Os alimentos que produziam trocados por produtos que precisavam era uma realidade para Seu Luiz Berton Manera
A casa construída há mais de 120 anos, toda preservada, ainda é o lugar que abriga os momentos festivos da família Manera, na Colônia Campina. A troca da vida no campo para a cidade não é nem cogitada. Um silêncio que é como música para os ouvidos, pois permite valorizar os sons da natureza, em uma vida mais simples e feliz.
Com boa memória e saúde, Luiz Berton Manera, 79 anos, recebeu a Folha e lembrou de sua infância, histórias que dão sentido ao que hoje é a região. Ele conta que foi criado na lavoura, junto com seus pais, avós e tio. “Nós plantávamos milho, feijão e arroz para o gasto, colhia e tinha a carrocinha e dois burrinhos. A gente tinha que ir pra Campo Largo, lá no Pangracio e no Puppi, fazer troca de alimento para nós vivermos, porque não tinha nada, né. Carne nós comíamos uma vez por ano, não tinha condições. Matava um porquinho e botava dentro de uma lata com banha e ficava lá até terminar. Agora não, se falta carne no almoço não vai”, detalha. Agora, na região a maioria das plantações são de soja, que substituíram as culturas em grande escala de milho, feijão e cebola na região.
Ao se casar, foi ali que escolheu continuar vivendo e por um período moravam todos na mesma casa. “Meu pai tinha sete irmãos, quatro mulheres e quatro homens que eram irmãos. Quando moravam não cabiam aqui dentro, né. Aí fizeram um quarto lá em cima. Imagine, quando estava quente, que calor, quando estava frio, quanto frio que não estava. Naquele tempo, lá não era que nem agora, não tinha coberta de pena de ganso, né. Maria Santíssima no barranco aqui ficava gelo dessa altura assim, de um dia pro outro. Agora não, agora quase nem tem geada mais.”
Na infância ele diz que não tinha nada de brinquedo e precisavam criar brincadeiras no terreno de casa mesmo. “Não tinha carro, não tinha nada, só uma carroça e um brinquedo do mato mesmo. Aí a falecida minha nona tinha até a máquina de costura aqui, comprava os retalhos e fazia a roupa em casa mesmo. Não tinha como comprar, né”, conta. Família bem tradicional italiana, com o avô vindo da Itália, diz que eles falavam tudo em italiano e aprendiam com a professora dona Emilia. “Guarda che bello dire al di fuori. C’è il sole vedi!”
Saudade dos velhos tempos...
“É, da saudade, né. A gente queria que vivesse para sempre, mas chega uma hora que tem que partir. Eu sempre trabalhando, limpando e não tem um dia que não tenha o que fazer. Há 50 anos era só gente italiana que tinha aqui. As famílias tradicionais aqui eram Seguro, Fior e a nossa, Maneira e Stocco. Depois, quando começaram a construir a barragem, veio gente de fora e começaram as meninas a casarem e ficaram por aí”, contextualiza Sr. Luiz.