Parceria entre colégio e Acicla resulta em um projeto no qual alunos vão apresentar suas ideias de negócio a possíveis investidores.
A vivência do trabalho parecia distante a alunos na faixa etária de 15 anos, que muitas vezes não conseguiam entender na prática a importância do que era aprendido em sala de aula. Até que uma professora da rede estadual de ensino propôs um trabalho que agora em parceria com a Associação Comercial e Empresarial de Campo Largo – Acicla acabou se tornando um projeto, o qual deve em breve passar por uma expansão.
O projeto Jovem Empreendedor de Campo Largo está sendo coordenado de forma voluntária por Paulo Dias Fernandes, representante da Acicla, economista, consultor financeiro empresarial e que trabalha com alunos do Ensino Médio com educação a distância. Ainda é um projeto piloto e que tem tomado proporções surpreendentes.
Paulo explica que o projeto está sendo planejado em sete grandes eventos, na forma de palestras com empresários e direcionadas aos alunos de acordo com a teoria em sala. “Em todas trabalhamos características do comportamento empreendedor, como ser persistente, sobre persuasão e rede de contatos, buscar conhecimento, busca de oportunidades e iniciativa, correr riscos calculados, exigência de qualidade e eficiência, comprometimento, estabelecimento de metas, monitoramento e planejamento sistemáticos, independência e autoconfiança”, detalha Paulo. “Em poucos anos queremos ver estes alunos abrindo empresas e criando negócios. Vamos estimular e propiciar sucesso para estes jovens empreendedores de Campo Largo, que vão gerar empregos e riqueza na cidade”, completa.
O projeto iniciou em março e vai até julho deste ano no Colégio João XXIII, na Rondinha. O último grande evento será na Semana Empresarial da Acicla, a ser realizada na casa da Cultura, onde três projetos já selecionados no colégio serão apresentados aos empresários, com a possibilidade de algum empreendedor investir na ideia. Vão conectar ideias com recursos disponíveis e a distribuição da tarefa em equipe também serão avaliadas. Durante este período, a Acicla está aberta para que estes alunos vivenciem mais na prática e tenham os empresários em suas redes de contatos.
Paulo destaca que tem sido importante essa iniciativa para que vejam a importância de buscar qualificação e conhecimento antes de iniciar o próprio negócio. É uma oportunidade de entregar conceitos para os jovens antes deles abrirem a empresa deles. “Não existe garantia de sucesso, mas sim de minimizar erros e potencializar os acertos”, afirma.
Para o presidente da Associação, Pedro Parolin Teixeira, é preciso aproximar a juventude para que entre no mercado de trabalho já entendendo como funciona, que estejam preparados para serem empreendedores. “Regar a semente do empreendedorismo desde jovens”, acrescenta, comentando que alguns já têm o espírito empreendedor, mas que precisam de incentivo e apoio para seguirem no caminho certo.
Professora se reinventa com novo projeto
Cerca de 180 alunos do 2º e 3º anos do Ensino Médio estão envolvidos no projeto Jovem Empreendedor, sob supervisão da professora de Matemática Fabiane Schor Mendes, que há 15 anos atua em escola e atualmente leciona a disciplina de Educação Financeira, que envolve empreendedorismo, programação e pensamento computacional.
“Em 2021 foi o ano em que foi implantada Educação Financeira no Ensino Médio e com conteúdo de empreendedorismo no final do ano, mas senti que os alunos viam isso como algo distante”, relata ela, que então pensou em fazer uma forma deles irem atrás para desenvolver um projeto de empreendedorismo, livres para escolher o que apresentariam em uma feira. “Surgiram ideias bem interessantes, como uma lavanderia móvel usando um ônibus. A maioria foi para o lado da alimentação, até mesmo de algodão doce foi um sucesso”, diz.
Com tantas ideias, a professora sentiu a necessidade de alguém da área olhar estes trabalhos de forma mais técnica, quando então surgiu o convite para a Acicla prestigiar a feira. Ela conta que observaram características de venda nos alunos, ideias bem criativas, análise de concorrência e reinvenção do próprio negócio no meio da feira. Em 2022 foi realizada a feira novamente e se iniciou a ideia de tornar o empreendedorismo um projeto. De encontro a isso, neste ano o Empreendedorismo entrou como disciplina.
Fabiane explica que ensinou aos alunos sobre custos, lucro, conceitos desde os mais básicos, perfil do empreendedor, visão, análise de concorrência, pontos fortes e fracos, para reconhecerem as próprias habilidades.
