Sexta-feira às 01 de Novembro de 2024 às 04:28:15
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Padroeira do Brasil é acolhida de forma especial no bairro Aparecida

Fiéis envolvem-se de forma voluntária para dar vida a cerca de 20 pastorais e também para tornar possível o sonho da nova Igreja

Padroeira do Brasil é acolhida de forma especial no bairro Aparecida

A Igreja Nossa Senhora Aparecida, no bairro Aparecida, em Campo Largo, sempre foi bem frequentada e com muitos devotos que faziam aqui suas promessas. Segundo o empresário Mario Boaron, há uma devoção muito forte à padroeira do Brasil e aqui no bairro isso é muito presente. Tanto que a festa no dia 12 de outubro é muito grande e todo o envolvimento da comunidade ajudou a elevar a Igreja a ser uma paróquia.

“Há vários testemunhos de pessoas que passaram por dificuldades e um verdadeiro milagre se vê no novenário. Eu acredito que nossa devoção é pelo amor pela paróquia. É aquele amor à mãe, a Mãe Aparecida, padroeira, nossa intercessora”, declara Angela Guarezi Okraska, da Paróquia.

Em entrevista à Folha, ambos ressaltaram que não estão presentes em uma comunidade rica, mas que a participação dos fiéis e contribuição é surpreendente, com aquilo que podem. “Partilham junto uma ideia, abraçam e trabalham juntos”, ressaltam sobre a participação nas missas, eventos e envolvimento com as pastorais.

Angela deu exemplo da Páscoa, com a quantidade de pessoas que participaram das celebrações. “Muitos comentando que foi uma coisa emocionante de ver a devoção, a participação do povo na comunidade. E é gratificante que a gente vê todas as pessoas voltando para a igreja, a sede de Deus, na certeza de Nossa Senhora.

História
A construção da Igreja teve início em 22 de maio de 1962, com a primeira missa campal sendo realizada em 16 de setembro do mesmo ano e com pedra fundamental oficializada em seguida, no dia 13 de outubro. A Igreja foi considerada finalizada em 15 de outubro de 1967. Segundo Angela, iniciou-se com uma capelinha de madeira e com o crescimento da cidade e de fiéis começou a ser ampliada.

Desde aquela época, o envolvimento dos fiéis foi muito presente. Muitas famílias que se mobilizavam para tornar a Igreja mais fortalecida e maior, até que em 22 de dezembro de 2007 a Igreja foi nomeada uma paróquia, não mais pertencente à Paróquia Nossa Senhora da Piedade.

“Quando uma comunidade se sobressai e começa a ter uma participação bastante ativa, surge aquele pedido junto à Mitra, para que aquela comunidade seja realmente elevada à paróquia, uma vez que ela exerce uma grande importância”, frisa Mario, comentando que capelas como a Jesus Misericordiosos faziam parte à Paróquia do Bom Jesus e passou a integrar a Aparecida. “Uma mistura de três paróquias aqui. Nós temos Igrejas que eram da paróquia do Bom Jesus, Santa Cecília e da Piedade”, completa Angela.

“Eu fui coordenador da Pastoral Familiar da Capela Aparecida durante vários anos. Depois coordenei a Pastoral Familiar da Piedade e depois fui convocado pelo Padre Aguinaldo a constituir a Comissão de Obras para essa nova igreja que está sendo construída, isso em 2014”, contextualiza Mario, lembrando também do atuante Dalton Schipiura (in memorian), de Claudemir Kuroski e os demais membros do CAEP.

Nova Igreja
A demolição da antiga Igreja para ocupar a nova Igreja acabou sendo uma polêmica na comunidade, pois havia pessoas que não concordavam com isso e por isso foi um desafio. “Muitos debates, algumas críticas também, e até hoje a gente escuta. Mas infelizmente, até por normas da própria Prefeitura, na hora da aprovação, não tinha como manter as duas igrejas. E como a concepção estrutural da antiga igreja não tinha como ampliar e já não comportava o número de fiéis que aqui frequentavam, tinha que se optar por algum espaço maior e a única forma de ter esse espaço maior foi uma nova construção, infelizmente tendo que sacrificar a construção antiga”, comenta Mario sobre a situação há cerca de mais de um ano.

