazer com que ela falasse, mas às vezes era inevitável. Muitas são as lembranças que eu tenho dela, os desejos que ela tinha e que eu vou lutar para eles se cumpram”, retrata.

“Minha filha se foi, mas a memória dela segue presente no coração de cada um que a conheceu, independente da fase da vida. Só tenho a agradecer pelo carinho que minha família e eu recebemos ao longo destes dias, de quando ela ainda estava viva e teve uma anemia severa, em que pessoas se uniram para ir doar sangue para ela. Em nome da nossa família, o nosso muito obrigada”, finaliza.