A igreja simpática, em uma das principais ruas do bairro Itaqui, não é nada recente.
A igreja simpática, em uma das principais ruas do bairro Itaqui, não é nada recente. Pelo contrário, foi fundada há mais de 100 anos e mantém sua relevância na região ainda mais nos dias de hoje. A Igreja Presbiteriana Independente do Itaqui iniciou seus trabalhos em 29 de dezembro de 1889, anterior ainda à fundação da União da Igreja à Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, que foi fundada em 31 de julho de 1903, em São Paulo, capital. Em Campo Largo, a organização da igreja começou com 52 membros transferidos da igreja de Curitiba, sob responsabilidade do Reverendo Modesto Perestrello Barros de Carvalhosa.
Segundo histórico da igreja, o primeiro nome da lista de fundadores é o de Lourenço Firmino de Souza, que dedicou a sua vida a ensinar a ler, permanecendo em um lugarejo de oito a 12 meses, até que algumas pessoas ficassem sabendo a ler. Ele trabalhava de dia e de noite, com turmas diferentes, e durante dois anos foi professor público, sendo demitido em 1886 por se ter convertido à religião evangélica, estando documentado que “Ele que já era republicano e abolicionista, se fizera protestante”.
Nesta época, o prédio era bastante simples, de madeira, e reunia a comunidade. “Quando ela surgiu, houve uma doação da área que temos até hoje, para fazer uma igreja, uma escola e um cemitério. A única coisa que não fizemos foi o cemitério (risos). Na área começaram as reuniões, construíram uma casinha de madeira, tudo bastante simples, e os frequentadores eram especialmente ligados à agricultura. Sempre nos reunimos aqui, é a nossa sede, sempre com este engajamento”, declara o pastor titular da IPI Itaqui, Celso Manoel Machado.
Como a igreja é a única Prebiteriana Independente em Campo Largo, há muitos membros de outras regiões que frequentam os cultos, inclusive de Curitiba e Balsa Nova, porém a maioria dos membros são do Itaqui e bairros próximos. A média de pessoas frequentando são entre 200 e 300 pessoas, mas membros são 460 pessoas. As transmissões de culto são feitas via internet, que também têm grande audiência.
Educação é um braço forte da igreja
O pastor Celso comenta que as igrejas históricas valorizam a questão do trabalho envolvido na Educação e serviço à comunidade. Foi então, na década de 1990, que começou a ser cogitada a abertura da igreja para integrar a comunidade também nos dias de semana. “Nós tínhamos a igreja com algumas salinhas ao fundo e pensávamos o quão triste era ter este espaço todo para funcionamento em apenas um dia da semana, que eram nossos dias de culto. Então, fizemos uma pesquisa para ver o que era necessário na comunidade, quando descobrimos que as mães que trabalhavam na fábrica de produção de louças precisavam deixar as crianças na creche, voltar para trabalhar e ir buscar no Centro no final da tarde”, relembra.
O pastor Celso participou da implementação da escola/creche, que foi inaugurada em 25 de março de 1996 e recebeu o nome de Creche Diva Ferreira Reinke. Inicialmente foram abertas 28 vagas e lotaram imediatamente. Posteriormente, abriram mais 20 e lotou em pouco tempo novamente. A conversa e a parceria com a Prefeitura evoluiu e hoje a instituição, que é escola municipal, tem quase 500 alunos.
A escolha do nome também foi pensada com muito carinho pela comunidade. Conforme conta o pastor, a dona Diva era uma sonhadora que trabalhava com crianças e tinha o desejo de ampliar o que já era desenvolvido dentro da igreja. “Quando começamos a creche, foi lembrado o nome dela para homenagear. Ela não viu a escola, pois já era falecida na época, mas, embora tenham mais pessoas envolvidas neste projeto com as crianças, ela se destacava com tamanha dedicação. Ela era membra da igreja e estava sempre bastante envolvida nos trabalhos desempenhados, com certeza se orgulharia dos avanços feitos pela IPI no Itaqui e em toda Campo Largo”, completa.
Este não é o único trabalho desempenhado pela IPI Itaqui ligado à Educação. No ano de 2019, por exemplo, foi ministrado o Curso de Educação de Filhos nas escolas municipais, pelo pastor Sérgio Kariya. “Nós fizemos um projeto educativo, sem caráter religioso, que se expandiu para toda a rede municipal. Muitos frutos foram colhidos, com a abertura para que novos projetos possam ser realizados no futuro”, comenta o pastor Sérgio.
