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Paróquia Santa Cecília: 52 anos de uma igreja construída a várias mãos e com muitas bênçãos

Uma comunidade unida e alegre, com belas histórias e testemunhos para contar, a Paróquia Santa Cecília, no bairro Itaqui, começou a movimentação em 1969.

Paróquia Santa Cecília: 52 anos de uma igreja construída a várias mãos e com muitas bênçãos

Uma comunidade unida e alegre, com belas histórias e testemunhos para contar, a Paróquia Santa Cecília, no bairro Itaqui, começou a movimentação em 1969. Inicialmente pertencente à Paróquia do Bom Jesus, hoje constitui uma paróquia independente, há pouco mais de 20 anos.

“Era um terreno grande, que não tinha nada. Quem doou para a igreja este terreno para a paróquia do Bom Jesus foi a senhora Mercedes Puppi Schimaleski, com a condição de que ali fosse um local dedicado à Santa Cecília. Ela havia conversado com o Padre Francisco Gorski, para que ele escolhesse um lugar para implementar uma igreja, e ele achava que o Itaqui estava crescendo muito. Foi feita uma reunião na sala da minha casa, em frente a este Coração de Jesus, junto da comunidade, para decidir o local, o dia e a hora. Embora tenha demorado alguns anos, a igreja foi concluída com sucesso”, relembra dona Helena Stroparo, uma das pioneiras na construção da Paróquia Santa Cecília.

Ela recebeu a Folha de Campo Largo na sala em que esta primeira reunião aconteceu, ainda em 11 de dezembro de 1969. Hoje, a Igreja Matriz Santa Cecília está localizada na Rua Sergipe, nº 310, no bairro Itaqui, Campo Largo, conforme idealizado pelos seus construtores.

“Mesmo o bairro sendo mais humilde, todo mundo era muito unido e ia colaborando conforme conseguia. Fazíamos bingos, festas e vendíamos bolo para arrecadar o dinheiro necessário para a construção da igreja. A Prefeitura e um deputado também ajudaram um pouco na época. Quando Dom Pedro Fedalto veio benzer o terreno, ele disse que iria arrumar um engenheiro para fazer a planta da igreja. O engenheiro foi o Dr. João Puppi, que era irmão da dona Mercedes, doadora do terreno”, relembra dona Helena.

Ela conta que foi começada a obra da igreja. A família Stroparo estava sempre envolvida com a construção da mesma. O marido da dona Helena, senhor José Stroparo, foi escolhido como presidente da comissão da igreja, cargo que ocupou por oito anos, junto a mais fundadores. Estes oito anos foram dedicados à construção da igreja, com as missas realizadas em uma barraca no terreno, festas realizadas neste espaço.

Dom Pedro acompanhou toda a trajetória da igreja. Conforme contam, no dia 08 de fevereiro de 1970 estava marcado para vir a Campo Largo o Bispo Dom Manuel da Silveira Obu, que faleceu uma semana antes e quem o substituiu foi Dom Pedro Fedalto, que era auxiliar do Dom Manuel. “Quando ele fez o sermão, pediu desculpas porque não estava com a voz boa e nem com o espírito bom para falar ao público, pois este era o primeiro sermão que fazia depois do falecimento do Dom Manuel. Ele sepultou Dom Manuel no sábado à tarde e veio rezar a missa no domingo pela manhã”, comenta Dona Helena.

A construção
Segundo o livro do Jubileu de Ouro da Santa Cecília, publicado em 2020, durante o período de construção a comunidade se reunia para rezar e celebrar a Eucaristia numa pequena barraca construída de madeira e coberta por lona. A construção teve início em 03 de maio de 1971 e levou 12 anos de trabalho intenso da comunidade humilde e trabalhadora para ser concluída em 23 de janeiro de 1983, com missa festiva e bênção de inauguração presidida por Dom Pedro Antônio Marchetti Fedalto, Padre Tadeu Baniowski e Padre Boleslau Liana.

“Sábado e domingo a comunidade inteira ia trabalhar na obra. Os homens iam para o mato, serrar bracatingas e fazer andaimes, caminhões traziam areia da Balsa Nova. Tudo doado”, completa dona Helena. Sua filha, Eliane Stroparo, comenta que a comunidade ajudava trabalhando na festa. Muitas pessoas levavam o que tinham em casa, como fogão, formas, mesas, cadeiras. Tudo o que tinham em casa eles emprestavam para ajudar na festa, pois queriam ver a igreja crescendo”, reforça.

