Para quem quer saber mais sobre a origem das famílias e gosta de história local, o livro “Balbino Cunha (Campina): A Colônia que veio do Pó – História e Genealogia”, escrito pelo autor Osmar Aggio, é mais do que pesquisa. A riqueza de detalhes trabalhada pelo autor ao longo do livro retrata cuidado e muito carinho com um dos locais mais antigos de Campo Largo, a Colônia Balbino Cunha – Campina, trazendo informações importantes sobre famílias tradicionais e pioneiras na região.
O livro foi publicado em dezembro de 2017, com 360 páginas, pela Arte Editora e está disponível na Biblioteca Pública Dr. Francisco Ribeiro de Azevedo Macedo, no Centro, apenas para consulta no local.
Conforme o próprio autor, “os italianos que formaram a Colônia Balbino Cunha vieram todos da Planície do Pó, na Região do Vêneto. A expressão ‘veio do pó’ tem um caráter simbólico, por serem camponeses que vieram do nada, da miséria”, sendo apontada como uma das principais causadas da saída da Itália.
O autor descreve que a Colônia Campina está localizada ao Sul do Município de Campo Largo, na divisa com Araucária, e tem como limites naturais os Rios Cambuí, Verde e Ribeirão
História em destaque
Um dos pontos altos do livro é o destaque à história daqueles que construíram a região, sendo contada desde a vinda dos imigrantes para Campo Largo, estabelecendo um itinerário, saindo da Itália e chegando ao Rio de Janeiro, uma “rota obrigatória” a quem chegava ao Brasil no século XIX, mais especificamente a Ilha das Flores, onde se encontrava a Hospedaria dos Imigrantes.
Ao chegar no Rio de Janeiro, tinham como destino Paranaguá, de onde partiam de trem para Curitiba e a pé vieram para Campo Largo, chegando em 1889. O primeiro nascimento na Colônia Balbino Cunha foi registrado em 27 de janeiro de 1889, cuja criança se chamava Piero Borato Bianco, filho de Giosué Bianco e Giovanna Borato, sendo um dos marcos do início da colônia.
Aggio escreve que “a história da Colônia Campina, cronologicamente, é paralela à de Campo Largo”. Retrata que dos vários sesmeiros - colonos cristãos, que tinham o direito de usufruir assegurado por meio de cartas de doação - que receberam terras nessa região, um destaque especial ao Capitão Antonio Luiz Lamin, que possuía várias sesmarias em Campo Largo.
“Por sua bravura e coragem, esse sesmeiro recebeu o apelido de ‘O Tigre’, que acrescentou a seu nome, em substituição ao de Lamin. Estando por estas terras antes de 1700, em busca de ouro, o Capitão Tigre é considerado o fundador de Campo Largo. Suas terras foram obtidas em sesmaria em 12 de abril de 1706, com o nome de Campina do Rio Verde, a primeira denominação do local onde hoje está a Colônia”, escreve.
O livro traz a história que em “24 de janeiro de 1726, como dote do casamento de sua sobrinha, Dona Ana de Mello Coutinho, o Capitão Antonio Luiz Tigre doa a metade da sesmaria da Campina do Rio Verde, local onde passam a residir Ana com seu marido, Domingos Gonçalves Padilha. São estes os primeiros moradores oficialmente registrados da colônia”.
Acrescenta também que onde hoje é a colônia já foi chamado de “Quarteirão da Cata”, sendo o segundo nome da localidade, devido a “um dos processos de exploração de minérios utilizado na região, na busca por pedras preciosas, especialmente o ouro”.
Nome Balbino Cunha
O terceiro nome dado à colônia foi Balbino Cunha, em homenagem ao presidente da província à época em que eles chegaram às terras, no ano de 1889. “Mesmo não existindo nenhum registro oficial de alteração de nome, os moradores dão preferência ao nome atualmente usado, Colônia Campina. As denominações de primeiro, segundo e terceiro nomes oficialmente nunca existiram, marcam apenas uma sequência cronológica e histórica utilizada por este autor”, situa.
“As raízes da Colônia Balbino Cunha logo se estenderam, através da migração de seus moradores, para lugares como Botiatuva, Rio Verde, Marianna, Rodeio, Itaqui, Campo Largo, além de outros municípios, como Irati, Imbituva, Balsa Nova, Curitiba, Porto Amazonas, Palmeira, Lapa, Araucária, Ponta Grossa, Guarapuava, Ortigueira, Pitanga, Maringá, Canoinhas. As famílias tornaram-se numerosas, e núcleos como Botiatuva e Rodeio receberam muitos fundadores da Colônia Balbino Cunha já nos primeiros anos”, pontua.
Conforme relatado no livro, foi registrada a primeira notícia sobre a colônia no jornal Gazeta Paranaense, de 30 de maio de 1889, com o título "Inauguração dos núcleos ‘Balbino Cunha e Dona Marianna’”. “Diz o texto que, no dia 25 de maio desse ano, partiu uma comitiva de Curitiba para Campo Largo, a fim de inaugurar os núcleos coloniais recentemente criados neste município. Várias autoridades estavam presentes, entre elas o Presidente da Província, Balbino Candido da Cunha, e o Inspetor Especial de Terras e Colonização, o Dr. Candido Ferreira de Abreu.”
"Ao amanhecer do dia 26, ficou resolvido que se ouviria missa, e que, após, seria feita visita ao Núcleo Balbino Cunha. Como, porém, houvesse demora em serem preparados os carros, assentou-se que não seria visitado aquele núcleo e que se voltaria para a capital no mesmo dia”, traz um registro descrito o Núcleo D. Marianna. Ainda, o autor retrata que “houve missa às 9 horas, rezada pelo padre Antonio Machado de Lima, na matriz da cidade. Após almoçarem, a comitiva retornou a Curitiba.
Dessa forma, por estes acontecimentos terem sido parte de uma visita oficial, 25 e 26 de maio de 1889 passaram a ser as datas de criação das Colônias D. Marianna e Balbino Cunha”.
Aggio escreve que “se fossem inaugurar a colônia, teriam que voltar à tarde e pernoitar mais uma vez em Campo Largo, e isso talvez fosse tempo demais para a comitiva ficar ausente da capital. Acredita-se que o real motivo foi a crise política que se estabelecera na época. O governo do partido conservador do presidente estava isolado, sendo toda a assembleia formada por liberais oposicionistas, liderados por Jesuíno Marcondes, que viria a ser o próximo presidente. Tanto isto é verdade que, no dia 29 de maio de 1882, o Doutor Balbino entregou seu governo ao Partido Liberal, exatos três dias após retornarem da viagem a Campo Largo”, pontua.
Escola na Campina
A primeira professora da colônia é registrada no livro como D. Hermínia de Azeredo Costa, a qual solicitou ao Estado, bancos-carteiras e livros para registros de exames e chamadas. “Em 1899, a professora, D. Hermínia, ministrava aulas para uma turma mista de 48 alunos, sendo 24 do sexo masculino e 24 do feminino. Uma nova escola foi construída em 1905, com o nome de Escola Pública da Colônia Balbino Cunha, a qual foi demolida em 1981. (...) Foi construída uma nova escola, com nome de Escola Rural Municipal São João, que esteve em atividade até 1998, 100 anos após o início das atividades escolares na colônia”, retrata.
Atualmente, a Colônia Balbino Cunha não possui instituições de ensino ativas hoje e os estudantes acabam frequentando escolas e colégios da região.