A antiga Igreja tinha capacidade para 200 pessoas sentadas, enquanto a nova consegue receber 908 fiéis sentados. “Eu diria que para ficar pronta tem quase mais uns dez anos, para nós termos uma Igreja com espaço até decorado e com os acabamentos necessários”, explica Mario, afirmando que hoje a Igreja tem condições de uso, mas que faltam muitos detalhes. “A parte cara de uma igreja é a parte artística, a sua decoração, ou seja, as pinturas sacras, vitral, pisos. Eu diria que pelo menos talvez a gente tenha 60% dos gastos já aplicados na Igreja. Quem vem na igreja diz que a igreja está pronta, mas ela não tem um vitral colorido, o piso ainda é bruto, não tem forro, não tem o solo adequado. Grande parte das paredes que nem pintura tem. Então esses acabamentos são muito caros”, explicando, citando que a obra é adequada à situação financeira da Igreja.

Ações sociais
Cerca de 170 famílias são atendidas mensalmente pela Paróquia com a doação de cestas básicas. Tudo fruto da doação e de ações que são revertidas com este fim. A cada dois meses é realizado bazar com o que arrecadam de roupas e calçados, por exemplo, o que ajuda na compra de alimentos para a cesta básica, além do que recebem de doações diretas de alimentos. A Pastoral Social mantém diálogo constante com outras Pastorais para prestar este auxílio e também para conseguir arrecadar doações. São dois mil quilos de alimentos mensalmente doados para famílias carentes.

Questionados sobre os critérios para receber uma cesta básica, são taxativos: “ter fome”. “Se você tem a humildade de vir pedir comida, eu acho que aí já é um critério”, comenta Rosilda Puszczynski Ferreira, da Pastoral Social. Nas pastorais também fazem um trabalho de encaminhar as pessoas para algumas vagas de trabalho. Em especial, fazem um trabalho de orientação e aconselhamento, porque veem muitas famílias desestruturadas, com problemas.

Sobre a motivação em realizar este trabalho social, Rosilda diz que quando se vê que tem pessoas que se alegram até com ganhar o pão, “aí você muda a tua visão. Eu podia estar só passeando, podia estar só curtindo porque eu já sou aposentada, já sou avó. Mas enfim, às vezes trabalhar assim só de ver essa alegria, essa emoção de ver que tem pessoas que se beneficiam disso já vale a pena.” Angela destaca o olhar de gratidão também.
Um dos exemplo de trabalho voluntário são as mulheres envolvidas e engajadas para toda segunda-feira produzir pães e salgados para vender e arrecadar recursos para Igreja.

Porta Santa
Angela ressalta que um dos momentos marcantes na Paróquia foi uma missa com o Padre Aguinaldo em que foi celebrada a Porta Santa. Segundo o Papa Francisco, é uma “Porta da Misericórdia e quem passar por ela poderá experimentar o amor de Deus que consola, que perdoa e dá esperança”. Representa de forma simbólica o passo do pecado à redenção, da morte à vida, do não crer à fé, é a via da salvação.
“Esse foi um momento bem importante para a paróquia. A porta da Igreja teve um rito de abertura, uma missa solene. As pessoas até puderam passar por essa porta, receber as indulgências, receberam a absolvição dos pecados”, detalha Angela, citando que não é algo comum de acontecer nas Igrejas, autorizado pelo bispo, e por isso foi tão valorizado.

A Igreja e o bairro
Eles acreditam que o bairro Aparecida é formado por muitas pessoas boas e lembram que a Igreja não tinha nem grades em volta e a comunidade vivia naquele local. “A gente se deitava embaixo dos cedros e jogava bola na rua. Eu dava aula de coroinha embaixo dos cedros. Na época a gente não tinha uma sala de catequese para dar encontro. Hoje em dia a gente já tem uma sala de catequese que é também quase uma escola, com salas equipadas e tudo”, ressalta Angela.

Um bairro sem indústrias e Mario lembra que marcaram época os leilões na Igreja com muitas prendas que eram doadas para arrecadar dinheiro. “O seu Luizão das Neves normalmente gritava o leilão daqui e isso é uma lembrança que ficou e praticamente se perdeu na história. Outra coisa é que antigamente todas as crianças brincavam indo pra escola, e hoje não saem de casa, parece que ficam reféns, não podem ficar na rua brincando. Essa liberdade era muito boa, uma infância de brincar na rua”, argumenta.

Angela lembra que foi uma infância envolvida com a Igreja, no pátio brincando de esconde-esconde, queimada. “Não tinha perigo, né”. Ela cita que foi a primeira coroinha menina da Igreja, com o Padre João Chemin. Um dos primeiros ministros da Eucaristia a servir na comunidade foi o pai dele, Arlindo Chemin.


Angela, Mario e Rosilda conversaram com a Folha sobre os projetos e trabalhos da Paróquia