Ela detalha que com esse projeto os alunos podem ser vistos por outras pessoas e começam a caminhar dentro do empreendedorismo local, com possibilidade de os empresários investirem, assim como renomados programas como Shark Tank.
“Quando os alunos levam a sério, veem o resultado melhor. De ideias ‘nada vê’, como eles falam, podem surgir grandes negócios”, diz. Na feira realizada na escola, os alunos criam suas empresas e comercializam os produtos ou serviços. O dinheiro arrecadado fica para eles mesmos, apenas uma parte para escola realizar ação beneficente, com compra de cesta básica para doar a famílias carentes na própria escola.
Nem todos os alunos podem se interessar e se dedicar com a mesma vontade para o empreendedorismo, mas Fabiane diz que se conseguirem alcançar o objetivo com algumas pessoas já é válido. “Conseguimos mostrar que não é difícil de ser alcançado, tem que trabalhar, se dedicar, ter coragem e aceitar até que ponto pode se arriscar. Assim como pra mim, nem sabia que um dia ia estar à frente deste assunto em nova disciplina, é tudo muito novo e comecei a aceitar estes riscos. Estava muito segura dentro da Matemática e foi um desafio”, declara.
Envolvimento dos alunos
A aluna Eduarda Caroline Frederico, de 15 anos, não mede esforços para já se preparar para o futuro. Ela pega ônibus na Ferraria às 5h45 todos os dias para chegar na escola na Rondinha por volta de 6h25. “É difícil, mas tenho que encarar, porque a escola é muito boa. Não penso em sair daqui pelas oportunidades de estudo que eu tenho”, declara ela, que com esforço a família gasta R$ 200 em transporte público com ela por mês.
Segundo ela, tem tido experiências que abrangem visões que antes ela não percebia. “Pensei de forma diferente do que antes pensava, não é aquela coisa presa. Abriu a nossa mente e vem uma ideia brilhante. Quero trabalhar marketing digital porque onde eu moro as empresas não conseguem fazer propaganda de seus produtos e poderiam investir no marketing digital na região. Com dificuldade de trabalhar em equipe, com as aulas e palestras já viu que precisa desenvolver esta habilidade para se dar bem nos negócios.
Já o aluno Augusto Ademir Quiló, 15 anos, quer fazer faculdade de Mecânica para trabalhar em algo mais focado em carro. “As aulas da Fabiane foram um empurrão pra eu continuar a focar nos estudos. Agora sabemos como fazer para buscar nosso sonho de forma mais prática”, ressalta. Ele conta que quer montar uma oficina para trabalhar com preparação de carro, customização, motor e acessórios. Já trabalha em uma oficina e quer continuar neste ramo, desenvolvendo projeto para maior proximidade com o cliente. Algo que quer aprimorar também é o trabalho em equipe
Paulo Dias Fernandes, representante da Acicla e coordenador do projeto
Núcleos Acicla
Este projeto é fruto do trabalho voluntário de empreendedores filiados à Acicla, os quais se organizam em Núcleos de acordo com a área de atuação. Para Rachel Vianna, diretora dos Núcleos Empresariais, esse projeto está muito alinhado com a missão da Acicla, de fomentar o desenvolvimento econômico e social de Campo Largo de forma sustentável por meio do associativismo.
“Na Acicla temos 11 Núcleos ativos e todos eles desenvolvendo ações. A Acicla Jovem é um núcleo de jovens empresários até 35 anos e escolheu abraçar esse projeto piloto e fomentar ainda mais o crescimento dele no município. Eu particularmente sou uma entusiasta nesse apoio e trabalho que os jovens vêm desenvolvendo. Esse apoio é primordial com objetivo de atingir ainda mais o público jovem e fomentar esse viés do empreendedorismo na prática dentro das escolas. Os jovens são o nosso futuro e o fato deles terem acesso na prática de noções de empreendedorismo e contato com o associativismo será um grande diferencial na vida deles. Desses jovens surgirão muitos líderes, empresários, gestores”, argumenta Rachel.
A Acicla está aberta a todos que queiram agregar de alguma forma, de somar com novas ideias e projetos para serem colocados em prática, assim como também cumpre seu objetivo de ajudar na capacitação de profissionais. A associação hoje vive um grande momento de pessoas cheias de atitude, que juntas estão pensando no desenvolvimento da cidade e das pessoas que dela fazem parte. A Acicla enxerga no empreendedorismo uma forma de prosperidade.
Para mais informações, o contato com a Acicla é pelo telefone (41) 3392-4544. Redes sociais @aciclacampolargo e site acicla.com.br.