Foram 14 caminhões de lenha e cerca de 30 dias para realizar este grande evento que atraiu milhares de pessoas de forma surpreendente e marcou a cidade
A lembrança ainda vem com muita empolgação e brilho nos olhos, mesmo se passando exatamente 30 anos. Foi em 1993 que a iniciativa de um grupo de voluntários e fiéis da Igreja Jesus Misericordioso, no Águas Claras, fez com que Campo Largo tivesse o nome registrado no livro dos recordes, o Guinness Book, dois anos depois.
Um dos idealizadores da fogueira foi o campo-larguense José Carlos Wesolovsky, que era envolvido com a comunidade da Igreja N.S. Aparecida, mas depois passou a apoiar a comunidade da Igreja Jesus Misericordioso, que era nova na região e estava iniciando seus trabalhos. “Faltava verba para construir uma igreja tão grande, uma das maiores capelas de Campo Largo. Foi então que tivemos a ideia de fazer um evento para chamar a atenção do público e arrecadar fundos, e a ideia da fogueira surgiu”, relata ele.
Outra pessoa envolvida foi o Marcos Spack, cunhado do José e que era presidente da capela na época. “Estava envolvido com essa turma meio louca aqui, meus cunhados, e foi daí que surgiu a ideia de fazer a fogueira. Como presidente da capela, me elegeram presidente da fogueira também, mas na verdade meus cunhados cuidavam mais do evento do que eu. Começamos a trabalhar para melhorar a comunidade da época, e a fogueira foi uma ideia para arrecadar fundos e fortalecer a igreja. Foram duas fogueiras desse tamanho na época, e conseguimos fazer o registro no Guinness Book. A fogueira era bem grandona e contamos com muito apoio, foi um evento marcante”, lembra.
Já eram montadas fogueiras menores para realizar eventos e arrecadar fundos para a Igreja, em média com uns 20 metros e que já chamava atenção. Mas esta foi especial e chegou aos 45 metros de altura. “Foi um trabalho árduo, que nos tomou mais de 30 dias. Foram necessários 14 caminhões de lenha para construir a fogueira, sem contar toda a estrutura que foi montada”, ressalta José Carlos.
Conseguiram doação de madeiras de um reflorestamento próximo e muitas pessoas começaram a doar pra ajudar. “Eu e o Marcos éramos um grupo, e cada um dava uma ideia e a gente somava. Para fazer a fogueira, o Felipe, que hoje mora em Santa Catarina, fez um desenho no chão com um pedaço de pau. O formato da fogueira tinha que ser cônica para diminuir a quantidade de lenha e se tornar menos perigosa. Foi tudo uma aventura, uma coisa maravilhosa, mas sempre pensando no risco envolvido. Planejamos tudo. Colocamos cabo de aço para fazer a sustentação dela e, para garantir a segurança, colocamos uma mangueira com água até no topo da fogueira com um reservatório de mil litros de água. Além disso, colocamos mais duas catracas para inclinar a fogueira em direção ao terreno do Francisco Krupa, que era vizinho ali da capela, caso desse algum imprevisto”.
José lembra que muita gente reclamou que a fogueira não queimava direito, mas o foco no momento era a altura da fogueira e que ela fosse segura para todos que estavam ali. “O fogo é uma coisa que você tem que pensar tudo antes, senão nem bombeiro, nem ninguém vai conseguir dominar. Quando víamos o fogo começando a aumentar, ligávamos a bomba e jogávamos água para diminuir o fogo”, detalha
Maior fogueira do Brasil - Guinness Book
Sem dúvida, esse foi um grande evento que marcou Campo Largo. “A construção da fogueira foi tão grande que fechou a cidade, e muitas pessoas não conseguiram entrar no dia da festa porque o trânsito não fluía. Foi quando decidimos ver se era possível entrar para o Guinness Book, e o Marcos Spack correu atrás e entrou em contato com eles. Eles disseram que nada tinha sido registrado nesse tamanho aqui. Nós construímos tudo sem um projeto prévio, sem nada. Foi tudo feito na base da ideia, da soma das ideias do grupo. Até mesmo pessoal do Rio de Janeiro, lá de Maricá, ficou curioso e nos perguntou quem era o engenheiro responsável pela fogueira. Nós respondemos: ‘Não, o engenheiro somos nós mesmos’”, explica José Carlos Wesolovsky.
No início a intenção não era registrar a fogueira no Guiness Book, era apenas criar algo grande para a comunidade. Mas quando perceberam que não havia registro no livro com estas proporções, decidiram tentar. Para isso, apresentaram uma série de documentos para comprovar e conseguiram apoio dos moradores, Cocel e Prefeitura.
“A premiação aconteceu em São Paulo, em um mega evento que contou com a presença de outros recordistas do Guinness, como o Beto Carreiro. A fogueira marcou a cidade e a vida de todos nós que participamos da construção. Por 13 anos seguidos fizemos a fogueira, mas depois os Bombeiros proibiram a prática na região, por conta do risco e do grande número de pessoas e casas próximas”, conta Marcos. Eles não têm conhecimento se outra fogueira foi registrada depois no Guinness Book, mas em anos seguintes outras fogueiras maiores foram construídas em outras cidades. Mesmo assim, sempre quando chega junho ou julho os campo-larguenses têm orgulho de dizer que aqui já teve a maior fogueira do Brasil.
Resultado
A grande festa trouxe visibilidade para o município e também foi arrecadado um bom valor para ajudar a capela. “Graças a Deus foi feito piso na Igreja e uma boa melhoria foi feita, incluindo um mosaico. Depois, a igreja se tornou muito procurada. Muitas graças foram recebidas ali, inclusive eu, que fiz uma cirurgia muito grande e, na época, as chances de sucesso eram de apenas 5%. O médico disse que era muito arriscado, mas eu disse que acreditava em Deus e que tudo daria certo”, finaliza.