Quem conheceu a Lagoa ainda na década de 1980 lembra-se deste ser um local com lixo, poluído e nem de longe parece ser o parque municipal estruturado que é hoje. Em dezembro de 2023, o Parque da Lagoa completará 27 anos e segue sendo uma grande atração para os campo-larguenses, seja aos finais de semana, feriados prolongados ou mesmo no início da manhã e finais de tarde com caminhadas e corridas.
Oficialmente, o Parque da Lagoa foi inaugurado em 1996. Conforme matérias divulgadas pela própria Folha de Campo Largo nesta época, o então prefeito Emídio Pianaro Junior tentava desde o início da sua administração negociar a compra da área, que era particular, apesar de ser frequentada pela população, sem toda a estrutura existente.
“Somente no início de 96 surgiram os primeiros sinais de que seria possível a permuta de vários terrenos em volta da Lagoa, que permitissem a implantação do parque. (...) De posse da área para a Prefeitura, Pianaro Junior conseguiu, junto à Secretaria de Estado do Meio Ambiente, recursos para a concretização da obra, com uma contrapartida do Município”, descrevia a matéria.
Então, ao longo de seis meses muito trabalho precisou ser realizado para a limpeza e implementação de estruturas de proteção de água que a abastecem, ergueram margens, construíram uma pista de corrida e – antigamente – também tinha portal, trapiche para pesca, uma ilha e banheiros públicos.
A inauguração em 1996 teve um tom de despedida do então prefeito, que ressaltou no discurso “ter feito o melhor por Campo Largo durante a gestão”. De fato, a abertura do parque campo-larguense “modificou a paisagem urbana na região, valorizando os imóveis nas proximidades do parque e entregando à população uma das mais privilegiadas áreas de lazer do Município”.
O autor do projeto de implementação da Lagoa foi Edson Leucz, vereador na época, mas a ideia é mais antiga, sendo registrada na coluna da Folha de Campo Largo, Histórias de Antigamente, em 1989. Neste texto, o autor Durval Weber traz uma foto de 1930, onde mostra a turma do TG 677 correndo às margens da Lagoa, às 7h30, de “culote” – uma calça tipo ceroula - em uma manhã gelada de inverno. Inclusive ele está retratado na imagem, na época com 17 anos.
“Fui visitá-la (a Lagoa) ontem e fiquei pensando na ideia do Sr. Nelson Leucz , em transformá-la num recanto de lazer, com suas árvores ao redor, churrasqueiras, pedalinhos para as crianças, torneio de pesca (depois de povoá-la com alevinos que a Copal distribui gratuitamente), uma drenagem com manilhamento das fontes de água (banhados) para manter um nível apropriado a todas as normas de um belíssimo recanto. Sr. Nelson arregace das mangas, convoque todos os residentes deste populoso bairro e façam pressão na Prefeitura, tenho certeza que o Bequinho o atenderá, está no seu programa de Governo, não é obra para muitos milhões”, escreveu.
A inauguração, porém, veio somente em 1996, e contou com a presença de centenas de campo-larguenses, o prefeito, vereadores e secretários municipais.
Transformações ao longo dos anos
Com o passar destes 27 anos, algumas coisas mudaram no planejamento original. Hoje o Parque da Lagoa conta com dois playgrounds, uma academia ao ar livre, uma miniarena, uma quadra de areia, além de iluminação em LED, tornado-se mais segura para quem frequenta à noite.
Com a vinda do Hospital do Rocio para a região, acabou se tornando também uma região de descanso e distração para quem aguarda consultas, exames e horários de visita no hospital. Porém, cada dia mais o parque reserva belos pôr do sol e memórias a quem passa por ali, seja ou não de Campo Largo.
As lendas da Lagoa
Sendo conhecida popularmente como “Lagoa Encantada”, a Lagoa possui muitos contos e lendas contados de geração em geração.
“Existe em Campo Largo uma lagoa misteriosa, cujas águas desaparecem, por vezes, repentinamente. Tendo sido transformada em parque, permanece, ainda, envolta em lendas. Uma das lendas locais diz que ela foi criada através das crenças dos índios Tingüis, que eram os habitantes do local na época da colonização. Segundo esta lenda, Tupã, de visita à terra, derramou sobre um vulcão um cálice de água que extinguiu suas chamas. Mas a enorme serpente de duas cabeças, habitante das profundezas da terra, ficou soterrada, sendo que uma das suas cabeças se encontra na Lagoa, outra em Curitiba, e sua cauda na praia de Leste”, traz um trecho do livro Lendas e contos populares do Paraná (2005), de Renato Augusto Carneiro Junior, retirado da edição Histórias de Campo Largo, escrito por Geyso Germinari.
Outra história trazida pela população campo-larguese faz referência a um aspecto religioso-católico. “Por outro lado, segundo o relato de Edácia do Nascimento Saldanha, o surgimento da lagoa tem outro mistério e outra história. Ela conta: ‘numa sexta-feira santa um padre entrou em um clube da cidade, onde se dançava um animado baile. Com a Bíblia na mão exortou os presentes a respeitarem o dia. Não tendo sido ouvido, retirou-se do lugar indignado. No entanto, havia esquecido sua Bíblia. Quando voltou para apanhá-la encontrou a lagoa, cujas águas haviam tragado o salão de baile com todos que estavam dentro”, finaliza o trecho.