Até mesmo pessoas que eram de outras fés ajudavam. “Na época nós fazíamos 200 bolos para vender, com todos os ingredientes doados. Tinha uma alemã, bem alta, da igreja Luterana, que abria a casa dela para nos ajudar a fazermos os bolos e deixava usar o forno. Esta é apenas uma pessoa, mas foram várias pessoas de outras religiões que se empenhavam. Até para marcar o terreno, foi o seu Frederico e o seu Udo que fizeram e também eram da luterana”, relembra.


Eliane e dona Helena Stroparo

A construção da igreja também chama atenção, pois ela possui quatro frentes. Dona Helena explicou: “Seu Frederico queria que a igreja ‘olhasse’ para a Schmidt. Outra pessoa achava que a frente teria que ser para o asfalto, mas outro achava que a outra rua era melhor. O padre Dom Pedro então achou que seria melhor fazer a igreja com quatro frentes para atender o desejo de todos”.

A direção da Schmidt não entrou na comissão da igreja, conta a Eliane, mas sempre estavam atuando como conselheiros. “Quando precisava tomar uma decisão, a comissão se reunia e a direção da Schmidt também auxiliava, porque era uma referência dentro do bairro. Sempre teve essa união, essa partilha por parte deles e da Santa Cecília. Ainda hoje, existem cultos ecumênicos, em que a Santa Cecília chama os luteranos e ao contrário também já aconteceu.”

Essa união também acontece com a Presbiteriana, presente há mais de cem anos no bairro, que atua em conjunto em benefício da comunidade. “Essa partilha, essa união entre as religiões existe dentro do nosso bairro. Não há ‘rixas’ ou ‘disputas’, mas há pessoas trabalhando em conjunto por um propósito maior que é o bem comum”, ressalta Eliane.

Primeira comissão
O livro sobre o Jubileu de Ouro da Igreja Santa Cecília traz os nomes de Herculano Schimaleski, Fritz Erwin Schmidt, Udo Schmidt, José Stroparo, Floriano Pascoal Rossoni, Amilton Pedroso, Orlando Adamante, Emílio Z. Cazarim e José Vilsek.

Foram conselheiros: Udo Schmidt Filho, João Stroparo, Walter Schmidt, Francisco de Oliveira, João Campesi, Renato L. Bülow, Moisés Natel Portela, Darci Cordeiro de Souza, João Batista Feltrin, João Batista Zanetti,

João Antonio Poleto, Carlos Ripka, Luiz Malinoski, Vitorino Barausse, Hercílio Moro, Carlos Kupka, Pedro Bianco, Pedro Augustin, José Franquito, Cristiano Bonato, Frederico Magatão, José Bianco, Ari Chemim, Oswaldo Falarz, Gastão Xavier Küster, José G. Xavier Küster.

O altar
Passado o momento de construção, chegou então a ornamentação da igreja. O grande vitral de Santa Cecília foi doado pela antiga Auto Cecília, da família Zanlorenzi. Foram 25 anos até a conclusão, visto que essa é a parte mais cara.  “Eles tinham a revendedora de carros. Uma moça luterana foi pedir, ela era muito amiga deles, e eles doaram a santa. A Móveis Campo Largo também ajudou muito, assim como outras empresas contribuíram muito”, conta dona Helena.

Padroeira e co-padroeira
Segundo o livro sobre o Jubileu de Ouro da Paróquia Santa Cecília, “a primeira festa foi agendada para 08 de fevereiro de 1970, dedicada à co-padroeira Nossa Senhora de Lourdes, com missa festiva e cerimônia de bênção da pedra fundamental celebrada por Dom Pedro Antônio Marchetti Fedalto e Padre Francisco Gorski”. Isso aconteceu porque quando aquela reunião inicial foi feita, ficou decidido que iriam começar o quanto antes a movimentação para a construção, não tendo como esperar até 22 de novembro, data em que é comemorado o Dia de Santa Cecília para iniciar.
A primeira festa então foi feita em comemoração ao Dia de Nossa Senhora de Lourdes, dia 12 de fevereiro. Então sempre existiam duas festas no ano.

Grupo Jovem e o surgimento da Procissão ao Taquaral
Muitas crianças cresceram junto da construção da igreja, especialmente foram criadas enquanto seus pais estavam atuando nesta obra. Eliane comenta que por muitos finais de semana, o passeio da família era conhecer outras igrejas e captar referências para a Santa Cecília. “O grupo começou mais ou menos em 1985. Depois que a igreja se levantou, foi o momento de pensar nas pastorais, movimentos, na igreja viva.

