Por 30 anos trabalhou na PIP, PEP e Lorenzetti, acompanhou de perto o desenvolvimento da empresa e conta com saudades da época que marcou a cidade
Um apaixonado pela região. Nascido na Colônia Mariana, com cerca de um mês de vida Beato Antônio Boaron (78) já foi morar com sua família no Botiatuva e de lá nunca mais quis sair, trabalhou, se casou e abriu a própria empresa, no mesmo terreno.
Conta que seu pai, Antônio Boaron, foi morar ali, mas não tinha emprego, o que foi conseguir meses depois na Estação de Enologia. “Era aquela luta danada no horário de folga, tirava a areia do Rio Cambuí para vender a areia, a minha mãe fazia os enxertos da roseira pra vender. Depois eles fizeram o pomar, vendia as maçãs - naquele tempo era o senhor Aldo que comprava, que tinha a casa de fruta. E a minha mãe [Lúcia] era parteira também”, detalha.
Ele lembra que a região ali era praticamente só mato e cita alguns primeiros moradores dali: Pedro Grou, o João Augusto, Paulo Campagnaro, Antônio Seguro e Antônio Carloto. Brinca que estudava pouco, mas que brincava bastante, principalmente no Rio Cambuí, com uma água bem limpa, gostava de pescar, também de jogar futebol em um campo que tinha ali. “Chegava o domingo, a gurizada vinha de todos os lados, do meio do mato, quando via tinha uns 15, 20 guris jogando bola. Era uma brincadeira muito, muito sadia. Aproveitei bastante a natureza”, diz, sem esquecer de citar seu amigo de infância Dalton Seguro, conhecido por Geada, que jogou no Internacional.
Beato estudou o primeiro e segundo ano na Estação de Enologia e depois foi para o Colégio Macedo Soares e também para o Sagrada Família, mas confessa que ia muito mal na escola e diverte-se ao lembrar das notas vermelhas, até que falou para sua mãe que ia trabalhar. Então entrou na Porcelana Industrial Paraná – PIP, aos 16 anos de idade. “Eu vi que não era aquilo também aí comecei a conversar com o diretor, que era muito amigo nosso, o João Stukas. E daí eu conversei com ele para me arrumar o serviço no escritório. Daí o senhor Rico Bordoni falou assim: ‘Você faz um curso de datilografia’. Eu fiz o meu curso de datilografia e auxiliar de comércio, daí comecei trabalhar na PIP, inclusive estava nascendo a PEP.”
Trabalhou por uns oito meses e precisou se ausentar para prestar serviço militar, onde ficou dez meses. Ficou conhecido pelas armações com madeira que fazia, mesmo sem ser carpinteiro. Depois voltou para a PIP na época em que aconteceu a fusão com a PEP, para trabalhar no faturamento, aprendendo a trabalhar com computador e processamento de dados. Lembra que o Zé Maria era diretor-presidente e era muito humano, de se preocupar com os funcionários e seus familiares, como também dava grande apoio ao esporte, até para jogar campeonato em Curitiba, do Sesi.
Lembra que antes destas empresas funcionava ali uma fábrica de louça do Seu Luizinho Puppi. Com a compra da empresa começou a crescer muito, mesmo em meio às dificuldades. “Foi indo, mas muito sofrido. Dia de chuva, estrada de barro, tinha que puxar com carroça o material lá em cima, terminando a subida pra daí passar esse material no Chevroletzinho 38. Quem dirigia era o senhor Vitor, que carregava as vezes e ia fazer entrega em Curitiba. Antigamente, na época não tinha telefone, então era sofrido”.
A PIP e PEP davam preferência para empregar que morava mais perto, então o bairro começou a crescer. Segundo ele, chegaram a ter em torno de cem funcionários na época, trabalhando com material elétrico, até que veio a proposta da Lorenzetti, que se interessou na compra e em São Paulo já atuava no ramo de material elétrico. José Maria remodelou toda a estrutura da fábrica antiga e então cresceu muito e impulsionou o crescimento da região junto. Também grandes empresas hoje em
Campo Largo surgiram com ex-funcionários da Lorenzetti, que foi uma grande “escola”. Ele cita a Enerbras, Artiz Matriz, entre outras e sua própria empresa, Telas Boaron, após 30 anos de empresa, já aposentado.
Seu irmão na época abriu uma fábrica de poste, a Vido Artefatos de Concreto, e então ele resolveu abrir uma de telas, que era uma demanda na cidade. Diz que tinha uma máquina precária e os funcionários machucavam a mão, então começou a passar óleo na mão pra tentar proteger, mas aí as telas pegavam pó. Conta que um período difícil, mas foi crescendo, também com ajuda da esposa. “Eu não peguei uma cadeira de embalo e sentei, sabe, eu comecei a trabalhar”, orgulha-se.
Contextualiza que depois a Legrand comprou a Lorenzetti e seu filho, Mário, prestava serviço para a Legrand em Manaus, até que estimulado por Beato começou a trabalhar junto na Telas Boaron e mais tarde também a filha Márcia e juntos trouxeram mais modernidade para a empresa.
“Olha, eu tinha bastante amigos, eu saí da firma, não tinha um inimigo, sempre foi assim. Eu gosto é de amizade. Sabe que enquanto eu trabalhava ali [PIP], a mulher me ajudava, ela ia fazer uma roça, levava as crianças, eu abri bar, tinha um bar lá embaixo, perto da fábrica, eu trabalhava pra vender roupa, cortava cabelo da turma aos sábados aqui, tudo sem sair da fábrica”, conta.
Sobre o crescimento no bairro, está esperançoso com os novos projetos no local onde era a Lorenzetti e também os novos empreendimentos imobiliários na região. Para isso, também diz que é um desafio o investimento em infraestrutura para atender o aumento de moradores no bairro.
Grande apreciador da história da cidade, Beato já compôs cerca de 20 músicas e entre elas uma em homenagem ao Botiatuva – um trecho ele canta no vídeo gravado com ele e disponível no Youtube da Folha de Campo Largo. Há muitos anos também se envolve em ajudar a Capela de São Roque e diz que no período que estava à frente do grupo de voluntários conseguiram construir um barracão grande e uma cozinha na igreja. “Aqui no bairro, todo mundo se conhece e somos todos amigos. Na igreja, nos encontramos com frequência e aqui no comércio, sempre há um amigo chegando. Graças a Deus, temos muitas amizades por aqui.”