O pastor Marlon Bruno Henrique também desenvolve um projeto de capelania, voltado aos jovens, onde um dia da semana, de maneira voluntária, vai até os colégios para conversar com eles. “Este tempo é precioso. O início foi bastante tímido, mas conforme eles foram descobrindo essa possibilidade de conversar e desabafar sobre seus problemas sem julgamento, a adesão foi ficando cada vez maior, chegando a gerar filas de estudantes aguardando seu momento de ser atendido”, conta o pastor Marlon.
Associação Betesda e projetos sociais
Percebendo as necessidades dos membros e principalmente da comunidade próxima à IPI Itaqui, no ano de 1995 foi instituída a Associação Betesda. A percepção veio principalmente porque, embora a igreja seja uma instituição sem fins lucrativos, ela tem um viés religioso, então para conseguir dialogar com a sociedade sem ficar preso à religiosidade, percebeu-se a necessidade de criar uma instituição voltada à comunidade em si.
Por muitos anos, ela era a responsável pela manutenção da escola e dava todo o suporte necessário. Entretanto, há cerca de três anos, a comunidade começou a olhar para ela com outros olhos, pensando em como expandir serviços gratuitos para a região do Itaqui. “Começamos a fazer oficinas de contraturno para as crianças, envolvido com o CEU do Meliane. O pastor na época ia dar aulas de futsal para as crianças e começaram a vir muitos interessados, chegando a 20 crianças aproximadamente”, retrata o pastor Celso.
Com a vinda do pastor Marlon, que é ligado à juventude, essa ideia se expandiu mais ainda. Hoje, todos os dias a igreja está aberta, não apenas para a realização de cultos, mas para atender a comunidade em si. “Queremos ser uma igreja com a cidade. Alguns sistemas religiosos se ausentam da sociedade e ficam apenas no metafísico-espiritual, e nós percebemos que o que acontece em nossa cidade é também problema nosso. O evangelho que pregamos tem por objetivo transformar a realidade da pessoa e do local em que ela vive”, acrescenta.
O ano de 2022 ficou marcado na história como o ano da consolidação dos projetos sociais da Associação Betesda. Em 2023 são oito oficinas e uma média de 300 crianças passando por elas por semana. “À princípio, pós-pandemia, tínhamos três oficinas, que foram foi se expandido, popularizando. Conseguimos contatos com professores e educadores que aceitavam na hora participar. Tudo foi tomando forma, grande proporção, quando no final de 2022 pudemos contemplar este número alto. Além disso, temos uma média de 50 famílias que são atendidas com alimentos e também com auxílio de assistente social, educadora e pedagoga recebem orientações importantes. Já era um sonho de um formato e que nós apenas alavancamos, aproveitamos o espaço e alçamos voo”, relata o pastor Marlon.
Em 2023 estão previstas as oficinas de Basquete, Futsal, Karatê, Jiu Jitsu, Muay Thai, Capoeira, Espanhol, Botânica – vinculado à Escola Municipal Diva Ferreira Reinke, feito por um dos membros da igreja. O Basquete e o Muay Thai são os mais procurados, com 40 e cerca de 50 alunos em 2022, respectivamente, além do contraturno, que também tem bastante procura.
Juventude forte
“Ter uma comunidade com mais de 130 anos de história, com uma escola e tantos projetos vinculados, é algo bastante raro, especialmente funcionar da forma como tudo é conduzido. Quando eu cheguei aqui foi que eu entendi o que realmente era a igreja. Chegar aqui foi uma grande mudança, mas tudo aconteceu de forma muito leve. Encontrei uma igreja bastante forte no aspecto jovem, com mais de 100 adolescentes, por exemplo, o que dá vida à igreja”, descreve Marlon.
O convivo com classes sociais diferentes, das comunidades às áreas mais nobres, apontam para diferenças na criação e nos desafios eles enfrentam – ligadas especialmente a situações familiares, questões financeiras, sexualidade, entre outros. Este não é um empecilho para que eles tenham laços fortes de amizade e andem no mesmo propósito. “Essa é uma igreja que irá crescer cada vez mais, pois a infância, adolescência e juventude têm base forte, que conhece sua história, suas raízes, com orgulho e bênçãos de Deus”, finaliza o pastor Marlon.