As pessoas começaram a fazer cursos para saber como atuar na liturgia da igreja, pois ainda não tinham este conhecimento. Era o padre Francisco Gorski que ia auxiliando. Ele acabou sendo transferido e no Bom Jesus veio uma ordem de padres poloneses, e consequentemente também vieram para Santa Cecília, pois ainda não éramos paróquia. Nós temos muito destas influências, pois eles acabaram formando a comunidade, dizendo o que precisava ser feito”, relembra Eliane.

Junto com os padres, vieram as freiras polonesas, que atuavam no grupo de jovens.  As irmãs Ana Klimczak e Irmã Ursulina, que eram polonesas, eram envolvidas com os jovens.
Em publicação realizada pela Folha de Campo Largo, em outubro de 2022, e com informações repassadas pela própria Eliane, conta que a história da Romaria da Paróquia Santa Cecília em louvor à Nossa Senhora Aparecida tem seu marco inicial o ano de 1981, quando o grupo de jovens da Capela Santa Cecília aceitou o desafio de realizar uma caminhada.

“A data agendada precisou ser adiada e enquanto o grupo se preparava e aguardava a nova data, foram surgindo intenções externas ao grupo, de participação. O dia 11 de outubro de 1981 era um domingo, no dia seguinte era feriado e todos poderiam descansar. Era grande o número de devotos que participaram caminhando, orando, louvando e agradecendo. De uma simples caminhada planejada pelo grupo de jovens, aconteceu a 1ª Romaria da Comunidade Santa Cecília e Paróquia Senhor Bom Jesus em louvor à Nossa Senhora Aparecida”, destaca em texto enviado à Folha à época.

Ainda conforme o histórico, inicialmente a romaria teve como destino a Capela Nossa Senhora da Conceição, no Tamanduá, em Balsa Nova, repetindo-se neste local por mais dois anos. No quarto ano a romaria teve como itinerário a Capela Nossa Senhora Aparecida, no Rodeio Chapada, em Balsa Nova. Foi a partir do quinto ano que o destino da Romaria foi a Capela Nossa Senhora Aparecida, no Taquaral, local que permanece até hoje.

A tradição da romaria se tornou um ato de fé e devoção, não somente aos fiéis católicos campo-larguenses, mas de outras regiões e mesmo de outros estados. Conforme relata Eliane, participam da romaria aproximadamente de cinco a dez mil pessoas que caminham para cumprir promessas, render graças, louvar e bendizer a Nossa Senhora Aparecida, como é feito até hoje.

De seminarista a bispo
Dom Celso Antônio Marchiori é lembrado com muito carinho pela comunidade precursora da paróquia Santa Cecília. Elas contam que quando ele ainda era seminarista, auxiliou muito a comunidade. “A história do Dom Celso se mistura com a da Santa Cecília. Ele sempre diz que na primeira missa que foi realizada na Santa Cecília, ainda no ‘banhado, naquele campo limpo’, foi o momento que nasceu a vocação dele. O mesmo Dom Pedro Fedalto que rezou a primeira missa neste terreno, também ordenou ele como padre e depois como bispo”, diz dona Helena.

Eliane comenta que durante os finais de semana Dom Celso voltava do seminário para auxiliar na igreja, formando coral de crianças, auxiliando na catequese e sempre junto da comunidade. “Todo mundo rezava muito pelo Dom Celso, sempre pedindo para ele perseverar na vocação como padre e até hoje, como bispo, colocamos o nome dele nas nossas orações e rezas”, completa.  



Dona Helena
Dona Helena tem 92 anos e uma lucidez e memória louváveis. Sempre anotou toda a história da Santa Cecília em agendas, inclusive marcou sobre a visita da Folha de Campo Largo, em entrevista sobre a igreja, no dia 01 de fevereiro de 2023. Durante 40 anos, frequentou os encontros realizados nas quartas-feiras. Trabalhava no armazém da família, onde tomou muitas decisões sobre a igreja. “Nós vendíamos rifas, cobrava o dízimo e fazíamos reuniões ali no balcão do armazém. Era quase uma secretaria da igreja”, relembra dona Helena.

“Depois que virou paróquia tudo mudou, pois há uma secretaria. Enquanto era capela, era feito desta forma, pois eram os fiéis que iam conduzindo a igreja”, diz Eliane.
Além das agendas com os relatos, Dona Helena ainda guarda o primeiro carimbo da igreja com muito zelo e carinho.